Manuelinho, futurólogo
COM O ALTO PATROCÍNIO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E DAS ALTAS INDIVIDUALIDADES DA NAÇÃO.
UM TEXTO APOCALÍPTICO E CONFUSO, ESCRITO POR UM INDIVÍDUO DE BAIXA EXTRAÇÃO SOCIAL, SEMIANALFABETO, QUE TINHA UM CÃO QUE ACHAVA QUE NINGUÉM DEVIA SER IMPEDIDO DE ACEDER AO BEM-ESTAR E QUE ISTO É O CERNE E UM DILEMA CIVILIZACIONAL. IGUALMENTE TINHA A OPINIÃO DE QUE O SER HUMANO POSSUÍA UM PROBLEMA DE ENTENDIMENTO. QUANTO VALE A PESSOA? EIS A QUESTÃO. A QUALIDADE DE VIDA É A MEDIDA DA CIVILIZAÇÃO E O RESTO É CONVERSA FIADA, DISSE NÃO SEI QUEM. ONDE HÁ FALTA DE BEM-ESTAR, EXISTE UM PROBLEMA DE DIREITOS HUMANOS, OU NÃO? O VIVER COM DIGNIDADE E A JUSTIÇA SOCIAL SÃO IMPORTANTES?
Um dito chinês afirma que quando o sábio aponta para o céu, o pouco inteligente só consegue olhar para a ponta do dedo. A D. Arlete pergunta se Portugal é um país falhado. A humanidade vive os seus derradeiros dias e o último que apague a luz? Há algo de muito errado com o ser humano? O Homo sapiens é estúpido e isto é uma variável importante e estrutural do seu comportamento. Esta tese da frustrada da minha mulher-a-dias deita qualquer um abaixo e vamos começar pelo começo. Ela também acha que é bastante difícil uma pessoa mudar de ideias. Tendemos a raciocinar em circuito fechado. Tomando nós como exemplo, cada um aferra-se à sua verdade e dali não sai, mesmo que os factos contem outra narrativa. O velho pensar resiste sempre, até ao fim. A rigidez mental é um problema. Depois de uma pessoa estar formatada, é custoso alterar a situação. Tal facto mostra que a educação é crucial, pois de pequenino se torce o pepino.
A epopeia da humanidade tem sido um desfile de horrores, uma história infame, com uma qualidade de vida próxima do zero, para a maioria da população. Muitos nascem e não são felizes para sempre. Também a fúria da guerra não tem dado descanso. O direito a viver em paz não está garantido. Este Mundo não é um paraíso, mas, de muita sacanagem, diz a minha prima Adelaide. No Brasil, conta a minha mulher-a-dias, uma das atividades económicas do crime organizado é a falsificação de bebidas alcoólicas, por exemplo, com metanol. Devido a isso dezenas de pessoas ficaram cegas e depois morreram. Na natureza os seres vivos devoram-se uns aos outros. A História é, em grande parte, "as coisas doidas que o selvagem do ser humano faz com o seu semelhante" (conflitos de conquista, trabalho forçado, etc.). Não se pode naturalizar tal. Que os ventos da guerra nunca deixem de soprar, defende Carlos Simões, residente em Ranholas (Sintra). Para ele a violência é uma extraordinária invenção da humanidade e o sofrimento purifica. Falando em termos mais técnicos, a minha mulher-a-dias sustenta que o ser humano vive na entropia e que o progresso é a diminuição dessa entropia. A informação correta é a ferramenta para a baixar. A qualidade de vida depende da qualidade da informação que uma sociedade possui. Há que ressignificar as coisas. Para o meu cão, o Homo "sapiens" tem de passar do estado de natureza ao de civilização, através da cultura. O capital intelectual é importante (património imaterial). O Mundo não tem de ser o das bestas, nem um vale de lágrimas. A atual qualidade do software intelectual do ser humano deixa muito a desejar, é disfuncional. Falhar a educação é adiar a civilização, o bem-estar. É necessário existir massa crítica intelectual. Mais, o pré-escolar e os primeiros anos de escolaridade são essenciais para o desenvolvimento mental. É uma janela de oportunidade que não se pode perder. Não há omeletes sem ovos, afiança a D. Gertrudes. A ignorância, só por si, leva a uma visão redutora do real, incapacita apreender a sua complexidade. Júlio Santos, de Cascais, considera-se uma pessoa mal formada e elucida-nos que para ele o Mundo começa e acaba no seu umbigo. É pelo futuro em marcha-atrás. Sonha com um País magistral asfixiado na pobreza, violência e corrupção (caos social), numa luta de todos contra todos, como acontece em muitas zonas do Globo. Uma distopia. É pelo falhar das instituições e colapso das sociedades. Atreve-se a defender que a barbárie tem de ser levada ao extremo. O mal deve consubstanciar-se na política. As trevas terão de prevalecer, apesar de ser um apreciador de pensamentos elevados. Para isso há que radicalizar a sociedade, inflamar os ânimos, como fez Trump, aquando da invasão do Capitólio, em 2021, pelos seus democráticos apoiantes e que fez vários mortos.Trata-se da estratégia do confronto e da quebra de civilidade. É importante baixar o nível do debate político. O insulto e a boçalidade devem substituir o debate de ideias. É desejável chegar a vias de facto, como acontece em alguns parlamentos. Num debate televisivo para a eleição do prefeito de S. Paulo (Brasil, 2024), um dos candidatos deu uma cadeirada num adversário. Mais tarde o agredido forjou um laudo médico falso sobre outro candidato, onde se dizia que o referido adversário já tinha sido internado por consumo de cocaína. E são estes os candidatos à prefeitura da maior cidade da América Latina. Surreal. O Admirável Mundo da Venezuela, governado por imbecis, por pessoas não normais, é um bom exemplo a seguir. A fraude, neste país, nas eleições de 2024 goza com a inteligência de uma criança. A convencida da minha mulher-a-dias, uma estudiosa da Álgebra Linear, pensa que fez uma importante descoberta, quase científica: o ser humano tem o Diabo na cabeça. Alguns exemplos, nos Estados Unidos, após a abolição da escravatura no séc. XIX, a cristã Igreja Batista do Sul apoiou a discriminação racial dos negros, isto depois de ter antes defendido a escravatura dos ditos, tal como a cristã Igreja Presbiteriana. Dirigentes desta tinham sido proprietários de escravos. Os negros eram considerados uma raça inferior (violência simbólica). Três bulas papais de Nicolau V e Calisto III (séc. XV) autorizam os cristãos portugueses a combater e condenar à "perpétua escravidão" os infiéis e pagãos, em África. Ou seja, vale tirar olhos. Chama-se a isto ser indiferente ao sofrimento dos outros. Tal foi decretado sem quaisquer problemas de consciência, com a maior das naturalidades (banalização da violência e do mal). Quando os interesses falam mais alto, os valores são esquecidos e a vida que segue. Os fins, quaisquer que sejam, justificam os meios. Uma prática religiosa sem ética tem pouco valor e este Mundo cheira mal, defende a D. Deolinda, uma vizinha minha. O banco Credit Suisse (2021) considera 1% da população do Planeta rica, 11% classe média, 33% pobres e 55% miseráveis. Um Admirável Mundo Novo, que não comove muitos. Isto é insustentável, desafia a lógica e é insano. Tem de haver uma saída. A condição humana não é e não tem sido famosa. Que não haja cegueira intelectual quanto a isto. É difícil não ver a girafa na sala. O que faz com que o nome de Deus seja usado para políticas de violência? Por que muitos fascistas colocam a máscara do patriotismo? pergunta a D. Francisca, de Marvão. Por vezes, é bom parar para pensar. A compreensão da realidade é importante? O ser humano parece não aprender com a História. É triste, mas, verdade. O cantor Leo Ferré dizia que para vender a infelicidade basta encontrar a fórmula certa.
Ana Faria, de Aveiro, que se considera uma pessoa com altíssima sensibilidade social, é a favor de uma sociedade dividida, em que uns têm qualidade de vida e outros não, como na dança das cadeiras, em há sempre alguém que fica de fora. João Teles opina que se aceita a existência de pessoas sem bem-estar, temos o caldo entornado.
O como cada pessoa enxerga a realidade é relevante e vê-la apenas pela rama, ou ter um pensamento superficial acarreta consequências. As ideias nobres têm muita força, uma ova. Isso da lucidez tem que se lhe diga. Não é feliz quem quer e não existe civilização quando há pessoas sem bem-estar. Esta é uma grande verdade, para a minha mulher-a-dias, que só gosta de abordar temas fraturantes. Também para ela, se não se fizer um Planeta onde todos tenham uma existência aprazível, as coisas podem correr mal e um Mundo governado por interesses e não por princípios tende para o caos, sem exagero. Lúcio Santos pergunta se existe o certo e o errado, ou tudo é uma questão de ponto de vista (teoria da relatividade). João Paiva considera os lusíadas uma cambada de infelizes. Num estudo de 2016, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, 73% dos nossos compatriotas com mais de 50 anos afirmaram que tinham tido pouca qualidade de vida durante a sua existência. Trocando por miúdos, para muitos a vida tem pouco sumo. Por isso se diz "Ir desta para melhor". João Pote afirma que está pouco se lixando para a igualdade de oportunidades. Quer é ter qualidade de vida. Os portugas têm falta de inteligência coletiva? Damásio Santos não tem dúvidas. Sustenta que uma nação onde grande parte das pessoas não possui bem-estar é disfuncional. Algo não está bem. Trata-se de uma ineficiência civilizacional. Portugal está longe de ser um país de excelência. O número de indivíduos das castas inferiores é grande. Estamos perante uma sociedade dual. Muitos cidadãos estão proibidos de alcançar uma existência com dignidade. Isto ofende a inteligência e é estrutural. Neste sentido Portugal é um país medíocre, arcaico. Não é possível defender o indefensável, mesmo com lógicas retorcidas muito elaboradas. A democracia económica é tão importante quanto a democracia política. A forma não pode substituir o conteúdo, evidente. Tem de haver uma reconfiguração mental, mesmo uma revolução intelectual. A verdadeira produção de riqueza é a feitura de qualidade de vida. Há que assentar os pés na terra. Isto é uma guerra cultural a levar a cabo, para a minha mulher-a-dias. Ela, que é mais ligada a essas coisas da religião, garante que a vontade dos deuses é construir uma sociedade em que todos tenham uma existência aprazível. É preciso que se faça aquilo que nunca foi realizado, disse alguém. Há que ousar. Para a minha prima Rosalina o direito à qualidade de vida devia estar consagrado na Constituição, pois com a ciência e a técnica não há razão para uma pessoa não ter bem-estar. Com um pensar "medieval" não se vai a lugar algum, remata.
A "ditosa Pátria minha amada" não é para qualquer um. Este estado da Nação é fantástico, capaz de nos empolgar. O ser humano vive em sociedade, mas isso não quer dizer que todos saiam beneficiados (batota social?). Portugal é um país por fazer. Para a minha mulher-a-dias, não se pode naturalizar a pobreza e a falta de bem-estar. Existe vida para além disso. Não se deve aceitar o errado como certo (inversão de valores). É anacrónica uma sociedade dividida em pobres e não-pobres, em cidadãos de primeira e de segunda. Dizem que a justiça é a porta da paz. Por isso a questão social tem de ser resolvida. Se a economia de mercado é eficiente por que não consegue acabar com a indigência em Portugal? Onde está a magia do mercado? pergunta a D. Lurdinhas, na sua ingenuidade. A conta não bate certo. A questão social tem de ser resolvida. Não pode ser jogada para debaixo do tapete. Esta ferida deverá ser sarada. A modernização do País passará por tal. Que não se perca de vista o foco e não vingue uma cultura do atraso. Segundo a minha mulher-a-dias, o Brasil é um bom exemplo do que pode acontecer se a questão social não for sarada. Quem tem qualidade de vida dificilmente quererá assaltar bancos. A segurança pública não se resume ao aspeto policial. Os problemas previnem-se. Para ela o Brasil é um laboratório social. Soares Lopes acha que o ser humano deve estar ao serviço da economia e não o contrário. Os salários de pobreza são legítimos e necessários, para a eficiência económica. Jura que não se trata de uma maldade. Alguém que realiza um trabalho útil para a sociedade não tem de ter direito a um renumeração que lhe traga qualidade de vida, ainda para mais se a tarefa que realiza for etiquetada de baixa produtividade. Os mais desfavorecidos têm de ter paciência. Também não é verdade que a pobreza gera pobreza, um círculo vicioso. Para finalizar, recomenda a introdução em Portugal do sistema chinês 996, ou seja trabalhar desde as 9 da manhã até às 9 da noite, 6 dias por semana. Como disse alguém, sobreviver é viver e que não se aposte no cavalo errado. Joana das Neves sustenta que se numa sociedade houver demasiadas pessoas que vendem a alma ao Diabo, a vida fica difícil.
A razão de ser da informação é a qualidade de vida. É importante a produção e a gestão da informação. O lixo comunicacional, as ideias tortas têm pouca utilidade. Para a minha prima Juliette, a distância mental entre um civilizado e um bárbaro é enorme e o que os distingue é a falta de humanidade deste. A tortura é coisa de selvagens. Alguém com o pensar avariado é perigoso. Hitler é um exemplo de uma pessoa tóxica e o dia terá de vir em que as armas se calarão para sempre. Há que banir o sofrimento da face da Terra. Muitos alemães adoraram Satanás, segundo ela. Bastantes vezes o errado e a maldade são subtis, não se apresentam como tal e existem muitas mentes venenosas, verdadeiro lixo. Devido a tal, o Mundo está perdido, é um barco furado, vive uma situação emergencial, sustenta o exagerado do meu tio Henrique. O pouco avisado do ser humano está lançado às feras, reforça ele. Também os interesses funcionam como chaves cognitivas. Existe quem não enxergue o que está à frente do nariz. Por isso se diz que não há maior cego do que aquele que não quer ver (cegueira intelectual). Existe quem olhe a realidade de uma forma deliberadamente distorcida e não tenha compromisso com a verdade. Esta é sempre perseguida pela mentira. Vivam os pobres de Portugal, humanismo quanto baste e há que fazer alguma coisa para tudo ficar na mesma, diz Anselmo Santos. Também opina que é importante debater questões erradas (alienação). Há que entreter a plebe com manobras de diversão e ele deverá ter baixa capacidade cognitiva, para que veja as coisas de uma forma indiferenciada. Igualmente deve possuir uma sensibilidade embotada perante cenários que não deviam acontecer. Haja muitas mentes ancoradas no passado. Em suma, o vulgo terá de ser incapaz de distinguir o certo do errado, mesmo diante situações óbvias, como a tortura, a pobreza e por aí vai. Que floresça a indigência mental. A plebe deve, por exemplo, acreditar na pretensa eficiência da economia de mercado, tal como antigamente muitos creram no paraíso comunista. Informa que Galileu teve de suportar a perseguição por parte de mentes limitadas e foi obrigado a retratar-se ajoelhado. Alguém com dissonância cognitiva não aceita a realidade como ela é. A realidade é aquilo que a sua crença diz ser. Considera que a qualidade de vida não anda a par com a qualidade do pensamento, nem o povão precisa de ter bem-estar. Longa vida aos pensares anquilosados e há que controlar as mentes, seja de uma forma indireta, ou direta (censura, por exemplo). Não é certo que o verdadeiro progresso é o da qualidade de vida. O Mundo deve ser governado por tolos desconectados da realidade, pelos radicalismos e gostaria de assistir a uma guerra nuclear. Deseja longa vida à violência e garante que nada abala a firmeza das suas convicções. Conclui que o predador e senhor da guerra Putin, que à boa maneira do crime organizado manda assassinar os opositores políticos, não será o Hitler do séc. XXI, não conduzirá a humanidade ao Armagedão. A Terra não vai pegar fogo devido a ele. A minha sobrinha Guidinha, pelo contrário, acha que Putin não regula bem da cabeça, ainda ninguém lhe disse isso e o Mundo, provavelmente, vai pagar um preço alto por tal. O Planeta tem de se proteger de Putin, para quem não existe diferença entre o acertado e o iníquo. Jorge Leite acha que o ditador russo não tem uma mente saudável, é incapaz de se importar com o sofrimento alheio. Lurdes Pinto pensa que com pessoas como Putin o Planeta vai longe. Num mundo ilógico o absurdo vale. Churchil não se enganou quanto ao aloprado do Hitler. Quem poupa o lobo sacrifica o cordeiro. Centenas de milhões de anos de evolução para ter no fim da linha, pérolas, como Hitler, Estaline, Putin, Maduro e outros (um hospício), desabafou a D. Albertina. Deixem os malucos governar o Planeta e que eles tenham acesso ao botão nuclear, defende Júlio Pinto. Só para meter medo, se as armas nucleares não forem desmanteladas, é inevitável um conflito nuclear, isto segundo a Teoria das Probabilidades. Também só para meter medo, com o aquecimento global a humanidade vai conhecer finalmente o Inferno.
Todos têm de aceder ao bem-estar. Isto é sagrado. Qual a dúvida? O leitor, que possui uma inteligência avasasaladora e não sofre de atrofia mental, percebe tal. Repete-se, não há civilização com pessoas sem qualidade de vida. Para enxergar isto não é necessário um grande esforço cognitivo. Exista talento no pensar. Que se vença a cegueira do entendimento e a mentalidade "medieval" dominante. Isto, na opinião do Tobias (o meu cão). Para José Esteves, um conceituado comentador desportivo, em Portugal todos vivem bem: uns bem, outros bem mal. O futuro do País será amanhãs que cantam? Se calhar, não, na opinião de um oráculo. Nenhum devir deveria ser a projeção de um passado medíocre. Uma cultura inadequada pode levar uma sociedade a um impasse. Como é possível que tendo o País tantas pessoas especialmente inteligentes, ainda não se tenha conseguido fazer uma sociedade em que todos vivam com dignidade? Os portugueses não têm fibra para tal? pergunta a D. Francisca. Como gostamos de falar caro, diremos que a atual formalização intelectual do ser humano é insuficiente para o levar à qualidade de vida.
Avisamos desde já que não pretendemos convencer quem quer que seja e tudo faremos para tornar penosa a leitura deste texto de desinformação e ao mesmo tempo de ajuda espiritual. Procurarei ser o mais parcial e o menos objetivo possível. Isto já para não falar no meu viés ideológico. Somos pela sociedade do espetáculo, com muito fogo-de-vista. As nossas baboseiras serão como escrever na água. É importante questionarmos os nossos saberes e práticas e é mais fácil ver os defeitos nos outros do que em nós.
A despropósito, a burrice ao quadrado existe? A extrema-direita brasileira (bolsonarismo) enfrentou a covid com ivermectina, antibiótico, etc., sem qualquer comprovação científica. Qualquer analfabeto sabe que os antibióticos só matam bactérias e a ivermectina, tal como o nome indica, serve para combater vermes.
A minha mulher-a-dias, que gosta de armar-se em intelectual, defende que a História e a economia são sistemas complexos não lineares. Daí a dificuldade em conduzi-los. A ideologia do crescimento económico vê a economia de uma maneira redutora, como algo linear (mais do mesmo), sem mudanças qualitativas, a não ser a inovação tecnológica.
Júlio Paixão comunica-nos que dá muito trabalho resolver a questão social (por fim à pobreza), pois existem muitas forças de bloqueio. Por exemplo, no séc. XIX, foi bastante custoso terminar com a escravatura. A mudança gera resistências. É melhor deixar andar as coisas como estão. Não é necessário fazer acontecer um Portugal perfeito. Pergunta se burro não aprende. A questão social tem de ser mesmo sarada? O modo de produção e consumo vai ter de ser mudado a bem, ou a mal? Não é possível resolver a questão ambiental sem consertar a questão social? Isto é demasiado abstrato para a sua cabeça, confessa-nos Artur Sardinha.
Maria Sabino informa-nos que a Coreia do Sul, um país desenvolvido, tem cerca de 70% de pessoas licenciadas. No entanto, possui uma má qualidade de vida. Para além do excesso de trabalho, muitos mal conseguem sobreviver com o salário que ganham, tenham, ou não, diploma. O País tem uma das maiores taxas de suicídio juvenil do Mundo. João Teles defende que o cidadão deve ser espremido como um limão.
A cheia de certezas da minha mulher-a-dias defende que a humanidade caminha para a autodestruição. O ser humano com a ciência e a técnica tem tudo para ser feliz, mas prefere dirigir-se despreocupadamente para o abismo, como as ovelhas para o matadouro, enredado num nó górdio de problemas.
Maria Alice, do Fundão, tem a certeza de que o Mundo está repleto de demónios disfarçados de pessoas. Eles vivem entre nós. Para ela isso explica o desconcerto do Mundo. Dizem que sem os erros não existem os acertos e que é difícil vencer a barreira da indiferença. Não há como. Joana Simão, residente em Algoz, afirma que é uma jovem interessada em política. Acha importante desconstruir as falsas narrativas e é contra a corrupção moral, por exemplo, o casamento de pessoas do mesmo sexo, fruto da ideologia de género. Também é contra a libertinagem. A pauta dos costumes não pode ficar na gaveta, pois o Diabo esconde-se nos detalhes. Não se deve deixar pontas soltas. A moral e os bons costumes são os pilares da sociedade. O Bem tem de levar a melhor sobre o Mal. É preciso regenerar o País, que está em decadência. Defende que o marxismo cultural deve ser erradicado do ensino. Os alunos não têm de ser doutrinados. A escola devia ser sem partido. Por exemplo, o ensino da História terá de possuir um cunho patriótico. Há que combater o globalismo e o socialismo, seja lá o que isso for. Isto já para não falar na conspiração mundial judaica. Trump afirmou que se não ganhasse a eleição presidencial em 2024, a culpa seria dos judeus. É uma admiradora do D. Quixote de La Mancha, que vivia numa realidade mítica e andava em guerra permanente contra os moinhos de vento. Revela-nos que para endireitar Portugal só uma mão firme, um salvador da Pátria, coisa que o povo gosta e quem manda é ele. Como é uma pessoa de brandos costumes, um regime musculado deve ser implementado de uma forma gradual a partir do interior do sistema político, como aconteceu, por exemplo, com a Rússia e a Venezuela, neste século. O próprio Hitler chegou ao poder por meios democráticos. "Deus, Pátria e Família" será sempre o seu lema e das pessoas de bem. Recomenda a leitura do livro "Como as democracias morrem". Reafirma o seu orgulho na nossa história de conquistas e escravização dos negros. Igualmente sente orgulho no facto de ao longo de centenas de anos a maior parte dos portugueses terem tido uma péssima qualidade de vida (pobreza, doenças, etc.). "Make Portugal great again e arriba Portugal", costuma dizer. Não considera que o Hino Nacional é anacrónico devido ao seu caráter bélico. Opina que se Portugal ficar com a fama de xenófobo, isso não coloca em risco os milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo Mundo. Quando os objetivos são justos, todos os meios são válidos. A civilidade pode ser descartada. Diz que não desiste de Portugal. Acrescenta que não liga para aqueles que lhe atiram "Tão nova e já com ideias bolorentas". Informa que não sofre de distorções cognitivas. As suas divagações mentais são saudáveis, não padecem de anomalia. Em resumo, não tem um raciocinar avariado e até gosta de pensar fora da caixa. Opina que as eleições no regime de Salazar/Caetano eram honestas. A prova disso é o facto de a oposição não ter conseguido eleger qualquer deputado ao longo de 48 anos. Sustenta que as eleições em democracia são susceptíveis de serem manipuladas. É um facto. Tudo pela Pátria, remata com convicção. Só mais uma coisa, também tem a certeza de que as democracias são naturalmente corruptas.
João Marcelino comunica-nos que malucos há demais. Na sua modesta opinião, a democracia é dispensável e admite que possui uma visão concentracionária da sociedade, embora ache que a Coreia do Norte exagera. Também pensa que se devia tirar o vermelho da nossa bandeira, pois tal cor é a do comunismo. Deseja que o paraíso da extrema-direita floresça em todo o Planeta. O ser humano tem de se transcender. O Mundo deve ser governado pelo despotismo iluminado. Depois de 50 anos de democracia, chegou a altura de o País mudar para uma ditadura. A alternância é positiva. Isso da exploração do homem pelo homem é uma invencionice marxista. A escravatura e os salários de pobreza da bem sucedida globalização são instrumentos para que a economia possa funcionar. Pensa que se devia fazer uma homenagem aos torturadores de todo o Mundo. Neste momento está a ler um livro interessante "O martelo das bruxas", escrito por dois religiosos dominicanos, há uns séculos. Trata-se de um manual de tortura, que recebeu o beneplácito do Papa Inocêncio VIII. Para finalizar, informa que é contra a doutrinação das crianças no Evolucionismo, feita nas escolas. O ser humano não descende de um macaco primitivo, mas foi criado por Deus. O Evolucionismo é uma teoria ateia. Durante o nazismo falava-se em ciência ariana. Por que não criar uma ciência lusitana? Informa que os seus interesses são o critério do certo e do errado e ponto final. Garante-nos que não tem um pensamento arbitrário, nem um patriotismo balofo. Recorda com saudade o tempo da "caça às bruxas", nos EUA, no século passado, em que foram perseguidos os suspeitos de esquerdismo, fossem, ou não comunistas.
Para a D. Lurdinhas, a religião não pode ser reduto do obscurantismo. Deus não é de extrema-direita e abomina o fascismo e outros totalitarismos. A minha mulher-a-dias opina que a saída do armário e a expansão do Leviatã da extrema-direita na Europa, no século XXI, não é nada que se não tivesse visto no século anterior, com as consequências que se sabe. Muitos povos provaram o veneno da cobra. A Segunda Guerra Mundial terá provocado à volta de 50 milhões de mortes, coisa pouca. Quando os imbecis tomam o poder as coisas só podem correr mal, tudo pode acontecer. Agora, a procissão ainda vai no adro. Preparem-se, diz a minha mulher-a-dias, uma pessimista profissional. Também lamenta a guinada para a extrema-direita do Partido Conservador americano com Trump. A contestação dos resultados eleitorais após a derrota e a invasão do Capitólio incentivada por Trump é só o começo do que pode vir a acontecer. Como foi possível Trump poder voltar a concorrer às presidenciais?
O Bolsonarismo, um movimento fascista (tentou dar um golpe), que sempre disse ao que vinha, pela sua postura anti-vacina, fez cair criminosamente a cobertura vacinal das crianças brasileiras, que antes estava perto dos 100%. As vidas dos menores foram colocadas em risco, por esses excrementíssimos tolos, segundo a minha prima Rosalina. Isto é um exemplo de necropolítica, que não devia ficar impune. Para o meu cão, de todos os fascismos, o Bolsonarismo consegue ser o mais lerda. Por exemplo, ele nega existência do aquecimento global. A sua política ambiental consiste em não ter preocupações ambientais. A sua política, propriamente dita, reduz-se à questão do poder, à sua toma e manutenção. Os extremistas têm horror a questões complicadas. São apenas capazes de um pensamento binário, veem o mundo a preto e branco. Não conseguem fazer análises finas da realidade e misturam alhos com bugalhos. O Bolsonarismo é um exemplo do que pode acontecer com a extrema-direita no poder. Bolsonaro e parte dos seus apoiantes julgavam que ele tinha sido ungido por Deus para governar o Brasil. A subida ao poder do bolsonarismo em 2018 significou o triunfo dos estúpidos. Em 2022 a mesma situação esteve quase a acontecer, sobretudo se o golpe de estado tivesse vingado. Que Deus tenha misericórdia do Brasil, diz a minha mulher-a-dias.
Em 8/1/2023, depois de perderem as eleições, os pacíficos e democráticos bolsonaristas invadiram e depredaram o palácio presidencial, o Congresso e o Superior Tribunal Federal. A seguir, foram danificadas e derrubadas torres de eletricidade. Bolsonaro declarou que as "fake news" fazem parte da vida. Assim, para ele, é legítimo ser picareta, usar a mentira como arma política. Como se sabe, o Diabo é perito na mentira.
João Teles é uma pessoa de cultura. É pela cultura armamentista. No Estados Unidos o cidadão pode comprar armas sofisticadas, como aconteceu com o maluco que tentou assassinar Trump, em 2024. Em algumas zonas há permissão para andar armado na rua, como no velho Oeste.
Existe a selva propriamente dita e, a selva humana. Um provérbio árabe defende que aquele que diz a verdade merece um cavalo para fugir. Para Mário Santos, o palerma do excrementíssimo Hitler era um génio. Não é qualquer um que consegue levar a Alemanha e a Europa ao desastre, com um rastro de dezenas de milhões de mortes. É obra. Milhões de ciganos, judeus, etc. tiveram um fim tenebroso, asfixiados nas câmaras de gás nazis. Beirou a loucura. No século XX, os russos e os chineses foram os povos que mais sofreram com a violência. Os mortos foram às dezenas de milhões. O ser humano é o principal inimigo de si próprio. Bastantes vezes reina o desnorte. Joana Caetano pergunta se o principal argumento dos extremismos é a violência. Castro Lopes não vê mal que países sejam governados por burros. Os antigos gregos diziam que contra os idiotas nem os deuses têm força. Não conseguir respeitar os outros é a marca que distingue os palermas, defende a radical da minha sobrinha Guidinha. João Semedo informa-nos que é deficiente e, por causa disso, tem sido pouco respeitado. Para baixo todos os santos ajudam, remata. Paulo Ramos questiona-nos se existem pessoas que têm uma fixação pela violência. Que ideia. Pergunta também se há quem não tenha emenda? A indiferença perante a condição alheia é uma questão de educação, de cultura?
Giuseppe Sorias nasceu em Milão em 1941. Três anos depois seria assassinado, logo após chegar ao campo de concentração nazi de Auschwitz, na Polónia. Muitos milhares de crianças sofreram o mesmo destino trágico. Isto não tem perdão. Para Luciano Neves, as câmaras de gás são a imagem de marca da civilização nazi.
O atual dirigente da Coreia do Norte mandou assassinar o tio e o irmão. É triste que países sejam governados por seres amorais. Como se notará mais adiante, os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, semearam ditaduras, um pouco por todo o Planeta. Onde existem totalitarismos há prisões, tortura e assassínios. Joana Cunha garante que um fascista não regula bem e não o sabe.
Fevereiro de 2024. Mais um foi apagado da lista. Alexei Navalny, o principal opositor de Putin, faleceu numa prisão, na Sibéria. Os adversários do ditador têm morrido, caindo de janelas, suicidados, envenenados, assassinados a tiro, etc. Não há suficientes russos inteligentes e corajosos que tirem esse alienado do poder? pergunta a minha sobrinha Guidinha. Para ela, a humanidade não tem necessidade de ditadores que gostam de brincar às guerras. Eles não se dão conta da sua inutilidade. Avisa que Putin vai continuar a fazer disparates até morrer.
Para a minha prima Juliette avizinham-se tempos desvairados. Que Deus nos livre dos malucos que governam a Rússia. Eles são a encarnação do mal, afirma a minha tia Adelaide, depois de ouvir as ameaças de uso de armas nucleares, vindas da classe dirigente, para a qual não existem escolhas éticas. Falam outra língua e necessitam de sanidade mental. A perfídia é coisa do Demónio e um tolo não se importa com a realidade, diz a minha mulher-a-dias, para quem as ideias erradas são uma prisão. Alguém com uma cultura primária não se horroriza com aquilo que possa cometer e até acha que faz o certo. Os loucos acham-se muito inteligentes.
Como se sabe, um psicopata não tem um cérebro saudável. Mas há outros que padecem do mesmo. Existem mentes perigosas, doentias. Que Planeta é este? O ser humano está alienado? perguntava o meu cão. Muitos têm uma triste passagem pela Terra. O Homo "sapiens" parece carregar uma maldição. Porcaria de Planeta, desabafou a minha prima Rosalina.
O baile da morte caiu sobre a China em 1937. Os japoneses conquistam Nanquim, a capital. Uma fotografia mostra um soldado japonês com a baioneta da espingarda levantada. Espetada nela está uma criança. Outra fotografia revela soldados japoneses em pose. À frente deles encontram-se expostas bastantes cabeças cortadas de chineses. Houve violações em massa de mulheres e pavorosas experiências médicas com cobaias humanas. A violência foi levada ao extremo. Inúmeras mulheres coreanas e chinesas foram usadas como escravas sexuais. O massacre de Nanquim terá custado mais de 200 mil mortes. O horror da invasão da China cobrou largos milhões de vidas. Foi demais. Uma tragédia sem retorno. Este Mundo não é o da inocência das crianças. Os japoneses anteciparam o modo de agir nazi. Eles consideravam os coreanos e chineses como povos inferiores. A que propósito?
Lima Sousa revela-nos que gostava de ser perfeito e acha que a vida dá muitas voltas. É um apaixonado pela violência. Se esta fosse pessoa teria casado com ela. É pelo culto da dita. Diz que é uma pessoa com atitude, cheia de espírito de iniciativa e um homem de sucesso, um vencedor (um made man self). Considera-se um dos melhores profissionais da burla informática. Quando novo, trabalhava de noite (roubava carros) e estudava de dia (área de informática). Torce por sociedades agressivas e tem simpatia por pessoas violentas (há que entender as suas razões). O argumento da violência é eficiente. Defende a lei do mais forte. É pela falência do humanismo e adora o rugir da guerra, que lhe soa a um concerto. Quer uma realidade ao contrário, com muita safadeza, um Admirável Mundo Novo. A violência, abençoada seja, é como um tratamento doloroso que cura. Confessa-se um admirador da selva humana (darwinismo social). Aceita o direito a fazer guerra. A atividade bélica é algo natural. Constitui uma faceta da cultura e tem acompanhado o Homo "sapiens" desde os primórdios. "Make war, not love" e entre mortos e feridos, alguém vai escapar, costuma dizer. Crime de guerra? Isso não existe. As pessoas devem ser carne-para-canhão, como os vários milhões de alemães que faleceram ao serviço da insanidade nazi (Hitler reiterava que o que fazia era para o bem da Alemanha). Considera a raça latina superior. Devia voltar a instituir-se o Dia da Raça. Para manter a sua pureza genética seria imperioso não permitir a mistura com outras etnias. Para além disto, é pela contaminação ambiental irreversível do Planeta. Este deverá ser como um esgoto a céu aberto. O cancro atinge cada vez mais pessoas com menos idade, o que é politicamente aceitável. O futuro da economia não tem de ser a economia do ambiente. Torce para que haja muitas pessoas sem balizas éticas. Reconhece que a Terra é um campo minado e que há quem cogite avariado, vá lá. Para ele, se Deus quiser, o obscurantismo e os idiotas vencerão. O Mundo deve estar entregue à bicharada. As crianças devem ser ensinadas a odiar, como fazia o nazismo. Este é o seu pensamento estratégico e, a sua razão de viver.
Lopes Tancredo tem um negócio de receptação de material furtado. Informa que é um fã das forças de segurança, pois se estas não existissem, então é que todo o mundo roubava todo o mundo, o que não pode acontecer. Costuma afirmar que no meio está a virtude.
João Santinha diz-nos que é a favor da corrupção nas polícias. O exemplo a seguir é o do Rio de Janeiro. Há casos de extorsão de dinheiro a criminosos feitos por agentes de segurança. Estes por vezes pertenciam a quadrilhas que levavam a cabo sequestros e havia quem, nas horas vagas, fizesse segurança a chefões do crime. Muitas vezes não se sabe quem é quem. No Rio de Janeiro o crime, a polícia e a política não se podem separar, disse o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as milícias. Parte significativa dos deputados estaduais tinham, ou têm ligação ao crime. A quase totalidade dos governadores do Rio foram parar à prisão por corrupção. Há uns anos, a corrupção na polícia de Nova Iorque foi outro exemplo de que a polícia, ela própria, se torna um problema. A Colômbia em algum momento dispensou cerca de 40% do efetivo policial.
Março de 2024, um analfabeto, da extrema-direita bolsonarista, passa a dirigir a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Brasil. O dito deputado, em vídeo, afirma que não se pronuncia sobre a questão da Terra plana, pois ainda não tinha estudado o assunto. Noutro vídeo aplaude a decisão que permitia que as crianças de um Estado brasileiro pudessem ir à escola sem estar vacinadas. O obscurantismo festeja os seus feitos. Este deputado foi o que mais votos teve nas eleições de 2022. A ignorância é o terreno fértil do populismo? Chico Alves, de Belmonte, acha maravilhoso a imbecilidade ocupar cargos de poder.
Por falar em ignorância e cultura atrasada. Lena Santos, diz-nos que, por incrível que pareça, hoje em dia, no Planeta, morrem tanto, ou mais pessoas por acusação de bruxaria, do que na época medieval. Há quem seja queimado vivo. Não dá para acreditar. Existem casos de pastores evangélicos que instigam a luta contra a bruxaria, o que tem consequências em culturas atrasadas. Na Tanzânia por ano são assassinadas dezenas de pessoas por bruxaria.
A ressentida e mal resolvida da minha mulher-a-dias queixa-se de que não consegue passar da cepa torta, pois o ordenado que lhe dou é baixo. Eu defendo-me dizendo que custos salariais altos prejudicam a economia, mas isso não vem ao caso. Ela sustenta que quando os direitos humanos recuam, a barbárie avança. A selvageria não pode andar à solta. Os ditadores não devem ficar impunes pelos seus crimes, como aconteceu com Estaline e muitos outros. Para ela Deus não está no comando, pois assiste impotente à malandragem do ser humano, cuja degradação comportamental não tem limites. O Homo "sapiens" é capaz de tudo. Para o meu cão, a qualidade de vida está ligada umbilicalmente à qualidade do pensamento e o ser humano devia ganhar tino. Um raciocínio primitivo, ou mesmo bárbaro tem consequências no bem-estar das pessoas. Com uma redoma mental inadequada não se vai longe. Por exemplo, se se aceita a pobreza, ela jamais será erradicada, por muito que aumente o PIB. Os EUA mostram isso. A indigência é, antes de mais, uma questão cultural, de aceitação, ou não da sua existência. Ou seja, a pobreza e a qualidade de vida em geral não são um problema puramente económico. É fácil de compreender, apesar de muitos não conseguirem interiorizar tal. Mesmo com a ciência e a técnica a maior parte da humanidade continua a viver na pobreza. Um ser humano guiado por uma informação de deficiente qualidade (o que inclui valores culturais), não conseguirá o bem-estar. A azeda da minha mulher-a-dias informou-me que a Bíblia diz que Deus se arrependeu de ter criado o palerma do ser humano. Este, como se referiu, não aprende com a História, está sempre a entalar os dedos na porta. É impressionante. Nada a fazer.
João Campos diz que foi uma benção ter nascido neste País. É um sem-abrigo, morador na rua de S. João, no Porto. Noticia-nos que prefere o paraíso capitalista ao paraíso comunista. Tem muito orgulho em ser português e, um zé-ninguém. Aproveitamos para homenagear aqueles americanos que, anualmente, ficam cegos por não terem dinheiro para uma simples cirurgia às cataratas. Como se sabe, os Estados Unidos não têm um serviço nacional de saúde gratuito. Cada um por si.
A despropósito e só para chatear, Maria Clara informa-nos que, tal como o tabaco, o álcool é uma substância tóxica, que no longo prazo tem impacto na saúde dos indivíduos. Não existe consumo moderado de álcool seguro. Parte significativa dos cancros ligados ao álcool são de consumidores moderados. A questão é, deixa-se as coisas como estão, ou procura-se proteger a saúde dos cidadãos proibindo a publicidade que induz o consumo de álcool por parte dos jovens? Lopes Santos defende que o capital de saúde das pessoas deve começar a ser delapidado o mais cedo possível. Já agora, o cancro infantil e da mama tendem a aumentar. Não se deve agir, sabendo-se que a maioria dos cancros são evitáveis?
A realidade é complexa. Por isso tendemos a ver o que nos rodeia por um funil, garante Luís de Castro. Quando se enxerga o mundo com os olhos da ignorância o afunilamento é maior.
Um pastor luterano alemão, que foi morto pelos nazis, afirmou que o poder de um tirano só é possível com a cumplicidade dos estúpidos. Estranho que multidões de pessoas com capacidade intelectual e formação escolar tenham posições fundamentalmente pouco inteligentes, como aceitar a existência dos sem-abrigo, transigir com a exploração laboral da globalização, etc. Tal são situações que ninguém deseja para si, para os seus filhos, netos e bisnetos. Os palermas não reconhecem a sua maldade. Temos como exemplo, os técnicos, cientistas e generais alemães (engenheiros do caos) que levaram a cabo as guerras de agressão de Hitler. Os membros de uma quadrilha são tão responsáveis quanto o chefe. Não podem alegar que cumpriam ordens, afirma a minha prima Clementina. Na Alemanha de Hitler, quem não fosse a favor do nazismo era considerado um mau alemão. Será que a lerdice está ligada à falha de balizas morais, a uma sensibilidade embotada? Qual a sua natureza? O ser humano parece sofrer de lobotomia. A estupidez é perigosa e é difícil um equivocado corrigir-se. Se Einstein optasse por continuar a viver na Alemanha nazi, teria sido morto por ser judeu. "Se existe um Deus, ele terá de implorar pelo meu perdão", escreveu um detido de um campo de concentração.
Lucélia Pinto defende que o sofrimento não pode ser banido da face da Terra. Se isso acontecesse, as pessoas esqueceriam Deus.
Isabel Gomes também acha que quando os países são governados por mentes atrasadas só pode acontecer o pior. O século XXI provavelmente mostrará isso.
Por falar em violência, João Silvério informa-nos que tem uma bruta casa, um bruto carro e uma bruta mulher. Sim, ele faz parte daquela minoria de homens que é maltratada pelas parceiras.
Este arrazoado, chato para caramba, pois gostamos de insistir sempre no mesmo, já teve 100 mil visitas. Como é possível que tanta gente tenha vindo ao engano? Mas já que isso aconteceu, o nosso objetivo, agora, é atingir os milhões de visitantes. A fé move montanhas.
Esta lamechice de intelectualismo balofo, com cenas eventualmente chocantes, verdadeiro rosário de desgraças, pretende ser um murro no estômago e provocar uma ruptura epistemológica em quem a ler. Lopes Tinoco, de Buarcos, diz que não teve folgo para ler esta tristeza de prosa, em todos os sentidos. Entre outras coisas, tropeçamos nos nossos pensamentos. No entanto, queremos fazer chorar as pedras da calçada. Acreditamos na força telúrica das nossas inúmeras calinadas. Como alguém disse, este texto tem tudo e mais não sei o quê.
Inícios de 2023. Como a Argentina está em hiperinflação, a minha mulher a-dias aconselha um ajuste fiscal, a criação de uma nova moeda e a feitura de índices de preços, como aconteceu no Brasil com o Plano Real, que tirou o País da crise. Não há condições para a Argentina adotar o dólar como moeda, nem tal é desejável. Vamos ver se o País das pampas vai cair numa ditadura. Como é possível que uma pessoa histriónica, como Milei, esteja à frente de uma nação e ainda para mais numa situação tão difícil? O Diabo quer tramar este País? Milei entre outras pérolas, disse que o Papa Francisco era um representante do Maligno na Terra. Para a minha mulher-a-dias, o anarcocapitalismo defendido por Milei está para a Economia, como a astrologia está para a Astronomia. Milei também é contra o conceito de justiça social.
Modéstia à parte, esta prosa foi escrita sob inspiração divina. Como a maioria dos portugueses afirma que acredita em Deus, iremos falar sobre religião. Por exemplo, o Antigo Testamento diz que o Altíssimo intervinha pessoalmente nas operações militares dos hebreus. Estes eram temidos pela sua violência, pois praticavam o genocídio dos vencidos, inclusive mulheres e crianças. Custa a acreditar, mas isto é narrado pela própria Bíblia. O modo de agir nazi não é uma invenção recente.
Justino Santos, de Paredes de Coura, acha que este chorrilho, em português descuidado, foi feito por uma máquina de inteligência artificial de baixa qualidade.
Vasco da Gama, de Coruche, informa-nos que criou um comprimido fenomenal (cuja fórmula é secreta), que vai aumentar em muito a inteligência do ser humano. Este será então capaz de fazer uma sociedade em que todos tenham qualidade de vida e de abandonar as lutas, como forma de resolver questões. O impacto deste comprimido será superior ao da inteligência artificial, pois esta não está apta para conseguir tal, garante. Curiosamente, o meu cão acha que a dificuldade do ser humano em fazer um mundo onde todos tenham bem-estar e não haja violência tem a sua origem num insuficiente desenvolvimento do córtex frontal do cérebro. Este sofre de dificuldades funcionais a nível do pensamento abstrato. Ou seja, existem razões biológicas que parecem impedir o ser humano de fazer um mundo como deve ser. Trata-se de um determinismo biológico. A minha prima Adélia defende uma teoria controversa. Para, ela, a sociopatia, que permite a uma pessoa ser indiferente à sorte dos outros, existe em grau variável na sociedade. A sociopatia, não é uma anomalia, mas representa uma vantagem adaptativa a situações de conflito. Alguém com um grau elevado de sociopatia não sofre de stress guerra. Uma pessoa com uma sociopatia mais baixa magoa-se com a sorte daqueles que lhe são próximos, mas é indiferente aos sem-abrigo e àqueles que por esse Mundo fora vegetam na pobreza.
A D. Alzira, de Fafe, comunica-nos que um dito antigo afirma que aquele que não traz a paz no coração fará a guerra. Para ela os conflitos de agressão são ilegítimos. Os estúpidos não entendem o absurdo da guerra, em que a vida humana pouco vale. O meu tio avisa que o ser humano terá de escolher entre a lei da selva, ou a civilização e defende que quando não se combate um cancro, este alastra. Os problemas têm de ser enfrentados, com a firmeza necessária, nem mais, nem menos. A existência de armas nucleares abre a possibilidade da destruição do Planeta. A minha prima Rosalina diz que o ser humano não pode correr esse risco, não deve jogar à roleta russa. Valério Santos, que é diretor de uma fábrica de explosivos, afirma que a humanidade navega em cima de um barril de pólvora. A ciência e a técnica não podem estar ao serviço de loucos, da imprevisibilidade do seu comportamento. Que o saber não seja uma conquista de Pirro. Hitler, esse alucinado, com a sua pulsão destrutiva, é um exemplo de que regimes ditatoriais são um perigo para a humanidade.
A epopeia da anunciada tragédia do aquecimento global é um monumento à burrice, é o grau zero da inteligência (atração pelo abismo?). Tal significa a falência do pensamento estratégico. A obsessão compulsiva pelo crescimento económico em detrimento do desenvolvimento vai estourar o Planeta, diz a minha mulher-a-dias. Trata-se de um modelo económico esgotado, mas bastantes recusam-se a ver que o rei vai nu. Não é de inteligente persistir no erro. Para muitos, em termos económicos, o universo mental reduz-se ao aumento do PIB. As contas ambientais têm de estar certas. Não pode haver batota. A entropia cresce perigosamente. Esta tem custos económicos e humanos. Como toda a gente sabe, a entropia mede o grau de desorganização de um sistema. A racionalidade do Homo "sapiens" deixa muito a desejar, sofre de turbulência. Em Física, o fenómeno da turbulência é de difícil explicação. Einstein afirmou que a estupidez humana é infinita. O Homo "sapiens" está a suicidar-se. A minha prima Juliette teme uma explosão de problemas, um inferno sem fim. Imbecil coletivo, o que é? As sociedades são equilíbrios frágeis. É sempre possível uma involução, ou pior. A lerdice arrisca-se a vencer a inteligência, o que é paradoxal. Quando perguntaram a Bruno Lopes qual a idade que tinha, este respondeu que tinha idade para ter juízo, tal como o ser humano. Que se lixe o futuro, defende Luís Miranda.
Uma coisa é a sua informação. Tudo se inicia com esta, é a mola do que acontece. A realidade é a informação que vingou, sentenciava o meu cão. Toda a realidade social tem subjacente uma determinada informação. A qualidade desta determina a qualidade da sociedade. Antes de fazer uma ponte há que ter o projeto. Se este apresenta dados errados, a obra vai ter problemas.
O ser humano é o seu pensar, as suas ideias e muitos não questionam os seus saberes. Por causa disso o Mundo não é um jardim das delícias e o séc. XXI, provavelmente, não vai deixar boas recordações, pois o Homo "sapiens" parece não ter emenda e pode bem com o mal dos outros. Isto, na maneira de ver da minha mulher-a-dias. Para ela, a humanidade tem um problema de inteligência coletiva e carrega a semente da sua aniquilação. A falta de humanismo, de interesse pela situação do outro há de levar à perdição. Muitos não entendem a importância crucial de olhar o mundo com o coração. É necessário um outro universo mental, segundo o meu cão. A esperteza do Homo "sapiens" dá-lhe para fazer disparates. Um filósofo da Antiguidade defendia que quando um território é governado por um louco, a população sofre as consequências. A estória entre o lobo e o cordeiro repete-se sem cessar e falsas questões não têm solução. O ser humano desmerece a sua complexidade biológica. Tem um problema de neurónios. Existem mentes com ideias descoladas da realidade e esta, muitas vezes, vira absurdo. Saúde mental precisa-se. Por exemplo, o inferno abateu-se sobre a Ucrânia, ao sofrer uma invasão por parte da Rússia. Muitas crianças ficarão traumatizadas pela guerra. Putin é exemplo do espírito maligno que habita o ser humano, que se julga acima do bem. Para o indiferentismo moral não há distinção entre o certo e o errado. O objetivo da atividade humana deve ser a qualidade de vida, não a luta. Os recursos têm de ser bem alocados. A maldade pura e dura e a lei do mais forte não devem singrar. As pessoas têm o direito a viver em paz. Isto é cristalino, defendia o meu cão. "Make love, not war, Mr. Putin. O senhor não tem licença para matar. Viva e deixe viver". O meu filho Pedrito, de 6 anos, pergunta a Putin se está contente com as centenas de milhares de mortes que já causou. Para ele, se há justiça, o dirigente russo deveria ser levado a julgamento. Não é impunemente que se destrói e mata. Putin não vale a vida de uma criança morta pela guerra.
Aqueles que querem escrever a História com o fogo dos canhões têm de ser tolhidos. A etiologia estuda o comportamento animal. O ser humano é um animal disfuncional, que toca a pauta errada. O seu cérebro analógico deixa muito a desejar. Apesar da ciência e da técnica, o Homo "sapiens" é um ser primitivo, como o crocodilo e a condição humana continua frágil.
Interrompemos aqui o fio à meada para lembrar as centenas de condenados à morte pelo regime clerical do Irão, em retaliação aos protestos que decorreram no País desde Setembro de 2022. Bastantes foram executados pelo crime de ofensa a Deus (moharebeh). Isto já para não falar nos muitos que são torturados. Inúmeros manifestantes foram atingidos num olho para os cegar, um requinte. A religião devia ser o contrário da barbárie. Como diz a minha prima Aldina, Satanás age disfarçado. A maldade é primitiva. Não devia ser possível fazer iniquidades em nome de Deus. O regime do Irão, que se considera o representante do Altíssimo no País, é apoiante de Putin. Um religião sem humanidade é falsa e não existe maior insanidade do que aquela que é feita em nome de Deus, sustenta a minha mulher-a-dias. Como já foi dito, a vontade de Deus é fazer um Planeta onde todos tenham bem-estar, mas isto não entra na cabeça de muitos crentes, vá lá saber-se porquê. João Cintra conta-nos que viu um vídeo, de uma pessoa, na Indonésia, que levou largas dezenas de chibatadas em praça pública, por ser... homossexual. É uma blasfémia cometer safadezas em nome de Deus, defende a minha prima Rosalina, para quem não se pode estar bem com Deus e com o Diabo. Os regimes totalitários e as organizações criminosas não brincam em serviço. Uma cultura atrasada só pode dar para o torto. A qualidade do software intelectual é por demais importante. A minha afilhada Cidália sustenta que outra característica de uma mentalidade primitiva é a recusa do pensamento lógico-racional. Por exemplo, como se notou, o bolsonarismo, no Brasil, combateu a covid com armas ineficazes, sem comprovação científica. Como é possível tamanha estupidez? O absurdo existe?
Joana Pato informa que a Bíblia diz que homem que se deite com homem deve ser morto à pedrada.
Ana Sousa noticia-nos que possui uma quinta no Alentejo, onde mora o Chiquito, um asno. Certo dia deu-lhe um livro. Mas o animal, depois de o ter lido, ficou na mesma, nada absorveu.
Joel Pinto é um radical cheio de certezas absolutas e admite que é obcecado pela violência, ou melhor, vê nesta um meio de purificar o Planeta, para que este não caia na perdição. Para ele o mundo está dividido entre nós e os outros. Acha que a luta entre o certo e o errado, entre a virtude e o vício deve ser sem quartel. Não de deve dar tréguas aos ímpios. A violência deve estar ao serviço da verdadeira religião. Por isso existem as guerras santas. Também opina que quando os objectivos são corretos, todos os meios são legítimos. É acertado expandir a fé certa pela espada. As pessoas têm de abrir os olhos, mesmo que seja à força. Defende que a democracia não é necessária. Basta aplicar a lei divina (sharia), como no Afeganistão. Esclarece que a violência feita em nome de Deus não constitui crime, é justiça. À mulher não deve ser permitido estudar, ter emprego, conduzir automóveis, etc... Isto não é uma regressão civilizacional. Se alguém roubar, deve ser-lhe cortada a mão direita, para aprender. Se prevaricar deve ficar sem o pé esquerdo. É pelo pensar dogmático e, contra a liberdade de opinião e o pensamento crítico, que considera coisas de Satanás. Para ele uma pessoa não possui o direito a escolher a religião que quer. Os ateus não têm direito a existir e os infiéis devem ser tratados como merecem. Todos têm de cogitar pela mesma bitola (camisa-de-forças mental). É acertado combater aqueles que teimosamente não querem implementar a lei divina (sharia). A vontade de Deus não pode ser posta de lado. Diz-se um admirador dos métodos dos corta cabeças do Estado Islâmico da Síria e Iraque (onde fez um estágio), e do Boko Haram, da Nigéria (escravatura, raptos, assassínios, etc.). Diz que não é um bárbaro. Rejeita que haja uma maldade inerente ao fundamentalismo religioso e que tenha um universo mental medieval. Sustenta que não vive no passado, não precisa de uma descontaminação cerebral e possui uma mente aberta... às suas ideias. A minha mulher-a-dias garante que Deus vive horrorizado com os crimes que se cometem em seu nome.
Maria Rodrigues acha impressionante que muitos muçulmanos não tenham ficado chocados com o massacre de largas centenas de civis israelitas, incluindo crianças, feito pelo Hamas, em Outubro de 2023. Também acha impressionante que muitos israelitas não se indignem com o roubo de terras palestinas, para instalar colonatos e com a destruição tipo nazi da faixa de Gaza, em retaliação ao ataque do Hamas. Vale tudo?
João Santos comunica-nos que não sabe se deve aderir ao ideal nacional-socialista (nazi), ou ao ideal comunista, ou a qualquer outro.
Maio de 2022. Um americano, após mais de 30 anos de cadeia, saiu em liberdade. Foi dado como inocente. Recebeu um pedido de desculpas como consolação. Também há o caso de um deficiente mental coagido pela polícia a confessar um crime. Foi inocentado depois de executado.
Costa Cabral, de Chaves diz-nos que vive deslumbrado com a sua Inteligência. Também gosta de pensar fora da caixa. Suspira por países dominados por lobos, como na Alemanha nazi. Que floresçam por todo o Planeta ideologias agressivas e regimes totalitários, que tenham pouca, ou nenhuma consideração pelo ser humano. Também acha que o povo deve ter um baixo desempenho intelectual, ser acrítico e carregar uma vida difícil. As ferramentas mentais do vulgo devem ser de baixa qualidade, para que frutifique o populismo. Haja poucas cabeças pensadoras. O povão só deve conseguir enxergar o que está à frente do nariz e mesmo assim... Também acha que aquele que realiza um trabalho útil à sociedade não deve ter necessariamente um salário que lhe permita viver com dignidade e não é verdade que o mal quando vem tem sempre uma desculpa esfarrapada. Como a educação é fundamental e o ser humano vive mergulhado em informação, que se difunda uma cultura regressiva. A verdade é aquilo que queremos que seja, não depende da realidade dos factos. A maior parte da populaça deve viver na bolha da ignorância. Esta é uma bela folha em branco. Que a escuridão ilumine o caminho das massas. Há que vencer a batalha da informação. A assimetria desta é uma coisa maravilhosa. Quanto à necessidade de uma sociedade em que todos tenham bem-estar, esclarece que não está para aí virado, apesar de ter alguma sensibilidade social e tal é demasiada areia para a sua cabeça. Cada um que se safe. Se os pobres de Portugal não estão contentes com a sua situação, que se mudem para Cuba, ou Coreia do Norte. No outro dia sonhou com um leão que morreu à fome, pois tinha grandes problemas de consciência por matar e devorar as suas vítimas. "Viver é a arte do possível", remata.
Uma curiosidade, em 1252, uma bula do papa Inocêncio IV autoriza as sevícias naqueles que não seguissem as leis de Deus. João Paiva, de Lisboa, informa-nos que se encontra a escrever um manual de técnicas de tortura. O livro estará nas bancas na época do Natal. Perguntado sobre o que achava da tortura, Carlos Pinto respondeu que nada percebia de política.
Juliana Pais, de Porto Santo, noticia-nos que lhe foi revelado em sonho que este século será o do Apocalipse. Aceitam-se apostas. Joana Sousa não vê mal no facto de haver países governados por pessoas primitivas, que defendem a tortura, a censura, a ausência de eleições, o assassinato de opositores políticos, etc. O regime do ditador "cristão" Salazar assassinou o general Humberto Delgado, o escultor Dias Coelho, etc. Por causa disso e não só, neste momento, Salazar deve estar no Inferno, alvitra a minha prima Odete. O cardeal-patriarca Cerejeira não via motivo para rejeitar o regime de Salazar. Para ele a ausência de democracia e a tortura eram coisas de somenos. Também Salazar, apesar de professor universitário, não conseguia enxergar que não eram aceitáveis a censura ao pensamento, a ausência de eleições, etc. Durante o regime do ditador "cristão" Pinochet, do Chile, opositores políticos eram atirados vivos de aeronaves para a morte. Cenas macabras. A imaginação não tem limites.
O filósofo Sócrates, da Antiga Grécia, foi condenado à pena capital por envenenamento. Séculos mais tarde, o pensador Giordano Bruno teve pior sorte, foi queimado vivo. Como se notará mais à frente, pela boca morre o peixe. Há quem seja adepto da cegueira intelectual e do controlo das mentes. No final da Segunda Guerra Mundial, havia alemães que, devido à propaganda nazi, julgavam que a Alemanha era o país agredido e não o agressor, diz-nos João Taborda, de Faro. Por exemplo, a invasão da Polónia foi apresentada como uma resposta a um pretenso ataque fronteiriço levado a cabo pelos polacos. Depois, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha.
Entretanto recebemos um sms do Presidente da Assembleia da República (fomos colegas na escola), que nos informa que o antigo Papa João Paulo II afirmou que a não ordenação de mulheres padres é um assunto encerrado. Para ele não se tratava de um caso de discriminação sexual. Há quem não veja o óbvio.
Quase no mesmo dia, o primeiro-ministro enviou-nos uma mensagem. Ele por muitos anos foi meu cliente, pois frequentava a praia de Carcavelos e eu era vendedor de bolas de Berlim. Conta-nos que na semana passada sofreu um ataque agudo de lucidez, em que se deu conta de que não é razoável haver indivíduos que sejam impedidos de aceder à qualidade de vida.
Também o ditador Nicolás Maduro da Venezuela escreveu-nos a dizer que esta prosa tresanda a lugares-comuns e sofre de viés ideológico. O regime venezuelano é de direita, ou de esquerda? É de loucos, diz Jorge Amado, de Olhão.
Outra curiosidade, no Rio de Janeiro (Brasil), cerca de 4,5 milhões de pessoas vivem em áreas conquistadas pelo crime organizado. Existe uma derrota do Estado. Já não se trata de um poder paralelo, mas de um único poder. Por exemplo, sobretudo em zonas da milícia, quem se recusar a comprar botijas de gás a ela é morta no espaço de dias, um Admirável Mundo Novo. O domínio territorial permite a exploração económica das populações. A renda proveniente das drogas tende a perder importância. As milícias são organizações criminosas que foram fundadas por polícias, seguranças e bombeiros. Nas milícias o polícia e o criminoso confundiam-se. Para a minha mulher-a-dias o milicianismo tem semelhança com os esquadrões da morte, formados por agentes de segurança que se achavam no direito de atuar à margem da legalidade. Membros dos grupos de extermínio entraram mais tarde para as milícias. Os extremos tocam-se. Qualquer dia, o poder legítimo do Rio estará confinado a alguns redutos, ironiza Rodrigo Pimentel, um brasileiro a viver em Braga. Para a minha mulher-a-dias o crime organizado representa uma ameaça muito séria aos Estados. Veja-se o caso da Colômbia, El Salvador, Equador, Haiti, etc. Ela vive muito impressionada com o que acontece no México, onde a violência provocada pelos cartéis da droga atinge níveis inauditos. O mal absoluto existe.
O subdesenvolvimento mental tem custos, é perigoso. "O sono da razão gera monstros". A História tem sido um desfilar de horrores, com muita malandragem. A personagem principal desta prosa é o Diabo. Sim, o que habita a cabeça do ser humano. "O verniz da civilização estala facilmente" e os "genes trazem a cultura pela trela". O pesadelo da invasão da Ucrânia pela Rússia, outro exemplo de necropolítica, na contramão da História, é a "prova provada" de que a iniquidade existe. Os princípios esbarram nos interesses e são ignorados. Não pode haver uma inversão de valores, para justificar este crime bélico de agressão. O mal não tem motivos, apenas, pretextos. O pouco inteligente Putin (que vive no passado e não se dá conta do erro que cometeu) perdeu o norte e parece seguir as pisadas do estúpido Hitler, que se julgava brilhante. Este suicidou-se sem qualquer peso pelos milhões de mortos que a sua ação provocou. Mais valia não ter nascido. Hitler também pensava que tinha sido escolhido pela Providência para governar a Alemanha. Para quem não sabe, o nazismo é exemplo de um regime sanguinário. Oxalá os russos não embarquem numa aventura irreparável, como os alemães fizeram com os nazis e os japoneses, com o militarismo reinante no seu país. Os russos não têm de ser carne-para-canhão de Putin. Com pessoas como Hitler e Putin e outros senhores da guerra o mundo não é divertido. A lógica do absurdo não devia prevalecer. A luta titânica entre as trevas e a luz, entre o bem e o mal é eterna, defende a minha mulher-a-dias, que se acha uma especialista em semiótica (como toda a gente sabe, esta estuda a comunicação e as palavras tanto mostram, como escondem a realidade). Ela também pergunta se faz sentido uma pessoa vir a este Mundo para não ter qualidade de vida. Tal é injusto e indecente, para quem não tem a sensibilidade embotada. Existe quem olhe para a porcaria e não veja tal. Ela diz que adora pregar no deserto e é difícil vencer a muralha da indiferença. Esta mata. Para a minha prima Gertrudes a indiferença é uma maldade. O Mundo será o que a cabeça do ser humano conseguir fazer. Há que mudar o eixo de reflexão tradicional.
Afonso de Albuquerque, de Chaves exerce a profissão de conselheiro espiritual. Queixa-se que por mais de uma vez foi vítima de advogados. Diz que não gosta que lhe pisem os calos, mas não se importa de calcar os dos outros. Sustenta que é legítimo um país invadir outro. Não fora o direito de conquista, os Estados Unidos não seriam o que são hoje. O território continuaria nas mãos dos índios (selvagens). Também Portugal não teria formado um império colonial e sido uma potência mundial. Igualmente opina que se deve, de novo, levantar o esplendor de Portugal. Para ele as nações evoluídas têm a missão de levar a "civilização" aos povos mais atrasados. Por isso o trabalho forçado dos negros existiu, pelo menos até 1962, nas colónias portuguesas. Informa que também gosta de ideias bolorentas e de realidades míticas. Para ele a honestidade intelectual não é importante. A propaganda, tal como a publicidade enganosa, são um bom substituto da verdade. Fazem parte da guerra de narrativas em que o cidadão vive mergulhado e que condiciona o modo como vê o mundo. Reconhece que é impossível fazer mudar de ideias um terraplanista mental como ele.
Muitas vezes julga-se compreender algo, quando de facto isso não acontece. Como se referiu, a qualidade de vida está ligada à qualidade do pensamento (não se pode querer uma coisa sem as condições das quais depende). Uma sociedade sem massa crítica intelectual, sem inteligência coletiva e que não ponha as questões corretas não vai longe. Isto da lucidez tem que se lhe diga, repete-se. Muitos abalam deste Mundo às avessas sem levar grandes recordações. Um é importante. Há que apontar a ferida, sem enrolação.
O ser humano não bate bem da bola. Ele sofre de falta de humanidade, não se cansa de lembrar a minha mulher-a-dias. O Papa Francisco afirmou que a pedofilia no seio da Igreja, que atingiu uma dimensão dantesca, foi obra do Demónio. Este é insidioso, veste a farda do inimigo. A perfídia campeia onde menos se espera. Se existe algo que caracteriza o ser humano é a maldade, diz a minha prima Rosalina. Em Portugal, mais de 4000 crianças terão sido abusadas por religiosos, segundo a Comissão Independente, criada para investigar o ocorrido. A quase totalidade dos crimes ficaram impunes. Em 2023, dezenas de clérigos pedófilos continuavam a exercer o sacerdócio. O ser humano é capaz do pior e do pior, sem exagero. A minha mulher-a-dias, que sofre de ansiedade crónica por excesso de lucidez, fala na falência moral daqueles da hierarquia que encobriram milhares de crimes. Isto tem perdão? Tal teve um carácter sistémico. Também houve abusos sexuais em centros budistas, evangélicos, etc. A minha mulher-a-dias denuncia aqueles "pastores" evangélicos do Diabo, sem escrúpulos, que usam a coação psicológica para extorquir dinheiro aos crentes. Isto acontece impunemente. Esses falsos pastores são responsáveis por muitos dramas humanos, profusamente documentados. Algumas igrejas evangélicas funcionam como seitas. Há um controle da vida dos seus membros, que não podem ver televisão, ir à praia, etc. Alienação religiosa, o que é?
Lucília Neves diz-nos que parte significativa dos padres católicos é homossexual. É por isso que uma grande fatia dos abusados da Igreja é do sexo masculino. No entanto, não existe relação entre a orientação sexual e a pedofilia. A percentagem de pedófilos entre os heterossexuais e os homossexuais é semelhante.
A minha mulher-a-dias refere, frequentemente, o facto de a cristandade, entre os séculos XVI e XIX, ter praticado a escravatura a uma grande escala. Como foi possível? Isto devia fazer refletir muita boa gente. No Brasil, diz ela, a ordem religiosa dos Beneditinos era a que tinha mais escravos. Eram denominados "escravos da religião". José Tadeu, de Ansião, sempre teve o sonho de ser escravo. Também acha que o trabalho forçado foi uma soberba invenção do ser humano. Está a pensar emigrar para o Brasil, onde não raras vezes acontecem casos de trabalho escravo em explorações agrícolas. O trabalho forçado tem a virtude de reduzir em muito os custos da produção de riqueza, tal como um salário mínimo esquelético. Lara Maria pergunta-nos se na Bíblia, em Efésios, se diz que os escravos devem obedecer aos senhores?
No outro dia a minha mulher-a-dias viu na internet uma fotografia antiga que a surpreendeu. Um grupo de padres fazia a saudação nazi. Após a Segunda Guerra Mundial o Vaticano ajudou nazis a fugir à justiça, como o monstro Pavelic que chefiou os fascistas católicos croatas. Estes arrancavam os olhos às vítimas (sérvios, judeus e outros), atiravam-nas vivas para a fogueira, enterravam-nas vivas, etc. Mulheres grávidas eram esventradas, os bebés tirados e assassinados diante das mães. Não dá para acreditar. Foram criados campos de concentração para crianças, onde eram mortas. Centenas de milhares de pessoas foram assassinadas. Os próprios alemães ficaram impressionados com a crueldade dos fascistas croatas. Por curiosidade, nos EUA, a Ku Klux Klan cujo objeto social era a perseguição dos negros, considerava-se também uma organização cristã. A vida não estava fácil para as pessoas de cor. Muitas eram linchadas e, deixadas penduradas nas árvores, como ornamento. Um rapaz negro foi acusado de ter assobiado a uma mulher branca. Como castigo foi morto por brancos, tipo justiça popular. Mais tarde a "vítima" confessou à revista Vanity Fair que tinha mentido. O Vaticano ajudou nazis a fugir, dando-lhes guarida em mosteiros e documentos falsos, através da sua Comissão de Refugiados? Só pode ser mentira, afirma João Lopes, que garante que não é negacionista.
Lola Santos acha que se alguém normal estiver no meio de burros, por exemplo nazis, provavelmente não será bem tratado.
Jota Pina está convencidíssimo que Putin é a encarnação de Satanás. Clara Neto, residente em Sarilhos Grandes (Montijo) tem a certeza de que o dirigente russo é um extraterrestre que está cá para fazer confusão. "As víboras proliferam e a Terra é um lugar perigoso", sustenta a Florbela, outra das minhas inúmeras primas. Há uma "banalização do mal", para a minha mulher-a-dias. Putin, que também acha que tem uma mente de primeira grandeza, é um falso cristão, para a D. Arlete, uma vizinha minha, pois pôs de lado o mandamento "Não matarás". Ele não representa o lado certo da História. A Igreja cristã ortodoxa russa apoiou a invasão da Ucrânia. Como é possível? Que cegueira moral é esta? O impensável acontece. Insiste-se, a religião não pode estar ao serviço de malandragens. Que vale uma religião sem ética, aliada ao Diabo? Os alienados que governam a Rússia dizem, com ironia e com a maior cara-de-pau, que não se tratou de uma invasão, mas sim, de uma operação especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e, assim, por fim a uma pretensa perseguição aos russos no leste deste país. Também Hitler se queixava da opressão sofrida pelas minorias alemãs dos Sudetas (Checoslováquia) e Polónia.
João Matias, residente em Coiro da Burra (Estói), noticia-nos que tem um amigo, que é psiquiatra, que lhe confidenciou que Putin não é uma pessoa normal, uma flor que se cheire. Ele padece de transtorno mental e neste momento tem um padrão comportamental não reversível. Ou seja, ele é parte do problema, não, da solução. Estamos diante de uma pessoa que possui um sistema límbico deficiente. Um psicopata não se importa com as consequências dos seus atos, mesmo que seja uma guerra nuclear. A sobrevivência da humanidade não pode estar à mercê de mentes não saudáveis. Um dirigente político com ideias tóxicas, com ligações neurais avariadas, pode causar mais vítimas do que um vulgar "serial killer". A ideia paranóica e lunática de "espaço vital" de Hitler, à custa dos territórios eslavos, sabe-se no que deu. Há pessoas que não prestam. Os nazis viviam numa realidade paralela, perigosa. Para Putin, a Ucrânia não tem direito a existir. Este Mundo não deve ser o dos bárbaros, diz a minha mulher-a-dias. A civilização não pode ser vencida. É mau quando os países são governados por mentes deformadas, irresponsáveis e ainda por cima com armas nucleares. Isto é uma das piores coisas que pode acontecer. Putin vai ser o Hitler do séc. XXI? Quem brinca com o fogo queima-se, na opinião do papagaio de um meu conhecido. As tropas russas encheram-se de glória na Ucrânia? Em Bucha, elas liquidaram centenas de civis. O Demónio andou à solta. A Rússia considera uma provocação a acusação de que fez massacres em Bucha e Izium. Para ela, os ditos massacres não passam de uma encenação feita pelos ucranianos. Não é possível maior cinismo e gozo com a inteligência das pessoas. A verdade e a mentira (desinformação) caminham a par. Dezenas de hospitais e zonas residenciais foram atacados pelas forças russas. É a lei da selva. Na guerra vale tudo, como matar os prisioneiros? Crimes de guerra, o que é? Os aliados, na Segunda Guerra Mundial, bombardearam sistematicamente cidades alemãs e japonesas, como Hamburgo, Dresden e Tóquio (alvos civis). Devido a isso centenas de milhares de pessoas pereceram. Também no final do conflito, os soviéticos violaram centenas e centenas de milhares de mulheres alemãs e poucos soldados alemães feitos prisioneiros pelos russos regressaram vivos a casa. Soldados americanos violaram mulheres japonesas na ilha de Okinawa e mulheres francesas após a expulsão dos alemães. Tropas coloniais franceses agiram como nazis sobre os civis italianos, após o desembarque na Península. Dezenas de milhares de mulheres, homens e crianças foram violados. Houve assassínios e mutilações, como o corte de orelhas.
Há os que vendem a alma ao Diabo e são capazes de defender uma coisa e o seu contrário. A perfídia humana não tem limites, defendia o meu cão. Alguém diga a Putin, que para bem da Rússia e do Mundo, é melhor ele largar o poder. A China não condenou a invasão russa e diz que esta é culpa dos EUA e da expansão da NATO. Ou seja, o responsável não é o agressor. Temos aqui mais um problema. Como se vão comportar os dirigentes chineses neste século? A minha mulher-a-dias tem receio do regime chinês. João Lobo, de Leiria, afirma que Hitler não é a Alemanha e Putin não é a Rússia. O Reich dos mil anos, alemão, durou apenas alguns anos. Não há regimes eternos. Mentes primitivas são uma bomba-relógio. "Vivam os estúpidos e os sociopatas que nos governam", diz Lopes da Cruz, de Ansião. Já agora, lembramos as centenas de manifestantes chineses desarmados que foram assassinados na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989.
O meu cão lamentava que a maior parte dos crimes de necropolítica ficassem sem julgamento. O milhão de mortos (coisa pouca) pela covid nos EUA, deveu-se, em parte, à ação leviana do executivo americano de Trump, que minimizou a gravidade da pandemia. Na Suécia, entre outras coisas, praticou-se a eugenia de idosos com covid. Estes eram condenados à partida à morte, ao não serem ligados às máquinas. A Suécia teve uma alta taxa de mortes pela pandemia, em comparação com os países vizinhos. Alguém foi responsável. O regime do "cristão" Salazar, que usou a tortura, a censura ao pensamento, que não tinha eleições honestas, etc., foi também possível graças ao indiferentismo ético. Devido a este, há quem vote em políticos condenados por corrupção.
A despropósito, o mundo não é a preto e branco. Como se disse, os Estados Unidos, pasme-se, uma democracia do "Mundo Livre", após a Segunda Guerra Mundial, fomentaram ditaduras, um pouco por todo o Planeta. Parece que poucos repararam nisso. O mal é uma hidra de muitas cabeças e nem tudo o que parece é, defende a minha mulher-a-dias.
Os russos foram um dos povos que mais sofreu a selvageria nazi (cerca de duas dezenas de milhões de mortos). Mas antes, em 1039, o camarada Estaline e Hitler dividiram a Polónia a meias. Agora, as tropas de Putin usam de crueldade contra os ucranianos, com torturas e violações, mesmo de crianças. Houve uma inversão de papéis, em que o agredido passa a agressor. Os refugiados de guerra contam-se por milhões. Será que nenhum dirigente russo, inclusive generais, tem má-consciência pela flagelação da Ucrânia? Nenhum país pode, impunemente, invadir outro. Na cena mundial não deve haver lugar para o quero, posso e mato, frisa a minha mulher-a-dias. Putin cairá no esgoto da História, como Hitler, por todo o sofrimento que causou. Provavelmente, terá de ser parado. A Rússia deverá ajudar a pagar a reconstrução da Ucrânia.
Os burros são incapazes de se darem conta de que erram (veja-se os nazis), sustenta Lúcia Silva. Como já se disse, é custoso uma pessoa mudar de ideias, mesmo que os factos contem outra estória. O pensamento tende a cristalizar, a encerrar-se numa bolha. É difícil ter uma mente aberta. Por isso, na verdade, esta prosa peuril será como escrever na água.
Um amigo meu, lançou um feitiço contra Putin, para que este tenha um ataque de soluços permanente. Isto é um exemplo da feitiçaria ao serviço do bem.
O meu cão dizia que um dirigente político com ideias de império ou de superpotência é fonte de problemas. Tem apetência para brincar às guerras. Foi o caso de Alexandre "o grande", Napoleão, Mussolini e muitos outros. O problema de brincar às guerras é o facto de elas terem um custo em vidas.
Março de 1799. Tropas napoleónicas conquistam Jafa, na Palestina, que então pertencia ao Império Otomano. Civis são massacrados, homens, mulheres, jovens e idosos. Depois, centenas de combatentes otomanos são mortos, numa praia.
Ver para além do que os olhos alcançam é tarefa das elites, defende Luis Pacheco, de Ansião. Noticia que é também um admirador da violência. Deseja longa vida ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Pergunta-nos se a girafa tem a mania das grandezas. Diz que foi contemplado com a virtude da soberba. Informa que é um visionário muito à frente do seu tempo e é senhor de uma cabeça brilhante. Igualmente acha que a "arte" da guerra é algo natural. Confidencia-nos que gosta de maltratar animais, apesar de ser uma alma sensível. O slogan franquista "Viva la muerte" colhe a sua preferência. É pela "mortificação da carne". Considera que a indigência é natural, pois "pobres (deserdados da sorte) sempre os tereis". Ao povo basta sobreviver, costuma dizer a rir. Conclui que acabar com a pobreza em Portugal não é um desígnio nacional. Este País deverá ser um buraco civilizacional. Defende uma sociedade em que meio mundo tenta enganar o outro. O Planeta deve ser um oeste selvagem, onde reine a lei... do mais forte. Curiosamente, é pelo aperfeiçoamento espiritual. "A beleza interior é mais importante do que a mera aparência".
Firmina Santos, de não sei onde, considera indecente alguém não conseguir ter qualidade de vida. Igualmente acha que se se aceita que a pobreza é algo natural, ela jamais será erradicada, o que é evidente. Não é possível a quadratura do círculo. Paulo Lopes é a favor de um País mais ou menos, com pessoas mais ou menos.
Ana Couto revela-nos que é possuidora de uma beleza etérea e que os portugueses não são um povo frouxo, mas capaz, mesmo genial, com apurada inteligência coletiva. A prova disso é o facto de termos aproveitado os 50 anos do pós-25 de Abril para erradicar a indigência. Mundinho Santos, astrólogo, garante que o País terá um futuro radioso, como mil sóis.
O Sr. Lopes, mais conhecido por Caju, é um cidadão de quinta categoria. Ele defende que, nos dias de hoje, o verdadeiro patriotismo é não aceitar que haja portugueses sem qualidade de vida. Só existe democracia verdadeira sem pobreza.
O meu cão defende, com claro exagero, que a aceitação da pobreza e da guerra como algo que faz parte da vida (mundivisão dominante) mostra que o ser humano ainda vive na Idade das Trevas.
Lúcia Silveira, de Almada, sustenta que uma pessoa é dona do seu próprio corpo e que tem o direito de escolher a hora de partir deste Mundo. É importante o modo como se morre, sem sofrimento. João Lopes, pelo contrário, defende que uma pessoa deve perecer de uma forma natural, mesmo que isso implique um grande penar e um fim miserável.
Lurdes Coimbra, que gostaria de ter nascido galinha, acredita que o fim do Mundo está próximo. Assim não vale o esforço fazer um Planeta de excelência, onde todos tenham bem-estar. Trata-se de uma postura passiva. Para Clara Pinto, se Deus é omnipotente, bem podia fazer uma Terra onde todos tivessem qualidade de vida e os animais não se devorassem uns aos outros. João Pedro, de Nelas, viu um vídeo, em que uma zebra bebê acabada de nascer é comida logo em seguida por um leão maldoso.
Um dos objetivos desta prosa, é fazer vingar o conceito de infinito potencial (conceito matemático). Este invalida a sacrossanta teoria do crescimento económico, que se subentende infinito, o que é uma impossibilidade física, mas muitos não querem saber de verdades inconvenientes. Também um crescimento económico sem sustentabilidade ambiental é um castelo de cartas. O leitor, que é uma pessoa de talento e tem uma clarividência afiada, entende isso. Repete-se, o modo de produção e consumo vai ter de ser mudado, a bem, ou a mal com juros. Contrariamente ao que se pensa, o conceito de crescimento económico não é neutro. Por exemplo, não questiona a distribuição da riqueza. "É o direito à vida, estúpido!", cuspiu-me a minha mulher-a-dias, com a sua proverbial educação. Não se pode olhar para a árvore e não querer ver a floresta. O conceito de crescimento económico terá, mais tarde ou mais cedo, de ser trocado pelo de desenvolvimento, mais complexo, que inclui variáveis de ordem qualitativa. Para ela, se uma pessoa inteligente parte de premissas falsas, não o é assim tanto. Muitas mentes não se dão conta de que o saber possui uma dimensão qualitativa. Nem tudo se equivale. Há saberes que são estruturais, como o ler e escrever, a ideia de que uma pessoa possui o direito a ter qualidade de vida, etc.
A negra da minha mulher-a-dias, que gosta de armar-se em economista, sustenta que um coeficiente de Gini alto num país não permite erradicar a pobreza. Trata-se de uma impossibilidade técnica. Como toda a gente sabe, o coeficiente de Gini mede o nível da desigualdade. Ela suspeita mesmo que existe uma relação entre o nível de desigualdade e a dimensão da pobreza e da violência. Dá como exemplo disso os Estados Unidos, onde abundam os bairros pobres das cidades. Ela opina que se há falta de qualidade de vida, em termos teóricos não existe razão para que haja carência de trabalho. Igualmente defende que com a ciência e a técnica não se justifica que a indigência seja uma realidade. Estamos em presença de uma disfunção. Ela esclarece que não existe uma relação direta entre a pobreza e a criminalidade. A Índia apresenta uma taxa de cerca de 3 homicídios/ano por cada 100 mil habitantes. No Brasil esse valor é de cerca de 20.
O meu cão perguntava-se frequentemente por que muitas pessoas inteligentes não entendem que o crescimento económico não leva só por si à erradicação da pobreza. Problemas, como o cancro, a qualidade de vida, etc. são de natureza não simples, com soluções complexas. Para além disso, o aumento do PIB (objetivo instrumental) não pode substituir, ser um sucedâneo do objetivo final, a qualidade de vida. O Tobias (o meu cão) também não compreendia que se fale na questão ambiental, mas não, na questão social, quando as duas estão interligadas.
António Lemos informa que é um feliz contemplado com o dom da profecia e possui, também, uma bola de cristal. Teve a premonição de que a pobreza acabará em Portugal lá para as calendas gregas. João Limiano, de Odivelas, confidencia-nos que navega na sabedoria. Defende que os indigentes possuem uma vantagem, estão habituados à pobreza e são uns sortudos, pois deles é o Reino dos Céus. Igualmente opina que não é necessário todos terem lugar neste Mundo e que alguém ser abandonado à sua sorte não é nada demais.
Ana Cardoso, do Barreiro, defende que o povo tenha a sensibilidade embotada perante uma ausência de democracia, com censura, tortura, etc. Que ele olhe para as conquistas do pensamento humano como uma lesma para um palácio.
João da Cruz, do Seixal, diz que é descendente de Jack "O Estripador". Considera-se um patriotário acima de qualquer suspeita. Como disse alguém, "A Pátria não se discute". É a favor da moral e dos bons costumes e da tortura. Informa-nos que tem uma personalidade fascinante. Estranhamente, reconhece que nasceu normal, tornou-se estúpido e vai morrer nessa condição. Para ele a boçalidade é o máximo. Sustenta também que a democracia é dispensável e que para endireitar Portugal, só uma ditadura. Existe uma guerra espiritual entre a democracia corrupta e decadente e o despotismo esclarecido desejado pelos cidadãos de bem e patriotas. Há que radicalizar o povo, de modo que este conteste o resultado de quaisquer eleições, como aconteceu nos EUA, com a invasão do Capitólio (com várias mortes), após Trump perder a eleição presidencial, e no Brasil, onde as estradas foram cortadas em todo o País e se pediu um golpe militar, invocando Deus de uma forma patética. Isto, após a derrota eleitoral de Bolsonaro, em 2022. Para ele, o certo terá de levar a melhor sobre o mal. Também opina que há que desconstruir os argumentos falaciosos. Acha legítimo impor as nossas convicções aos outros e é necessário fomentar a indigência mental neste maravilhoso País. O povão deve estar alienado, para que não coloque as questões certas, pois vê-se a realidade com os óculos da cultura e do conhecimento e quem não sabe não vê. A insanidade deve reinar. Que venha o triunfo dos burros e a selva social em todo o seu esplendor. A animosidade e mesmo o ódio para com quem é diferente devem ser ensinados desde os bancos da escola. Diz que é uma pessoa de mente aberta, apesar de só se ouvir a si próprio. Desabafa que, por vezes, sente que é uma pessoa incompreendida.
Há quem cogite de uma forma avariada e faça inferências não válidas (distorções cognitivas). João Matias, de Viseu não acerta uma para a caixa. Reconhece que vive no mundo da Lua e tem a certeza de que a Terra é plana. Ninguém consegue convencê-lo do contrário. Existe quem negue a realidade e viva numa bolha. Como se disse, se for do interesse de uma pessoa não ver a girafa à frente do nariz, ela não enxergará. Os interesses funcionam como chaves cognitivas. Este é o grande princípio da Teoria do Conhecimento. É possível justificar tudo o que se queira, mesmo o injustificável. O miserabilismo e o contorcionismo mentais não têm limites.
Muita informação é como a água turva. Não existe comunicação neutra. Há quem navegue na ficção e confunda os desejos com a realidade (por exemplo, quando se diz que a economia de mercado é eficiente, apesar desta albergar largas centenas de milhões de pobres e miseráveis em todo o Mundo). De que eficiência se trata? Uma não-verdade muitas vezes afirmada vira axioma. Para muitos, a economia de mercado é eficiente por definição.
A despropósito, João Lacerda, de Lisboa, é a favor de ambientes de trabalho de cortar à faca. Igualmente defende que o errado e o mal são uma questão de ponto de vista. Na Idade Média era aceitável queimar vivos os herejes. Os exemplos são inúmeros. Não é possível uma definição clara do bem, ou escrever um texto absoluto. A teoria da relatividade diz-nos que o herói para uns pode ser o criminoso de guerra para outros. Para ele, os interesses são o melhor critério do certo. Há que ser pragmático. Os princípios muitas vezes atrapalham.
Ainda a despropósito, Lúcia Pinto opina que o comunismo vai trazer um futuro radioso para a humanidade. Também reconhece que cada um acredita no que quer, mesmo que sejam fantasias.
António Silva é adepto do negacionismo. Se uma verdade não nos agrada, deve ser posta de parte, sem apelo nem agravo. Por exemplo, a Rússia, como se disse, repudiou ter feito o massacre de Bucha e não considera a invasão da Ucrânia uma invasão. Os burros bolsonaristas diziam que muitas mortes pela covid eram devido a outras causas, isto contrariando o seu próprio Ministério da Saúde.
Carla Santos, de Palmela, esclarece que o seu Deus é o verdadeiro. Os das outras religiões não existem. Trata-se de falsas crenças (fake news). Grande parte da humanidade vive no engano, no obscurantismo, no lado errado da história. "Quem procura a verdade arrisca-se a encontrar uma não-verdade bem contada", diz com convicção. Para ela a religião não tem de servir para unir os seres humanos.
Se nada melhor tiver para fazer, pode ler este palavreado da treta (não nos levamos a sério, adoramos falácias lógicas e de distorcer os factos). A verdade é aquilo que desejamos que seja. Por exemplo, o ex-presidente Trump dos EUA dizia não haver aquecimento global. Dava como prova o facto de ter havido um Inverno recente particularmente frio. Chama-se a isto enfrentar problemas complexos com a lógica do senso-comum. Na era da pós-verdade, esta é arbitrária, não tem de estar assente na realidade dos factos. Cada um escolhe a verdade que lhe convém.
Somos pela excelência. Modéstia à parte, a qualidade das nossas imbecilidades, a sua intemporalidade e universalidade são incontestáveis. Apesar de muitas vezes vozes de burro chegarem ao céu, mesmo assim temos esperança de que este texto intragável e caótico, não terá sucesso e não conseguiremos passar a mensagem. Já agora, um eletroencefalograma que me foi feito mostra "anomalias frontais esquerdas, que indicam uma alteração funcional nessas áreas". Isto explica que esta prosa seja confusa. Temos dificuldade em fazer conexões lógicas, coisa importantíssima.
Se não gostar desta mistela de baixa cultura, recomende-a aos amigos para lhes pregar uma partida. Contudo, este texto execrável (nunca é demais estar sempre a elogiá-lo), verdadeira crueldade mental para com o leitor, pretende ser uma chicotada psicológica, como referimos. Desejamos fazer a diferença. Seremos um charco na pedrada.
Informamos que iremos sortear um automóvel entre os que conseguirem ler até ao fim esta seca. A quem conseguir engolir as primeiras 40 páginas oferecemos uma máquina de café.
O objetivo deste prosa fedorenta não é melhorar o Mundo, pois não temos grande esperança. Não acreditamos em milagres. Portugal nunca será para todos (é como uma orquestra desafinada) e a humanidade (como um sistema desordenado) vai a caminho do suicídio com o aquecimento global. O instinto de sobrevivência parece estar desligado. O ser humano está a perder a batalha do ambiente. Como é possível tamanha irresponsabilidade? Há que salvar a humanidade... de si própria, sustenta a minha mulher-a-dias. Vem aí um choque de realidade, quando se chegar ao precipício. Uma tia minha, verdadeira profeta da desgraça, tem a certeza de que já se saltou para o abismo. Ou seja, a humanidade está na zona de acreação do buraco negro. Perdeu qualquer janela de oportunidade para reverter a situação. Isto é a demonstração final de que o ser humano tem uma inteligência de alfinete, para ser mais rigoroso. O Homo "sapiens" gosta de dar socos na ponta da faca. É importante a produção de sentido. Tem de haver uma mudança de paradigma, como agora está na moda dizer.
Joana Albuquerque sustenta que as pessoas vão fritar com o aquecimento global. Este provocará uma progressivo colapso das sociedades, junto a um aumento dos níveis de violência. Muitos chorarão a bom chorar. Quando não se fazem reformas colhe-se tormentas.
Nunca é demais insistir, apesar da imensa quantidade de informação produzida hoje em dia, ela não está a acertar o alvo, pois o ser humano parece caminhar para a autodestruição. Os demónios do Apocalipse estão a soltar-se, sustentava o meu cão.
Ideias equivocadas são como uma ratoeira e a ignorância é má conselheira, dizia a minha avó. Conhecereis a verdade e ela vos libertará? É mesmo? A verdade é uma luz que não se apaga, mas muitas vezes é posta de lado, quando incomoda, ou queima.
Clara Santos defende que haja muitas mentes limitadas, amorfas, com o cérebro enquistado. Não é necessário investir na inteligência. Remata que se pode construir o futuro com mentalidades do passado e que também não desiste de Portugal.
João Caldas, de Aveiro, está convencido de que a estupidez pode causar tanto dano quanto a maldade e de boas intenções está o Inferno cheio. A política do ex-presidente sul-africano Mbeki quanto à sida terá custado dezenas de milhares de mortes. Como pode isto ter ficado impune? Mbeki recusou associar o vírus HIV à sida. A sua histriónica ministra da saúde defendia que os produtos hortículas, como o alho, a beterraba, etc. eram a melhor defesa contra a sida. Os medicamentos anti-retrovirais só tardiamente foram dados à população. Tratou-se de um caso de necropolítica. Mkebi é um exemplo de uma pessoa que não deu certo. Também, com o bolsonarismo o Brasil foi governado pela burrice e isso teve um preço alto. Lá reinou a lógica do absurdo. Por exemplo, Bolsonaro e o seu ministro da saúde resistiram a vacinar as pessoas contra a covid. As vacinas foram compradas tardiamente. Por causa disso milhares de pessoas pereceram. Também, como se referiu, combateu-se a pandemia com armas ineficazes, como a cloroquina, o "tratamento precoce", etc. Isto foi feito com a ajuda de médicos, como os da organização "Médicos pela vida", que viraram curandeiros. Como foi possível tamanho obscurantismo e necropolítica? O Brasil teve uma das mais altas taxas de mortalidade pela covid do Mundo (só 700 mil falecimentos). Nenhum país merece ser governado por malucos. Bolsonaro, que é dono de claras limitações intelectuais, achava que só o Altíssimo o podia tirar do poder. Por isso tentou dar um golpe de estado ("intervenção militar com Bolsonaro", nas palavras dos seus seguidores). Não houve golpe devido a divisões na cúpula militar. Numa reunião, em 7 de Dezembro de 2022, os comandantes do Exército e da Aeronáutica recusaram avançar para o golpe. Apenas a Marinha se mostrou disponível. Os generais que não aderiram ao golpe foram apodados de melancias, verdes por fora, mas vermelhos por dentro. Os bolsonaristas chamam-se de patriotas (da treta), cidadãos de bem e tementes a Deus. Não se reconhecem como fascistas, mas como direita conservadora. Bolsonaro elegeu-se presidente em 2018. A luta contra a corrupção foi uma das suas bandeiras. No entanto, a família Bolsonaro construiu o seu património à custa do esquema de rachadinha, por cerca de 20 anos. Esta consistia no roubo de dinheiro público, através de funcionários fantasmas (crime de peculato). Já agora, as mortes devido ao uso da cloroquina em vários países terão chegado às dezenas de milhares, coisa pouca.
Qualquer semelhança entre a realidade e o que aqui for escrito é pura coincidência. Aquela é muito pior. Esta prosa remelosa é o texto mais estúpido alguma vez feito. Foi escrito sob um ataque de não lucidez, num retiro espiritual. A revisão ortográfica foi feita pelo ex-imperador romano Nero, por quem temos uma grande não admiração. Como o leitor tem pouco tempo, esta banha-da-cobra, afogada em lugares-comuns, terá apenas 600 páginas, Adoramos palavras vazias de sentido e quem muito fala pouco acerta. A ideia inicial era escrever um trabalho de economia, tema um pouco árido. Como dourar a pílula? Assim, resolvemos fazer da primeira parte deste texto tosco uma escada para aquilo que realmente nos interessava inicialmente. Somos adeptos do formalismo intelectual e não seguimos a norma culta do Português, só para embirrar. Também gostamos de um pensamento mais ou menos, convencional. Este é como as velas de um moinho, andam, mas não saem do mesmo lugar. Apesar de simpatizarmos com o rigor intelectual, não temos compromisso absoluto com a verdade dos factos. Por exemplo, é mentira que tenha havido um filósofo da Antiguidade que tivesse afirmado que quando uma região é governada por um louco, a população sofre com tal. Isto deixa-nos de pé atrás em relação a esta prosa. Por falar em verdade, a minha mulher-a-dias sustenta que a informação errada, defeituosa é como a fruta podre, deve ser deitada fora.
Júlio Dantas, do Porto, comunica-nos que há uns dias, teve contacto com extraterrestres. Tem-se por especialista em teorias da conspiração e advinhação científica. Diz que é um idiota, pois ideias não lhe faltam. Também olha para a questão do direito ao não sofrimento e à qualidade de vida, como um pato para um palácio. A clarividência não é o seu forte. Esclarece-nos que a cidade de Los Angeles (EUA) tem dezenas de milhares de sem-abrigo. Isto é a prova irrefutável da eficiência da economia de mercado. Exista honestidade e coragem intelectual para reconhecer tal. Curiosamente, aceita que não há justiça se todos não possuírem bem-estar. Defende que o ser humano terá de amargar o pão que o Diabo amassou. Conclui que as classes sociais foram estabelecidas por Deus e o povo tem de ser habituado a engolir sapos.
Clara Farrujo, residente em Pouca Farinha (Sines), diz-nos que, no Japão, todos os anos, suicidam-se centenas de crianças devido ao assédio psicológico e físico nas escolas. Também informa que grande parte dos portugueses toma comprimidos para dormir. Isto quer dizer que a vida não está fácil. Paz de espírito, o que é?
Lena Santos, de Setúbal, comunicou-nos que os seus pais deixaram de lhe falar por ter casado com uma pessoa deficiente.
João Pires foi porteiro numa discoteca. Tinha ordens para não deixar entrar pessoas gordas, feias e pobres. Negros só eram admitidos se estivessem bem vestidos.
Rosa Weber, de Évora, é a favor da beleza excludente. Para ela existem pessoas e raças feias e pessoas e raças bonitas. Por exemplo, pobre é feio, veste-se mal, não tem modos, etc. Não poucas vezes ouve comentários bastante fortes por parte da classe trabalhadora, quando vai na rua. Noticia-nos que é dona de pensamentos profundos, com quase 300 metros. Tem a mania de que é especialmente inteligente (tal como nós) e acha-se um génio incompreendido. Diz-nos que está apaixonada pelo seu carro e pensa mesmo casar com ele. É a favor da lógica dominante. Acha aceitável que existam pessoas que venham a este mundo para não ter qualidade de vida e tal não é um insulto à inteligência. Por causa disso Portugal é um país pimba. É fixe haver portugueses de segunda, os que chucham no dedo e passam ao lado da vida. Os pobres têm de ter paciência. Esta é uma virtude. A aceitação da pobreza deve ser o mais generalizada possível. É a favor da lei do mais forte, que dispensa o contraditório. Putin é o seu ídolo. Alega que não é acertado dizer que este Mundo é um oceano de estupidez.
Maria Neto, residente em Luanda, elucida-nos que o cérebro humano vem com um defeito de fabrico. As dissonâncias cognitivas fazem parte da sua natureza (isto levou-nos a criar um algoritmo, que esteve na base da feitura desta prosa insalubre). Ela acha que a ignorância enfrenta-se com o conhecimento. A burrice não há como. Diz que as coisas e as pessoas transportam informação. Isto faz com que atuem umas sobre as outras e se modifiquem. Por exemplo, o código genético leva ao surgir da vida. O movimento é inerente ao mundo. O modo como as pessoas veem a realidade determina o como agem. Sistemas complexos, como as sociedades, evoluem de acordo com a informação que carregam.
Sílvio Gomes, residente na Papua-Nova Guiné, considera-se um especialista em coisa nenhuma. Pergunta se os portugueses têm bons neurónios e se o leitor, que nos está a ler, é inteligente. Se é, prove-o, faça um país onde todos tenham qualidade de vida (destino manifesto). Isto é uma questão de engenharia social e um desafio intelectual.
O que fazemos, ou não, depende da nossa visão do mundo e do que sabemos. Sobre a mesma realidade observável duas pessoas podem enxergá-la de maneira diferente (chama-se a isto polissemia). Por exemplo, uma achará que a pobreza é aceitável (narrativa dominante) e não se esforçará para acabar com ela. Outra considerará isso não admissível, pois trata-se de uma questão de moral social, de direitos humanos. Por causa disso existe quem não veja o óbvio, ou se recuse a fazê-lo. Não se pode aceitar coisas que não fazem sentido. Existe uma batalha entre a verdade e a sua ocultação, defende a minha mulher-a-dias. A guerra de narrativas e de percepções é constante.
Um aparte, a minha mulher-a-dias (Leonor Santana) tem um parente afastado, no Maranhão (Brasil), de nome Júlio Santana, que exerceu a profissão de assassino de aluguer. Cometeu 492 homicídios. Reformou-se em 2006 e era uma pessoa religiosa. Ele foi iniciado nessa vida por um tio policial, que fazia horas extras como matador. Amiúde, não se sabe quem é quem, coisa do Diabo. Como se referiu, não poucas vezes a realidade ultrapassa a ficção e por causa de tal custa acreditar que muitas coisas tenham acontecido. Júlio Santana não foi incomodado pelas autoridades, pois fazia execuções extra-judiciais para as ditas (as chamadas "queima de arquivo"). A estória de Júlio Santana foi passada a livro e depois, ao cinema. Grande parte da realidade é subterrânea e não vem à tona.
Uma curiosidade, a minha mulher-a-dias questiona-se sobre o que determina que as galáxias tenham uma forma espiralada e não esférica e se distribuam no Universo em filamentos, como teias de aranha. Ela também é obcecada pela questão do vazio. Este é relativo e não, absoluto. Quando abrimos uma gaveta vazia, ela, na verdade, tem ar. O mesmo acontece com o espaço entre as estrelas, ou entre os átomos, por exemplo. O vazio (vácuo quântico, ou oceano quântico para a minha mulher-a-dias) é como um fluido, é uma das várias faces da realidade, da mesma forma que a matéria e a energia, que se transformam uma na outra. Uma prova de que o espaço não é um vazio é a sua viscosidade, que impede que a luz se desloque a mais de 300 mil km por segundo. Ela defende que não se pode reduzir a realidade à sua aparência, como acontece no realismo ingénuo. Por exemplo, os fotões, os electrões, etc. não são bolinhas, embora pareçam comportar-se como tal, em certas ocasiões. O facto de um eletrão conseguir passar por dois buracos ao mesmo tempo, tal como faz uma onda, prova que também pode apresentar uma faceta ondulatória. Na verdade, as micropartículas não são partículas, mas sim perturbações no oceano quântico, como as ondas do mar que carregam energia (energia das ondas). Uma moeda tem duas faces, que não nos mostram os átomos de que é feita. A aparência não é a essência. O Sol parece andar à volta da Terra, mas é o contrário que acontece. No oceano quântico coexistem vários campos, como o gravitacional, o electromagnético, etc., como os vários peixes de um aquário e que têm uma origem comum. Neste momento já foram detectadas ondas gravitacionais, resultantes da colisão de dois buracos negros. Um eletrão quando muda a sua energia (quando recebe ou larga um fotão) desaparece para surgir noutra órbita. Não existe magia. As ondas do mar deslocam-se, mas a água encontra-se parada. O mesmo se passa com as ondas sonoras. O estar apaixonado, ou a estupidez são coisas virtuais, não possuem materialidade, mas têm consequências a nível do comportamento. Do mesmo modo, as partículas do oceano quântico são "virtuais", por terem um baixo nível de energia. Contudo, sem elas não é possível a nossa existência. Tal como não há força da gravidade, (o que acontece é que o espaço é curvo), também as galáxias não se afastam umas das outras. O que se trata é que o espaço está em expansão e por causa disso o céu é escuro à noite. As galáxias limitam-se a ser transportadas por essa expansão. Para "curtas" distâncias, a curvatura do espaço faz com que as galáxias se aproximem. Quanto mais longe estão as galáxias umas das outras, maior a velocidade de afastamento. Também defende que não é possível subdividir infinitamente o espaço. Ou seja, ele é composto por unidades discretas (quanta do espaço), que são como os tijolos do espaço.
Para a minha mulher-a-dias, Deus joga aos dados. Assim o nosso Universo é um dos possíveis. Não se consegue prever a evolução do mesmo, embora as suas atuais características determinem as balizas dentro das quais se fará essa evolução. Por isso ela não aceita a ideia de morte térmica do Universo, como se este tivesse um estádio final de vida. O Universo é um concerto sem fim, adquirindo sempre novas qualidades. O nível de energia do vácuo é metaestável. Isso quer dizer que existe a probabilidade de num ponto do Universo o vácuo decair para um nível de energia ainda mais baixo. Tal significa uma "explosão" que se propagará à velocidade da luz em todas as direções do Universo e este adquirirá uma nova configuração. Se isto acontecer, ou já aconteceu numa zona do espaço que se expande a uma velocidade superior à da luz relativamente à Terra, nós jamais seremos alcançados pelo Apocalipse, pelo Big Bang. Assim, coexistirão Universos. Por aqui se vê que ela fala do que não sabe. Só mais uma coisa, ela sustenta que se um comboio se deslocasse à velocidade da luz, o seu comprimento diminuiria, tenderia para zero. Também defende contra tudo e contra todos que sendo o tempo relativístico não é possível, não faz sentido, determinar de uma forma absoluta a idade do atual Universo. Por aqui se vê que ela confunde ficção científica com ciência.
Vejamos agora uma estória edificante: A Bíblia conta que um profeta, que ia na rua, é gozado por crianças, por ser careca. Ele diz a Deus para castigá-las e elas são mortas. Deus não faria tal coisa, sustenta a minha mulher-a-dias. Um Papa (Bento XVI) afirmou que nem tudo está na Bíblia e nem tudo o que se encontra nela é verdade. Não existem textos perfeitos, com exceção desta prosa palerma que está a ler.
Miguel Santos, de Aveiro, defende que o hábito não faz o monge. Existe quem acredite em Deus e cometa atentados terroristas em nome do Divino. A minha mulher-a-dias acha que aqueles que usam a religião para fins ínvios estão a atacá-la. O fanatismo religioso é um cavalo de Tróia do Diabo, perito no disfarce e na mentira. A ignorância é um aliado dele (cabeça vazia, oficina de Satã). Também acentua que o busílis do ser humano é a sua caixa das ideias. Tem um problema de raciocínio, de comportamento, que o leva a ser disfuncional. Ela considera aberrante existirem pessoas sem qualidade de vida, mas há quem não consiga ver tal e não queira dar-se ao trabalho de pensar. Não se pode ser acrílico, acéfalo. Defende que não é possível resolver a questão ambiental, sem a questão social (acesso de todos à qualidade de vida), mas também existe quem seja incapaz de alcançar isso, mesmo a martelo.
Portugal é um país por resolver, como se disse. Somos donos de uma não-solução para ele e não temos razão antes de tempo. Igualmente para o meu canídeo, o semiselvagem do Homo "sapiens", além de pouco inteligente (falta de discernimento, de capacidade cognitiva), é o principal inimigo de si próprio, como se frisou. Tem o ovo da serpente na cabeça, o seu lado obscuro, coisa que temos mostrado à saciedade.
Para a minha mulher-a-dias, o facto de o ser humano carregar Satanás dentro de si permite compreender grande parte do seu comportamento. Para ela a teoria científica do Diabo representa claramente o que a Teoria da Relatividade significou para a Física.
Há situações que não deviam acontecer, mas muitos têm a sensibilidade avariada. A falta de humanismo volta-se contra o ser humano. É uma receita para o desastre.
Damos voz aos que a têm e também estamos aqui para dar música. Somos pela informação-espetáculo, populista, com muito fogo-de-artifício, com bastante bravata. Para nós tem razão quem grita mais alto. A autenticidade é o nosso lema. Este texto será ligeiro (light), para não cansar o cérebro, apesar do leitor ter uma inteligência altamente, que não é binária, mas capaz de subtilezas analíticas. Se existem verdades que incomodam, fale-se delas, pois elas libertam (o que arde desinfeta).
Esta Nação sublime tem uma ferida, apesar do génio português e da sua indesmentível gloriosa história. Bastantes passam ao lado da vida, como se referiu. Existem "os que estão proibidos de ser" (o cerne da questão). Trata-se da banalização do absurdo. Um meu avô dizia que "um bom negócio (em sentido lato) é quando todos ganham". Há uns anos, num muro de Santarém que delimitava um quintal abandonado, podia ler-se: "A Pátria não será para todos! Alimente esta ideia".
João Semana, de Coimbra, diz-nos que gostaria de ser fabricante de tapetes voadores. Informa que professa um patriotismo balofo e tudo o que faz, ou pensa tem a marca do génio. Noticia-nos que, graças ao progresso científico no campo da fertilização, conseguiu engravidar à quarta tentativa. Também se o leitor quiser ajudar-nos a produzir textos estúpidos e fazer com que nos tornemos ricos (queremos levar uma vida de glamour), poderá dar a sua contribuição. No final deste texto repelente encontrará o número da nossa conta bancária. O peditório terá a duração de um mês.
Notícia de última hora atrasada (Fevereiro de 2020): Uma importante organização de escuteiros americana abriu falência, por causa das idemnizações às vítimas de pedofilia no seu seio. Durante dezenas de anos, milhares de abusadores vitimaram crianças. A realidade não é tão beatífica quanto se julga.
Outra notícia atrasada: Aurora Furtado, ligada à guerrilha de esquerda, foi torturada e morta pela ditadura militar brasileira (1964/85), à margem do estado de direito. Os torturadores arrancaram-lhe as unhas das mãos e dos pés e os bicos dos seios. Partiram o maxilar e um braço e puseram um torniquete na cabeça, chamado "coroa de Cristo". À medida que o torniquete foi sendo apertado, o crânio começou a estilhaçar e a pressão intracraneana fez um olho saltar para fora da órbita. A Inquisição medieval não faria melhor.
A minha mulher-a-dias pergunta como pode um fascista ser cristão, se Deus não é fascista? Inversão de valores? O que é?
Lola Flores, de Alpiarça, pede um minuto de silêncio por George Floyd, um negro que foi assassinado (5/2020) por um polícia quando estava imobilizado no chão. O polícial asfixiou-o, pondo o joelho na garganta. A agonia durou vários minutos e foi filmada. "Não consigo respirar", foram as suas últimas palavras. Este episódio não foi caso único.
O mundo não é prefeito e exagera. Não se pode negar a realidade, passar o pano. Durante séculos, os cristãos praticaram a escravatura. Milhões de negros foram sequestrados de África e levados para trabalhar no continente americano. O meu filho Pedrito, de 6 anos, pergunta se uma pessoa pode ser cristã e praticar a escravidão, a tortura, etc. Para ele o ser humano sofre de falta de consciência ética. Quando existe um software mental defeituoso as coisas não podem correr bem. A correção de uma mundividência, de uma teoria política, ou económica é dada pela qualidade de vida que produz. Não há outro critério.
João Martins, de Alijó, diz que já foi vítima de mau-olhado. Tem uma licenciatura em ignorância. Defende o direito à indignação seletiva. Por isso não se passa com o facto de haver seres humanos a viver na rua, mas revolta-se quando vê alguém deitar lixo para o chão. É pela decência e elevação moral. A elegância dos seus pensamentos soa-lhe a música. Informa-nos que é também uma pessoa autêntica, mas está possuído pelo Diabo. Já fez dois exorcismos. Um com um padre católico e outro com um pastor evangélico, mas não teve sucesso. Opina que a ignorância é uma benção e que a democracia é compatível com a existência de indivíduos sem qualidade de vida. Acha importante que as pessoas estejam alienadas e não tenham dois dedos de testa. Para ele, quem é ignorante tem dificuldade em apreender a complexidade do real, apenas consegue ter uma visão redutora. Os cidadãos de segunda têm de comer e calar. Direitos laborais vão contra a economia. Isto deverá ser a lógica social. O objetivo de acabar com a pobreza cheira-lhe a socialismo, a subversão. Direitos humanos e justiça social quanto baste, não é preciso exagerar. Há que pensar numa fasquia baixa. Portugal deverá ser um país medíocre, de pouca qualidade, com um índice minguado de desenvolvimento humano. Diz que é a favor de uma realidade onde a verdade e a não-verdade, o certo e o errado se confundem. O joio deve estar misturado com o trigo. Defende um pensamento sem clarividência. A mentira é válida se, por uma boa causa. A ignorância liberta e com ela a "vida acontece", há magia.
Carolina Semedo também adora o rigor intelectual, uma condição para chegar à verdade. Informa-nos que o primeiro dos direitos humanos é o direito à qualidade de vida e não abre mão disto. Tal é claro como a água, embora, repete-se, haja quem seja incapaz de internalizar esta verdade incontornável. Com a ciência e a técnica não há razão para as pessoas vegetarem na pobreza. É importante mudar o modo de pensar o mundo em que vivemos. Uma cultura primitiva é um impedimento ao desenvolvimento e à qualidade de vida. Tem esperança que as luzes alcancem o cérebro humano, apesar deste ser algo limitado. Por isso há muitos com estreiteza de vistas (o nosso caso). No tempo da ciência e da técnica considera um erro estratégico existirem pessoas sem bem-estar. Não pode deixar de vingar uma mudança de paradigma, como se referiu. Ela avisa que sem instrumentos conceptuais adequados o ser humano não vai longe. Mentes limitadas têm um desempenho a condizer. Diz que a ciência e a técnica não levam necessariamente ao fim da pobreza e à qualidade de vida, são um fetiche. Aliás, paradoxalmente, em termos absolutos nunca houve tantos pobres e famélicos na Terra como na atualidade.
João Pires afirma que viu um poste urinar num cão. É um especialista em comportamento animal, incluindo o humano, e não entende também que, estando Portugal a abarrotar de pessoas inteligentes, ainda não se tenha conseguido fazer um país onde todos usufruam do bem-estar.
Américo Pinto informa que fala com almas do outro mundo, pois vive numa casa assombrada. Tem fé de que a estupidez vencerá a inteligência. Está esperançado que os totalitarismos levem a melhor sobre a democracia. Vamos ver. Também defende uma moral meramente formal.
Lurdes Neto sustenta que é uma mentira dizer que o oxigénio, o ferro e outros elementos da Terra tenham sido fabricados, há muitíssimos milhões de anos, em estrelas que explodiram e os espalharam pelo espaço. É falso que milhões de anos depois, dessa poeira cósmica se tenha formado o Sistema Solar. A Bíblia diz textualmente que tudo o que existe foi criado em 6 dias. Não nos podemos deixar enganar por Satanás, remata. A verdade não pode ser espezinhada.
Júlia Dias informa que o gato e o ser humano têm material genético idêntico na ordem dos 90%. Relativamente à vaca esse valor baixa para 80% e quanto à banana esse número está abaixo dos 50%. Somos todos parentes, uns mais afastados do que outros.
Susana Dias, de Elvas, afirma que não entende como os aviões voam, se não batem as asas. Acha pouco importante o cérebro pensar com correção. É pelo retrocesso intelectual, por uma narrativa retrógrada. Por exemplo, não é burrice dizer que o casamento é indissolúvel, quando existem divórcios, que provam o oposto. É bom desconectar-se da realidade, andar na bizarria das dissonâncias cognitivas. Chama-se a isto estreiteza mental, como se o pensar não tivesse de ter lógica. Assim abre-se a porta ao arbítrio, vale tudo. Para ela a cegueira do entendimento e os raciocínios falaciosos são nada de grave. É a favor de uma visão distorcida do mundo, de um pensar medíocre.
O grande filósofo chinês Confúcio dizia, há séculos, que devemos sempre apoiar-nos na razão. Mas em pleno séc. XXI parece que existem muitos que não querem seguir este caminho (a objetividade pouco importa) e até preferem enveredar por uma cultura regressiva. A ciência da burrice está bastante disseminada, afirma perentoriamente a minha mulher-a-dias. Muitos são incapazes de acordar para a realidade, vivem no mito. Que Deus, que é infinita sabedoria, tenha dó daqueles que navegam na santa ignorância e num pensar balofo, acrescenta. "Deus não é o da indigência mental". É impressionante o primarismo de alguns cristãos evangélicos. Um "bispo" evangélico brasileiro disse que se alguém tiver uma ferida na perna, ou uma dor de cabeça que não curam, tal deve-se à presença de um espírito maligno, de um demónio. Não se pode buscar alimento espiritual na tolice. Muitos evangélicos brasileiros, entre eles pastores, foram apoiantes do presidente Bolsonaro, um admirador da ditadura de Pinochet e da ditadura militar brasileira. Como é possível tal falência moral? Deus e o Diabo estão confundidos numa mistura perigosa. A religião não pode ser obscurantismo e ficar refém de extremismos políticos e religiosos, diz a minha mulher-a-dias. Um raciocínio disfuncional tem consequências que podem ser graves.
Já agora, o ex-presidente Lula, do Brasil, em entrevista a uma televisão portuguesa (2/4/2021), afirmou que a Venezuela é uma democracia e que o ditador Maduro tinha a grandeza de um estadista. Organizações como a Amnistia Internacional dizem que, na Venezuela, há desaparecimentos de pessoas, tortura, execuções extra-judiciais, etc.
O ser humano anda no fio da navalha. O Homo estupidus, qual aprendiz de feiticeiro, com o aquecimento global vai em direção ao abismo, ao colapso ambiental, como se disse. A loucura é possível. Como se pode ser tão lerda? Com a ciência e a técnica, o ser humano consegue destruir em pouco mais de duzentos anos aquilo que levou milhões a criar. Esta é igualmente uma situação paradoxal. É difícil ter o sentido da realidade. Muitos não têm consciência da dimensão do calvário que os obtusos têm provocado ao longo da história.
Outros exemplos de um pensar gripado: crer que as vacinas são prejudiciais (nos EUA ressurgiu a poliomielite, o sarampo, etc.), a homeopatia não é um embuste, a Terra é plana, o Anticristo já está no Planeta e o fim do Mundo está próximo, etc. Existe quem viva numa existência virtual, fora da lógica do real.
A convencida da minha mulher-a-dias acha que fez outra grande descoberta: Deus é pela democracia e contra as ditaduras, mesmo que disfarçadas com uma capa religiosa. "Não se pode oprimir em nome de Deus, os totalitarismos são obra do Diabo e neles mandam os burros". Nem mais. Alerta para o facto dos reacionários tenderem a encostar-se a Deus, como uma carraça a um cão. Vá lá saber-se porquê. O golpe militar brasileiro de 1964 foi precedido por uma "Marcha da Família com Deus pela Liberdade". O general Videla, pai da sanguinária ditadura militar argentina (1976/83), na sua tomada de posse como presidente, pede sabedoria a "Deus Nosso Senhor". Salazar sustentava que não se discute Deus, a Pátria e a família. A minha mulher-a dias, que não gosta de subtilezas semânticas, afirma que entre o fascismo e o comunismo, venha o Diabo e escolha. São farinha do mesmo saco. Defende que sem cultura democrática a democracia tende a não sobreviver. É como um peixe fora de água. Há muitos exemplos disso, infelizmente. Foi o caso do Egipto, Turquia, Rússia, etc. Bastantes processos de democratização fracassam.
Nunca é demais lembrar os milhões de mortos do nazismo e dos gulags do camarada Estaline. É a necropolítica, uma descida aos infernos. As ditaduras fazem vir ao cimo o que de pior há no ser humano. Os torcionários deitam-se sem problemas de consciência. Os nazis e os estalinistas disfarçavam-se envergando a máscara do patriotismo. A infâmia veste o fato da virtude. A História tem crucificado milhões de pessoas. Quando existe uma visão da realidade disfuncional, abre-se a porta à tempestade. O caminho da civilização, do progresso é tortuoso.
Shakespeare afirmou, com exagero, que "Assim que nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos".
Jorge Semedo diz-nos que é um adepto da idiocracia (governo dos idiotas) e do terrorismo de Estado e que os crimes cometidos neste âmbito não devem ser punidos. Os sociopatas, com mentes doentias, têm direito a governar países. Não devem ser discriminados. Nada há de mal nos recuos civilizacionais, na banditagem do Estado, muitas vezes atuando à margem do Direito. O camarada Estaline achava que não se devia tratar os inimigos do povo de uma forma branda. A lata do lixo da História está repleta.
A minha mulher-a-dias defende que, tal como nas prisões, os totalitarismos tendem a concentrar um maior número de sociopatas na área do poder. Estes, como se sabe, são funcionalmente incapazes de ter empatia pelas pessoas .
Lurdes Bento considera que os totalitarismos são uma aberração, como uma epidemia que mata. Vê tempestades no horizonte. Segundo ela a humanidade é como o Titanic em risco de afundar.
O ex-presidente brasileiro Bolsonaro rejeitava o conceito de direitos humanos (que associava a direitos dos bandidos) e é um fã de um brilhante torturador da ditadura militar, o coronel Ustra. Para ele só existem ditaduras de esquerda. Esta cegueira intelectual era igualmente partilhada, entre outros, pelo dirigente comunista português Álvaro Cunhal, que não via ditadura alguma na ex-União Soviética. Como se dirá amiúde, a mente humana é muito retorcida.
A minha mulher-a-dias afirma que os ditadores e torcionários da América Latina, na segunda metade do séc. XX, também aparentavam um patriotismo à prova de bala. Mas como se pode ser patriota se se tortura e assassina compatriotas? Igualmente faziam questão de enfatizar a sua condição de cristãos devotos. É preciso ter lata. A quase totalidade deles foi incapaz de reconhecer os seus crimes. Legitimavam as suas práticas nazis com os chavões da luta contra a subversão, contra o terrorismo e o comunismo. Para isso valia tudo. A barbárie foi infinita. Os regimes militares não discriminavam as detidas grávidas. Elas eram igualmente supliciadas e violadas, sim, violadas. Centenas de pessoas foram torturadas até morrerem. No Brasil até crianças foram seviciadas pelo regime militar. Foi a banalização do mal. Estranha concepção do amor ao próximo.
A barragem de Itaipu custou várias vezes o orçamentado. José Jobim, diplomata brasileiro, revelou, em 1979, que iria denunciar a corrupção que envolveu a construção da dita. Dias depois é assassinado pelo regime militar. Oficialmente suicidou-se. Mas como é credível tal, se apresentava marcas de ter sido torturado?
Existe quem queira branquear o regime militar do Chile com o seu bom desempenho económico, como se uma coisa justificasse a outra. De 1973 a 1990 o PIB chileno per capita teve uma média de crescimento anual superior a 1%. Mas de 1970 a 1987 os pobres passaram de 20% para mais de 40% da população. No Brasil, durante a ditadura militar o PIB per capita de 261 dólares em 1964 cresce várias vezes até 1985. Mas nesse período o salário mínimo real caiu 50%. Houve criação de riqueza, mas o bolo não foi dado a todos. Para o provar temos o florescimento das favelas, uma imagem de marca do Brasil. Este país é um dos mais polarizados do Mundo. A esperança de vida pode variar mais de 10 anos entre as classes sociais, o que revela a dimensão do abismo social. Todos somos filhos de Deus, mas uns são mais iguais do que outros. Não existem ditaduras militares politicamente neutras e a pobreza generalizada potencia criminalidade generalizada. No Brasil a taxa de não resolução dos homicídios é superior a 90%. É a quase impunidade.
João Santinha afirma que bandido bom é bandido morto e acredita na suposta eficácia de tal princípio. Por isso defende a existência de esquadrões da morte atuando à margem do estado de direito, como aconteceu no Brasil. Neste país, como se frisou, as milícias viraram elas próprias organizações criminosas, praticando, por exemplo, exações mafiosas e tráfico de droga. Jair Bolsonaro em várias ocasiões pronunciou-se a favor das ditas e chegou a elogiar o miliciano e ex-policial Adriano da Nóbrega, que foi morto pela polícia em 2/2020. Adriano chefiava uma milícia especializada em mortes por encomenda, que tinha o curioso nome de "Escritório do Crime", do qual faziam parte ex-policiais. Adriano foi condecorado por Flávio Bolsonaro (medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), quando já estava preso, acusado de assassínio. A esposa e a mãe do capitão Adriano eram assalariadas do deputado Flávio, filho do presidente Bolsonaro. O milicianismo paramilitar, que, como se disse, inicialmente tinha ligações com as forças de segurança, é uma ameaça que paira sobre o Brasil. Nele o policial e o crime tendiam a confundir-se. Um dos lemas de Bolsonaro pai é "Brasil acima de todos, Deus acima de tudo". Que Deus nos guarde dos estúpidos que governam países, afirma a minha mulher-a-dias. Para ela, o bolsonarismo é um caso de estudo.
A minha mulher-a-dias diz que a história do Brasil mostra que ali a democracia tende a estalar facilmente. Ela também sustenta que o Brasil é um grande país, com mais de duzentos milhões de habitantes. A maioria são pobres. Metade da população não tem saneamento básico.
É desolador que num referendo em 1988, 46% dos chilenos escolhesse continuar em ditadura. A indiferença de mentes embotadas aliou-se às bestas, aos sociopatas, desabafou a minha mulher-a-dias. Lamenta também que ainda que haja nostálgicos de Hitler, Estaline e de outros totalitarismos, sejam eles de direita, ou de esquerda. Os burros são teimosos. Para eles não existem conquistas do pensamento humano.
As Forças Armadas brasileiras declararam em Agosto de 2014 que no período da ditadura não se praticou tortura nas instituições militares. Para a minha mulher-a-dias esta negação da realidade, este cinismo, esta imensa desonestidade intelectual goza com a inteligência das pessoas. Os crimes da ditadura militar ficaram impunes.
Durante a ditadura militar brasileira, elementos ligados às forças de segurança cometeram atentados terroristas de bandeira falsa, de modo a atribuí-los a organizações de esquerda. A imaginação não tem limites. O mais famoso foi o atentado falhado de Riocentro em 1981. Uma das bombas explodiu nas mãos de um dos operacionais. Teve azar.
Jorge Pedro, do Fundão, defende que os militares de todos os países deviam ter uma cultura não democrática, para que os cidadãos se sintam receosos das suas forças armadas. Estas não deviam estar subordinadas ao poder político, mas sim, ser um estado dentro do Estado. Se as circunstâncias o exigirem, devem tomar conta do próprio Estado. É legítima uma contra-revolução preventiva, um desvio de funções. Um exército deve garantir a ordem e estar atento ao inimigo interno, quiçá mais perigoso do que o inimigo externo. Esta é a sua doutrina militar. Myanmar (Birmânia) é um exemplo de um país sequestrado pelo seu exército.
Carlos Pinto esclarece-nos que é um adversário fidagal da qualidade e profundidade do pensamento. Juliana Torrão, que se considera uma pessoa empolgada, é pela redenção da humanidade, através do espalhar da ignorância. Haja pouca massa cinzenta e uma regressão intelectual.
Joana Lima, de Pombal, informa-nos que as cobras perderam as patas devido a um castigo de Deus e não, por efeito da evolução das espécies. Também acha fantasioso afirmar que as aves evoluíram a partir de dinossauros e que o hipopótamo é primo da baleia. Igualmente é ridículo dizer que as fendas branquiais e a cauda que aparecem no feto humano mostram que tivemos um antepassado que vivia na água e, outro, mais tarde, que tinha cauda. Deplora que o Papa João Paulo II tenha dito que o Evolucionismo era mais do que uma hipótese. Condescende que os ignorantes são os que possuem maiores certezas e que existem bastantes mentes ancoradas no passado.
Manuel Carrasco, de Bragança, informa-nos que acredita na superioridade do homem branco e tem muito orgulho em ser um ignorante. Acrescenta que é um revoltado sem causa, está à beira de um ataque de nervos e apetece-lhe partir a loiça toda. Não sabe de onde lhe brota tanta cólera. Ainda acha que "Angola é nossa".
Pedro Torres afirma que se dá bem com as suas dissonâncias cognitivas. Gosta de estar preso a um pensamento anquilosado, circular, sem saltos conceptuais. Adora argumentações falaciosas, sem inferências válidas, sem rigor lógico. É a favor da verdade, mas mitigada (tem com ela uma relação ambivalente).
João Venâncio igualmente é um fã do obscurantismo, que, admite, é uma arma de Satã. Tem fé em que esta genuína doença espiritual jamais será derrotada. Nada de análises finas da realidade e o rigor e a honestidade intelectual são dispensáveis.
Luisa Damião reconhece que é uma ave rara, embora considere que está conectada com Deus. Afirma que vive em estado de beatitude e igualmente considera a liberdade de raciocínio perigosa. Daí que ela esteja proibida em vastas zonas do Globo. Há que aprisionar o pensamento e matar o espírito crítico das pessoas. Elas têm de ser crédulas e não raciocinar pela própria cabeça. Também pensa que é legítimo impor as nossas ideias aos outros. O obscurantismo há de levar a melhor. Acha que a ética e a religião não têm de andar juntas, como se não houvesse distinção entre o certo e o errado, o que é uma abominação. Como se observou, no passado cristãos e muçulmanos praticaram a escravatura durante séculos (como foi possível?). A cristã Rússia só aboliu a servidão em 1861 e a Arábia Saudita só em 1963 acabou legalmente com a escravatura. Frequentemente a violência e a religião andaram de mãos dadas. Luisa Damião é pela involução civilizacional, coisa que já aconteceu por diversas vezes ao longo da história, por exemplo, com o nazismo, com os talibãs no Afeganistão, etc. Reconhece que há quem enterre a cabeça na areia ao dar de caras com uma verdade que não lhe agrada. Refere que, sobre as cruzadas contra os muçulmanos, o Papa Urbano II afirmou "Deus o quer". Como se diz, na Bíblia, em Eclesiastes, há um tempo de paz e há um tempo de guerra.
Anacleto Bastos, de Pombal, considera a escravatura uma história gloriosa do nosso passado. Mais informa que atualmente, no Mundo, existem milhões de escravos. Não dá para acreditar. Na Bíblia (por exemplo, em Timóteo) diz-se que os escravos devem obedecer aos senhores. No passado a Bíblia foi usada para justificar o trabalho escravo. Fantástico.
A minha mulher-a-dias afirma que a economia deve produzir qualidade de vida. Por isso a escravatura e a exploração laboral da globalização não são aceitáveis. Existe uma cegueira ética quando os interesses falam mais alto.
Por falar em cegueira, Rui Lemos escreveu-nos a dizer que andava a ver mal e foi ao médico. Este disse-lhe para limpar os óculos. Também existem pessoas que, precisando ou não dos ditos, não conseguem enxergar certas coisas.
João Sampaio informa-nos que é uma pessoa que emana energias positivas. Acredita também em estórias da Carochinha e na teoria do crescimento económico infinito (um viés cognitivo). É por um pensamento sem grande inteligência, sem análises finas. Adora o formalismo intelectual, presente, por exemplo, em grande parte da produção filosófica. Obsolescência do pensamento? O que é?
Graça Lopes, residente em Paris, agradece-nos a boa-nova trazida por este texto de filosofia barata: A Pátria não é para todos, o que fere a inteligência. Neste país, abençoado por Deus, a pobreza deverá acabar daqui a uns milhões de anos. Acha que há uma coisa mais difícil do que escalar o Everest: mudar as mentalidades, sobretudo quando se encalha na indigência mental e se tem o cérebro blindado.
A D. Armandinha diz-nos que anda perplexa. Os cristãos têm a certeza de que os não-cristãos vão para o Inferno. Os muçulmanos garantem que os não-muçulmanos cairão no fogo eterno. Os budistas e os taoistas não acreditam na fogueira divina. Algo aqui não bate certo. Quem fala verdade? Em que ficamos?
João Tocha esclarece-nos que quem não acreditar em Satanás não é um verdadeiro cristão, ou um verdadeiro muçulmano. A Bíblia diz que Deus, um dia, fez uma aposta com o Diabo. A maior parte das religiões não aceitam que o Demónio exista, o que é um erro crasso.
Para Alice Pinto, os fundamentalistas islâmicos, que matam em nome de Deus, têm uma ideia primitiva e sanguinária do mesmo e acham-se cheios de razão. Para a minha mulher-a-dias, como se disse, o fanatismo religioso é obra de Satã.
Carlota Peres informa-nos que conseguiu fazer passar um carro pelo buraco de uma agulha e que o relativismo é uma doutrina perniciosa, como se as todas as verdades tivessem o mesmo valor. Também acha que a verdade é o que desejamos que seja. Ela é arbitrária, uma questão cultural, depende de uma escolha. É o que acontece com as ideias dominantes em cada época histórica, seja a nível político, económico, ou religioso. Repete-se, a verdade é a narrativa que vingou. As ideias dominantes tendem a ser o critério de avaliação das outras (veja-se o caso Galileu). As verdades são historicamente relativas. Há aquelas que assentam na mentira factual. Por exemplo, os malucos dos nazis afirmavam que os arianos eram uma raça superior. Contrariamente ao que muitos pensam, não existem verdades absolutas, com exceção desta prosa tosca de exercícios espirituais.
Lúcio Lopes, de S. Paulo (Brasil), defende que o pensamento tem muita força. Diz que com o olhar consegue dobrar colheres e facas de metal. Igualmente gosta de colocar questões pertinentes. Como foi possível que num país cristão como a Alemanha, a maior parte da população, inclusive os militares, tivesse apoiado em algum momento a loucura nazi? Que cegueira é esta?
A teoria da relatividade mostra que não é possível fazer um discurso absoluto sobre a realidade. Ou seja, não se pode contentar gregos e troianos. Assim procuraremos não agradar nem a uns, nem a outros. Também aqui diremos que a economia sem direitos humanos só pode dar mau resultado, é como alimentar o monstro. Vale uma aposta?
João Pina, de Olhão, pergunta-nos se os portugueses são muito inteligentes, ou mais ou menos. Perguntar não ofende.
Frase da semana: "Os burros não veem, nem querem ver o óbvio e nunca dão o braço a torcer."
Como se referiu, Salazar e outros como ele foram e são insuficientemente inteligentes para entender que a tortura, a censura do pensamento e a ausência de eleições honestas são uma iniquidade. A minha mulher-a-dias acha que as intermináveis guerras ao longo da história provam que o ser humano é um lerda, que inúmeras vezes age sem misericórdia, como um bárbaro. O Diabo tem reinado na Terra e não Deus, é científico. Para ela, a Inquisição foi obra de Lúcifer. O Homo sapiens está alienado e devia fazer psicoterapia.
Já agora, o magnífico ex-presidente do Brasil, Bolsonaro, disse que era a favor da tortura: "O cara tem de ser arrebentado para abrir a boca". Também defende que o aquecimento global é uma treta. Com Bolsonaro as raposas passaram a ficar com a guarda do galinheiro, na opinião de um conhecido meu.
Bolsonaro disse que Hitler tinha sido mais benéfico do que maléfico para a Alemanha e que uma minoria de pessoas considerava Hitler um monstro. Também afirmou que eficiente foi a cavalaria americana que exterminou os índios e agora (os americanos) não têm esse problema. Não é possível maior boçalidade. Bolsonaro dá ideia de ser sociopata. Ele parece ter uma fixação pela violência, o que não é saudável. Aliás, quando jovem, foi levado a julgamento militar pela tentativa de realizar atentados terroristas à bomba. Acabou absolvido. Como é possível que tal indivíduo tenha sido eleito presidente de um país?
Lucimar Moreira, na esteira de vários pastores evangélicos, afirma que Bolsonaro na presidência foi obra da Providência Divina e todos os dias reza por ele. Nilza Santos defende que a tortura é admissível contra os terroristas. João Lima sustenta que as pessoas de bem, decentes e e patrióticas têm o direito de acabar com os bandidos. Para ele, um social-democrata é um comunista disfarçado, um melancia. Afirma que só consegue pensar por chavões. Reconhece que sofre de primarismo mental e navega no surrealismo.
A polémica da minha mulher-a-dias enfatiza que cerca de 30% dos brasileiros aceitam viver em ditadura. Já em 1950 os brasileiros elegeram para presidente o antigo ditador Getúlio Vargas, criador do "Estado Novo".
A pandemia do coronavÍrus mostra o quanto perigoso é um país ser governado por alguém histriónico, como Trump e Bolsonaro. Eles têm dificuldade em compreender a gravidade e a complexidade dos problemas. Não são parte da solução, mas sim, como uma pessoa que apaga um fogo com gasolina. Se juntarmos a isto a grande pobreza do Brasil e a ausência de um serviço de saúde universal gratuito nos EUA, estes dois países tiveram uma catástrofe humanitária, com centenas de milhares de mortos. O exemplo a seguir é o das nações que conseguiram controlar a pandemia, como o Vietname, Nova Zelândia, Coreia do Sul, China, Japão, etc.
No Brasil, como se disse, a ignorância comandou a luta contra a covid. Os pouco inteligentes bolsonaristas defenderam deixar a pandemia seguir o seu curso, para atingir uma mítica imunidade de rebanho. Isto, segundo eles, permitiria a economia continuar a funcionar, pois o Brasil não podia parar. Na verdade, em termos práticos, tratou-se de um genocídio (vai ficar impune?). Os iluminados que governavam o Brasil simplesmente não compreendiam que a sua solução era uma não-solução, mas um desastre. Bolsonaro ignorou ostensivamente as recomendações das organizações da saúde, como o distanciamento social, o uso de máscaras, promoveu ajuntamentos, deu abraços, etc. Para além disso fez campanha contra as vacinas. Para ele a prioridade era o falso tratamento precoce.
A tragédia do coronavírus no Brasil é a repetição do que aconteceu neste país com a epidemia de febre amarela de 1849/50. O poder político tendeu a negar a gravidade do problema e demorou, ou não tomou medidas de prevenção, como a quarentena. Os médicos que alertaram para o perigo foram hostilizados. Em consequência disso houve uma mortandade. Também durante a ditadura militar uma epidemia de meningite foi abafada, o que teve um custo em vidas.
Carlos Ameal acha que um dirigente político não deve ser julgado por uma gestão danosa e demencial da coisa pública.
Bolsonaro decretou um jejum para o dia 5/4/2020, como forma de luta contra a pandemia, o que é risível. Para a minha mulher-a-dias, Deus estava pelos cabelos com Bolsonaro. Um presidente de um estado com várias crenças não pode ter um posicionamento religioso, mas há quem não entenda isso. Em 19/4/2020 Bolsonaro discursou numa manifestação fascista (frente ao Quartel-General do exército), que pedia um golpe militar, o fechamento do Congresso e do Tribunal Superior de Justiça e mesmo o AI-5. O Ato Institucional 5 foi o decreto que endureceu a ditadura militar, em 1968. O ex-presidente brasileiro tinha dificuldade em governar com uma imprensa livre, com o legislativo e com o judiciário. Daí ter partido para a diabolização destes poderes. Em 1999 Bolsonaro, numa entrevista, disse que se um dia fosse presidente avançaria para uma ditadura. Também defendeu friamente a morte do ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso. E depois ainda tem a lata de dizer que é cristão.
É impressionante o analfabetismo mental dos apoiantes do ex-presidente brasileiro. Tal é acompanhado pelo ódio aos adversários políticos. Muitos deles desesperaram por um golpe militar para varrer a esquerdalha. Era hora de contar as espingardas. Ansiavam por um tempo de facas longas.
Lino Santos, de Gaia, é pelos salários de pobreza. Não tem grandes inquietações sociais. Salários de indigência criam pobreza e perdedores estruturais, evidente, um círculo vicioso. Por isso, para a minha mulher-a-dias, não constituem uma solução de equilíbrio, segundo a Teoria dos Jogos.
Por falar em exploração laboral, para um conhecido meu, durante quase um século, a Igreja Católica esteve cega, omissa perante a inaudita exploração dos trabalhadores (incluindo crianças) durante a Revolução Industrial, iniciada nos finais do séc. XVIII. A situação miserável das classes baixas era vista como uma consequência da degradação moral das ditas. Culpava-se as vítimas pela situação lastimável em que viviam, como no bairro East End de Londres, o que era fonte de epidemias. Só em 1981 a encíclica Rerum Novarum falou em salários justos e em justiça social. Por que neste momento a doutrina social da Igreja (católica) parece estar esquecida numa gaveta? Por que a grande maioria dos evangélicos não se debruça sobre a questão social? Por que para muitos crentes a questão da democracia é pouco importante? Culto da ignorância, existe?
Júlio Pinto, de Évora, disse a uma vizinha que o facto de existirem grupos de animais, como as aves, os répteis, os primatas, etc., com grandes semelhanças anatómicas entre si, era a prova de que tinham um antepassado comum. Isto também é comprovado pela quase total semelhança genética, por exemplo, entre o gorila, o chimpanzé e o ser humano. Ela retorquiu que ele era Satanás e que ela não era prima de nenhum macaco. O que é científico é que Adão, há seis mil anos, foi o primeiro homem (feito do barro) e a partir de uma costela dele foi clonada a Eva, a primeira mulher e isto não é nenhuma fantasia. Para ela a datação radiológica é uma invencionice do Diabo. Curiosamente, se havia coisa que não suportava eram as mentes limitadas e a idiotice armada em sabedura. Rematou que os factos não penetram num alienado e um estúpido dificilmente consegue sair dessa situação. Virou-lhe as costas, nunca mais lhe falou e nunca mais namoraram a ver televisão.
Josefina Lapa, que acredita na reencarnação, diz-nos que acha interessante o criacionismo hindu. Esclarece-nos a razão por que a Bíblia não fala do surgimento dos micróbios e dos dinaussauros aquando da criação do Mundo. No tempo em que foi escrita a Bíblia, não se sabia que tais criaturas existiam.
Júlia Dias opina ingenuamente que a questão da Catalunha da vizinha Espanha é do foro político e não jurídico, ou outro. A solução terá que ser política. Devia-se seguir a via encontrada para a questão da Escócia e da Checoslováquia. Casamentos forçados não resultam. Soluções de força não são soluções. Era bom que se aprendesse com a História. Também acha que a Europa não deve ter presos políticos.
Aproveitamos para recordar a grande fome da Irlanda de 1845/9, na qual morreram centenas de milhares pessoas, devido a uma doença da batata. Não se proibiu a exportação de alimentos irlandeses e a proibição de importar cereais só foi abolida tardiamente. Isto aliviaria a tragédia. O ser humano é levado da breca. Recordemos as tropelias do cristianíssimo Leopoldo II da Bélgica no Congo (exploração brutal dos negros) e o massacre de dezenas de milhares de arménios pelo Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial (1914/18). Já me esquecia, também será bom lembrar os massacres se Sabra e Chatila, de 1982, levado a cabo pelos "cristãos" libaneses. Centenas de palestinos foram mortos. Isto foi feito com a cumplicidade dos soldados israelitas. Tal crime ficou impune. Para Júlia Silva, Israel devia pedir perdão por este ato nazi.
Juliana Antónia, de Arcozelo, informa-nos que faz parte de uma associação sem fins lucrativos destinada a fomentar a contaminação ambiental, tendo em vista o incremento da epidemia do cancro. Todos somos poucos para realizar tal. Também acha que devemos encharcar as crianças com açúcar, para que mais tarde se tornem diabéticas.
A D. Aninhas, de Alcochete, diz que teve um sonho em que Deus lhe comunicou que uma pessoa que está numa situação de sofrimento incurável tem direito a pôr termo à vida. Não é ético e revela uma enorme falta de humanidade e de amor ao próximo obrigá-la a padecer em agonia. A pobre coitada está mesmo convencida de que recebeu um recado do Altíssimo e de que não se tratou de um simples sonho.
José Lopes, de Leiria, diz que a sua profissão é como abrir buracos para depois os tapar. Informa que leva uma vida virtuosa e que se devia combater a imoralidade. Por exemplo, duas pessoas que vivem juntas, mas não casadas, estão em situação degradante. Refere também o caso do matemático de inteligência artificial Alan Turing que era homossexual, coisa imoral e ilegal no seu tempo. Foi preso pela polícia e obrigado a fazer um tratamento com hormonas para "curar-se". Suicidou-se com estricnina em 1954. Acha que devia haver uma polícia de costumes, como em alguns países, para a implementação de uma conduta sã. Turing teve um papel importante na Segunda Guerra Mundial ao decifrar os códigos de comunicação dos alemães.
O meu vizinho Horácio tem uma pseudoteoria interessante. Ele diz que o meu piriquito é incapaz de conceber televisões, automóveis, etc., pois o seu cérebro é pouco desenvolvido. Apenas consegue levar a cabo operações mentais de baixa complexidade. O mesmo se passa com o ser humano. Ele é incapaz de fazer uma sociedade sem violência e onde todos tenham qualidade de vida. A História mostra bem isso. Que não se tenha ilusões.
João Lara, de Lisboa, diz que anda a tomar um elixir da juventude. Reconhece que a vida não é uma pêra doce para muitos. Informa-nos que é pela excelência e a Serra dos Candeeiros tem esse nome, pois possui muitos dos ditos. Na última vez que lá foi contou 686. Refere que é dono de uma mente inspirada. É um iluminado (apesar de ter uma visão frívola da realidade). Acha que é preciso refundar Portugal e que as ideias daninhas (lixo) devem ser derrotadas. Também para ele, o certo e o errado são uma questão de ponto de vista e de pragmatismo. O que o preocupa é o seu umbigo. Não pensa em termos sociais. Possui uma ideia de Portugal restrita. Considera igualmente que a Pátria não tem problemas de direitos humanos, pois a falta de qualidade de vida não vai contra os ditos. Há que desvalorizar as queixas daqueles que não têm bem-estar. Contudo, aceita que uma existência sem dignidade é uma vida desperdiçada. Defende que não é importante fazer uma sociedade e uma Terra como deve ser, onde todos usufruam do bem-estar. Tal roça a utopia e, tal como nós, não acredita em milagres. Sustenta que quanto mais o povo for ignaro, mais feliz. No entanto, condescende que o modo como vemos o que nos rodeia é crucial, pois determina o fazer e reconhece que uma cultura atrasada pode bloquear um país. Há uma luta no terreno da informação para moldar a visão que as pessoas têm da realidade, pois vê-se com o cérebro. Que se expanda a falta de clarividência, confidencia-nos. À ralé deve ser dada informação de pouca qualidade (palha), para que pense pequenino, tenha uma sensibilidade embotada e só consiga dizer boçalidades (vacuidade mental). Que ela navegue na ignorância (abençoada seja), não consiga distinguir o trigo do joio e abordar os problemas de uma forma sistémica, isto para falar caro. Há que combater a qualidade do pensamento, pois na terra dos cegos quem possui um olho é rei. Não concorda que ideias erradas (informação tóxica) são como o tabaco, fazem mal (entravam a qualidade de vida) e são difíceis de largar. Não partilha a tese de que existe um fracasso intelectual do ser humano (a maior parte dos habitantes do Planeta vive na pobreza e muita gente não sabe, nem se incomoda com tal). Também diz que é um patriota, mas não como aqueles que só o são da boca para fora, e este País será o que os seus habitantes quiserem. Para ele os portugueses são como uma família. Finaliza que aquilo que o move é o amor pela humanidade.
Pedro Santos informa-nos que no Panteão Nacional estão sepultadas as grandes figuras da Pátria, como Óscar Carmona, que participou no golpe militar que em 1926 instaurou a ditadura. Durante mais de duas décadas Óscar Carmona foi o presidente da república do regime totalitário de Salazar, a chamada "democracia orgânica". Para a minha mulher-a-dias há heróis com pés de barro. Carla Benavente dá a sugestão de, no Panteão, trocar Óscar Carmona pelo poeta popular António Aleixo.
José Pádua diz que concorda com o facto de uma pessoa ir para a prisão por não ter dinheiro para pagar uma multa. Ninguém o manda ser pobre.
Lurdes Castro informa que se nos Estados Unidos alguém pretender criar um serviço nacional de saúde gratuito, para que todos tenham acesso a cuidados, será acusado de socialista, o que é quase o mesmo que comunista.
Joana Lopes, de Ansião, esclarece-nos a importância da ignorância. Se alguém possuir um vocabulário reduzido e poucos conceitos, grande parte da realidade passa-lhe despercebida, não conseguirá enxergá-la. Se quisermos impedir o progresso devemos investir na ignorância.
Perguntas de cultura geral. Numa corrida de 2 metros entre um caracol e a Justiça portuguesa quem vence? O caracol, claro. Nas antigas colónias europeias, aqueles que lutaram contra as metrópoles eram combatentes pela independência, ou terroristas? A verdade é relativa? A democracia política sem a democracia económica é coxa? O salário de uma pessoa devia dar para ela viver com dignidade? A qualidade de vida depende da qualidade e profundidade do pensamento, em suma, da qualidade da informação?
Rui Sabino, de Mafra, deixa aqui um conselho para tornar a Justiça mais lenta. Em vez da simplificação processual, deve-se agir no sentido contrário. Há que complicar o que é simples. Opina que o formalismo judicial é mais importante do que a justiça em si.
Esta é uma pintura feita pelo meu cão Tobias.
Vamos agora começar a parte mais chata desta prosa. Para João Lemos, a existência dos sem-abrigo é uma vergonha para qualquer sociedade. Dezembro de 2019, um ator, que vivia em situação de pobreza, foi encontrado morto na tenda onde morava, em Sintra.
Ana Odete, de Ermesinde, esclarece-nos que, apesar de Portugal ser um país pimba, pois parte significativa da população não possui qualidade de vida, ainda assim é uma grande nação.
João Ramada, de Évora, diz que não é avisado deixar que a pobreza se eternize (caldo perigoso) e que devemos desconstruir muitas das mensagens que recebemos, pois o mundo é ilusório, já dizia Platão. Frequentemente, aquilo que pensamos ser a realidade não é. É preciso esgravatar.
Como se disse, para o meu cão existe uma relação entre a falta de bem-estar e o subdesenvolvimento mental. Se algo se encontra mal, tem de haver uma explicação e, evidentemente, uma solução. Nem todos encontram lugar neste mundo. A realidade é teimosa, difícil de mudar. O ser humano não é uma obra-prima, não é de fiar e é difícil endireitar a sombra de uma árvore torta. Por isso, na nossa imodesta opinião, o mundo tem andado aos tropeções.
Apelamos a que se faça uma subscrição pública, para erguer um contramonumento que lembre as elites iluminadas que atiraram o País para a falência em 2010/11. Muitos bateram com a cabeça na parede. Caíram no desemprego, ou viram falir as suas empresas, ou negócios. É por estas e por outras que Portugal tem dificuldade em desenvolver-se.
Aproveitamos para expressar o nosso pesar pelo povo venezuelano, que vive no absurdo da bancarrota. Vai ser difícil sair do poço. Ali a qualidade de vida anda pela hora da morte. Vários milhões de pessoas abandonaram o País. É mau quando os burros governam uma nação. A estupidez abissal existe, está provado. É de espantar que esta e o pensar medíocre, não poucas vezes, levem de vencida a inteligência, que tem de andar fugida. Veja-se o caso de Galileu, que foi perseguido com afinco por mentes limitadas e teve mesmo de retratar-se de joelhos. É difícil lutar contra os asnos e, impossível convencê-los do que quer que seja.
A partir de 1945 e durante dezenas de anos, centenas de crianças do coro católico da catedral de Regensburger, na Alemanha, sofreram maus-tratos físicos e sexuais. Dezenas de criminosos ficaram impunes. Fevereiro de 2019, o Papa Francisco falou no abuso sexual de freiras por padres e bispos. Muitas vezes não se sabe quem é quem. O que leva a tais situações sistémicas? Para já, sabe-se de mais de 800 religiosas abusadas. O ser humano parece estar agarrado à violência, nas suas mais diversas formas. A Inquisição (Santo Ofício), que durou séculos, com as suas torturas e queima, sim, queima de pessoas vivas (mártires de outras fés), não foi uma história de bondade, uma obra pia, mas, um exemplo da selva social. Há coisas que só são santas de nome. Os autos-de-fé eram uma antevisão do que espera os pecadores, infiéis e ateus (incrédulos) no Inferno.
Alguns inquisidores foram mais tarde considerados santos (qual o significado disto?). Amiúde, o errado passa a certo, um verdadeiro jogo de máscaras. Para a D. Josefina, a safadeza e o Diabo frequentemente andam com pezinhos de lã. Satã é pai da mentira e do disfarce. Por isso muitas vezes é difícil distinguir o certo do errado. Para ela a grande imoralidade é haver pessoas sem qualidade de vida, mas isto não entra na cabeça de muita gente.
A católica Alice Campos sustenta que se Jesus tivesse vindo à Terra na Idade Média, teria ardido numa fogueira da Inquisição.
S. Agostinho (séc. IV e V) fala em "perseguição justa" aos de outras fés. Séculos mais tarde S. Tomás de Aquino escreve "Os hereges merecem ser suprimidos do mundo pela morte". Como é possível ser santo e advogar a perseguição e a morte dos hereges? Elementar. Não se pode ser acrítico, acéfalo. O Papa Martinho V (1417-31) pede ao rei da Polónia para exterminar os (protestantes) hussitas. "Queime, massacre, faça desertos por toda a parte".
A D. Bernardete, de Arcozelo, também defende que se uma verdade não nos agrada, devemos virar a cara a ela, por mais óbvia que seja. Para Jorge Semedo não há maior estúpido do que aquele que não quer ver e os burros são o principal problema da humanidade.
No mundo dos lobos manda a lei dos ditos e a roda da História trucida milhões de pessoas, diz-nos Avelar Pinto. Os protestantes não foram mais tolerantes e tiveram uma especial afeição pela caça às bruxas. A mãe do astrónomo Kepler foi acusada de bruxaria. Lutero escreveu "exterminei os camponeses (protestantes anabatistas) revoltados, ordenei-lhes os suplícios". Mente sã? O que é? Lutero e Calvino defendiam a pena de morte para os hereges, ou seja, aqueles que não pensavam como eles. Lutero chamou louco a Copérnico por este defender que a Terra andava à volta do Sol. O Parlamento inglês decretou em 1652 que os sacerdotes católicos deviam ser pendurados, decapitados e esquartejados.
Ser Sábio? Para quê? Um padre católico brasileiro, num vídeo que está, ou estava na internet, defendia que o "Santo" Ofício foi uma "coisa boa", "um ato de caridade". Assim o bem e o mal são uma questão de ponto de vista. Que o digam as mais de mil pessoas queimadas vivas pelos tribunais da Inquisição de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, entre 1540 e 1794. Ouve-se e não se acredita. Como é possível justificar o injustificável? Mas que mundo e cegueira é esta? Em Sevilha, Novembro de 1481, foram queimadas vivas mais de 200 pessoas. O Papa João Paulo II pediu perdão pelas tropelias da Inquisição, isto para usar um eufemismo. À revelia desta posição, ainda há setores ligados à Igreja que consideram a Inquisição incompreendida e vítima de uma campanha malévola. Alguns ainda a chamam de santa. Existem mentes cinzentas que não têm cura.
O meu cão, também considera que o ser humano tem uma anomalia a nível do metabolismo cerebral. Tende a produzir sinapses defeituosas. Dá como exemplo o séc. XX, um século da ciência e da técnica, que foi bastante violento.
Para a minha mulher-a-dias ver é dar significado. O Papa Gregório IX (o criador da Inquisição em 1233), numa bula papal, considera os gatos pretos seres diabólicos. Por isso os gatos não tiveram vida fácil há séculos. Num concílio em Constantinopla ter-se-á discutido quantos anjos cabiam na cabeça de um alfinete. Daí falar-se em "questões bizantinas". Como se disse, os nazis consideravam os arianos uma raça superior. Distorções cognitivas, surrealistas, levam a comportamentos anómalos, o último dos quais é a caminhada para o desastre provocada pelo aquecimento global. Trata-se da falência total do pensamento estratégico e da inteligência coletiva. Podemos já estar num ponto de não retorno. Será a vitória em toda a linha da estupidez. O Planeta dos burros terá chegado ao fim. As elites bem podem limpar as mãos à parede. O fracasso da Cimeira do Clima de 2019, em Madrid, quer dizer que as pessoas irão para o matadouro, isto na opinião de Lemos Pais.
Anabela Lopes diz que no passado Deus, com o Dilúvio, apesar de misericordioso, decidiu exterminar a humanidade, com exceção de meia-dúzia de pessoas. Ela pensa que Deus, com o aquecimento global, resolveu outra vez fazer o mesmo.
Uma curiosidade, no séc. XIX, as potências europeias conquistam zonas da China. Numa das cidades ocupadas, havia à entrada de um jardim uma placa que proibia o acesso a cães e a... chineses. A Inglaterra virou traficante de drogas ao introduzir na China o ópio produzido na Índia. Isto esteve na base da Primeira Guerra do Ópio (1840/42). O Tratado de Pequim de 1860 finalizou a submissão da China pelos "bárbaros" ocidentais.
Sobre os protestos de 2019 em Hong Kong, o presidente chinês afirmou que "Tentativas de dividir a China apenas resultarão em corpos esmagados e ossos partidos". Fica o aviso.
Borges Lima, de Anadia, pede um minuto de silêncio pelas dezenas de milhões de chineses mortos pela fome, em consequência do fracasso do plano económico "Grande Salto em Frente", de 1958. Oficialmente houve "apenas" 13 milhões de vítimas. Adianta que o escritor Lao She foi levado ao suicídio, em 1966, tal como outros, pelo fanatismo da Revolução Cultural. As vítimas contam-se aos milhares. Pobres chineses.
Odete Castro aproveita para lembrar-nos a perseguição de que foram ou são vítimas as minorias muçulmanas de Myanmar (Birmânia) e da China.
Num mundo civilizado uma pessoa é livre de exprimir o seu pensamento. Numa sociedade atrasada tem de ter cuidado.
Para a minha mulher-a-dias a história mostra que a vontade e a palavra de Deus não é o que qualquer um diz. Em nome do Altíssimo cometeram-se demasiadas malfeitorias. Como se disse, para ela a vontade e o plano divinos são fazer um Planeta onde todos tenham qualidade de vida. Este é o caminho, o lado certo da história, mas os obtusos não entendem tal.
Não existe verdade absoluta. Por exemplo, cada religião tem a sua. Os muçulmanos permitiam aos judeus e cristãos praticarem as respetivas religiões, a troco de um imposto. A Inquisição, na Europa e mais tarde nas colónias, foi o meio de garantir que a única religião praticada seria a católica. Trata-se de exercer um controlo social através do controlo das mentes e que aqui assume uma forma religiosa. A Inquisição portuguesa tinha uma fixação pelos cristãos-novos (descendentes dos judeus), que foram discriminados e perseguidos. O "Santo" Ofício possuía alguns instrumentos de tortura. Alguém defendeu que o mal da humanidade são os estúpidos com a sua pobreza mental.
Lena Gomes, de Outeiro, também pede um minuto de silêncio pelo genocídio de milhões, sim, milhões de indígenas americanos, levado a cabo pelos cristãos europeus, após a descoberta da América por Cristóvão Colombo, em 1492. Os exércitos cristãos encheram-se de glória com este feito? Como foi possível tal coisa?
Para Carla Santos parece que Deus não é contra a tortura. O que é o Inferno senão um tormento permanente com o fogo? Deus também dá a ideia de não ser a favor da liberdade de pensamento, pois, na Bíblia, advoga reiteradamente a morte dos infiéis, por exemplo, em Dt 12:30. Deus parece não ser contra a escravatura e a exploração laboral. Em Josué 9:21-27, Deus amaldiçoa os gibeonitas a serem escravos dos judeus para sempre. Deus dá a ideia de não ser a favor de uma sociedade em que todos tenham qualidade de vida, pois fala várias vezes em escravos. Em Coríntios 28, os israelitas matam 120 000 homens e escravizam 200 000 mulheres e crianças, porque estes "abandonaram o Senhor, Deus de seus pais". Em Jeremias 21:9-13, Deus diz para os judeus renderem-se aos caldeus e tornarem-se escravos deles (qual a lógica disto?). Em Levítico 26:16-39 Deus diz "comereis a carne de vossos filhos". Noutra parte da Bíblia pode-se ler "Cozemos, pois, o meu filho e o comemos". As mulheres mataram, ferveram e comeram as próprias crianças por causa de uma peste que o Senhor enviou (II Rs 6:28-29, II Rs 6:33). Isto parece mostrar que Deus aceitava o canibalismo dos filhos pelos pais, como forma de castigo. Em Josué 10:12-13, Deus faz o Sol parar, para que Josué mate o maior número de inimigos antes do anoitecer. Isto, para além da crueldade da cena, trata-se claramente de uma "fake new". É a Terra que se move e não o Sol, mas nessa época pensava-se o contrário. Se Deus parasse de repente o movimento de rotação do Planeta, as pessoas seriam projetadas à velocidade de vários quilómetros por segundo. Em Nm 15:32-36, os israelitas acham um homem que apanhava lenha ao Sábado. Deus ordena que ele seja liquidado à pedrada. É espantoso ler os argumentos daqueles que tentam justificar esta ordem bárbara. Como se disse, a mente humana é retorcida, capaz dos maiores malabarismos. Imagine-se se nos dias de hoje se matasse quem trabalha ao Sábado.
Para além de ter uma visão geocêntrica (a Terra como centro do Cosmos), a Bíblia considera o Globo plano. Nela diz-se, por exemplo, que Deus de um ponto vê toda a Terra. Tal deve-se ao pouco avanço do saber naquela época, apesar do grego Eratóstenes ter comprovado que era esférica e calculado a circunferência da mesma, pela medida da diferença das sombras de varas colocadas em diferentes latitudes.
Outra curiosidade, na Bíblia afirma-se que mais vale arrancar um olho do que ir parar ao Inferno. No Alcorão há descrições do Inferno que são de arrepiar, capazes de causar pesadelos. Já agora, para quem não sabe, o Deus dos muçulmanos é o Deus de Abraão, que por sua vez é o Deus dos judeus e dos cristãos.
Notícia de última hora: Recebemos um email do Papa dizendo que ficou entusiasmado com o nosso texto. Essa da vontade de Deus, de fazer um mundo onde todos tenham bem-estar é credível e bacana. Onde nos leva esta verdade? pergunta.
Semedo Castro, de Pinhel, é a favor de uma cultura de violência. Aliás, bate na mulher com alguma frequência. Ironiza que de vez em quando pica o ponto. Informa que em Portugal, uma grande parte dos idosos é vítima de maus-tratos (cerca de 40%, coisa pouca). Considera que o argumento da força é intrinsecamente superior. É um apaixonado pela "arte da guerra". Também é adepto do complexo militar-industrial. Hitler tirou a Alemanha da recessão, através de uma política económica expansionista baseada no rearmamento. Os Estados Unidos com a Segunda Guerra Mundial viu reforçado o seu poderio industrial. Admira a cultura do ódio dos nazis.
Para o meu cão Tobias a história da humanidade constitui uma grande tribulação. Para muitos a vida é um presente envenenado. A inteligência do Homo sapiens de pouco lhe serviu, foi uma ratoeira, um pau de dois bicos. Ele dizia que o desenvolvimento sem direitos humanos não é possível, mas existe quem não entenda isso. Parecia-lhe mesmo que há pessoas apostadas em pensar pequenino, em ter uma mentalidade arcaica, quando possuem todas as condições para não trilhar essa via.
Existe quem deseje passar o pano na realidade e não queira enxergar o óbvio. Uma sensibilidade embotada não permite que se veja o elefante. A complexidade do real passa-lhe ao lado, como se disse. Se o ser humano tiver um pensar turvo o futuro não será glorioso. A estupidez tem custos.
1864, EUA, massacre de Sand Creek, cerca de 600 índios cheyennes, incluindo crianças, foram assassinados pelo exército. Para além dos escalpes (prática comum), os soldados arrancaram os genitais das mulheres para os exibir como troféus. Antes, em 1813, um ataque dos índios Creek fez mais de 500 mortos entre a população branca: "mataram as crianças, segurando-as pelas pernas e batendo com as suas cabeças contra a paliçada; arrancaram os escalpes das mulheres e as que estavam grávidas foram abertas, ainda vivas, sendo-lhes retirado do ventre os fetos em gestação".
1931, Nova Iorque. O chefe da máfia Giuseppe Masseria é assassinado. Na sua mão é posta a carta da morte, o ás de copas.
Mssacre de El Mozote, 1981, El Salvador (América Latina): O glorioso exército de El Salvador, partindo do princípio de que os camponeses eram a retaguarda da guerrilha, massacrou centenas de civis de várias aldeias. Os homens foram torturados antes de serem mortos. As mulheres mais jovens foram violadas antes de serem eliminadas. Centenas de crianças, sim, centenas de crianças foram assassinadas. O tenente coronel Domingo Monterrosa, um dos principais responsáveis do crime, foi considerado herói nacional pelo Congresso de El Salvador. O exército deste país, contra todas as inúmeras provas, nega ter levado a cabo o massacre. A farsa e a barbárie andam juntas. Os nazis não fariam melhor.
Aproveitamos também para lembrar o massacre de My Lai, em 1968, no Vietname e o de Katyn, na Polónia, em1940 (milhares de polacos são assassinados pelos soviéticos). Crimes de guerra? O que é? Igualmente podemos referir o Massacre de S. Bartolomeu, em 1572, na França, em que foram mortos milhares de huguenotes (protestantes calvinistas) pelos católicos.
Já agora, a má qualidade do ar mata por ano, em Portugal, vários milhares de pessoas, mas isto parece não preocupar muita gente. Se um grupo criminoso liquidasse num ano algumas dezenas de indivíduos, andaria tudo num alvoroço. É a cultura, boa ou má, que sinaliza a relevância que damos a cada um dos aspetos da realidade.
A despropósito, isso da palavra de Deus tem que se lhe diga, para João Borges. Ele afirma que os inúmeros deuses das muitas civilizações tornam plausível considerar, na sua modesta opinião, que foram os homens que criaram os deuses e não o contrário. Os credos, tal como os idiomas, tendem a nascer e a fenecer com as culturas em que se inserem. Há inúmeras religiões mortas, pois aqueles que as praticavam deixaram de existir.
Para Lúcia Parra, de Beja, existem religiões bárbaras, primitivas, como a dos antigos Astecas do México, que praticavam sacrifícios humanos.
Cada cultura tende a possuir a sua explicação para o aparecimento do Mundo. Assim há ou existiram múltiplas teorias criacionistas, que são uma explicação pré-científica do surgimento da realidade. Para os Astecas o Sol surgiu quando uma divindade se sacrificou numa fogueira e se transformou nele. Para os índios Zuni (América do Norte) o deus Manitu fecundou o mar ao afundar-se nele, produzindo uma espuma da qual nasceu a terra seca, que após ter sido coberta pelo Céu, deu origem à vida. Para os Polinésios a Terra e o Céu nasceram no interior de uma concha celeste. Curiosamente o surgir de tudo o que existe a partir de um ovo primordial é comum a vários mitos da criação. Na tradição chinesa o mundo foi criado por Pun Ku, que nasceu de um ovo cósmico. A teoria da relatividade não nos permite afirmar que uma teoria criacionista é verdadeira e as outras, falsas. Todas elas têm igual validade.
A Bíblia diz que Deus ao sétimo dia da Criação descansou. Mas Deus cansa-se? pergunta Ricardo Lopes. Os livros sagrados das várias religiões divergem. A verdade para uns não é para outros. Assim coloca-se a questão de saber qual a palavra de Deus. Muitas religiões não acreditam no fim do Mundo e no Juízo Final. Os cristãos creem que o Anticristo e Jesus hão de vir à Terra aquando do fim do Mundo. Os judeus não. Os protestantes e os islamitas acusam os católicos de idólatras (culto das imagens e dos santos). Os hindus creem na reencarnação e numa multiplicidade de deuses. Consideram as vacas seres sagrados. O Deus dos judeus, cristãos e muçulmanos é tão verdadeiro como os deuses Brahma, Vishnu e Shiva do hinduísmo, ou os de outras civilizações. Cada um tem fé no que quer. Não existe uma doutrina mais verdadeira do que as outras.
Carlos Pena, de Penafiel, acha a lei divina superior, apesar de haver várias. Refere que na Bíblia (onde?) afirma-se que nada é puro para os infiéis e estes têm um apetite de violência. Há aqui um cheirinho a intolerância.
Ana Leandro diz que o Mundo tem 6000 anos e vai acabar no ano 2000, apesar de estarmos em 2022. Floresçam a árvore do obscurantismo e as mentes limitadas e crédulas. Reconhece que há quem tenha um pensar disfuncional e não consiga sair disso. Também defende que a qualidade de vida tem uma importância relativa (basta dar esmola aos pobres). O que interessa verdadeiramente é a vida eterna e tal não é uma alienação. Sustenta que o Inferno situa-se por baixo da crosta terrestre e se a furarmos bem fundo podemos ouvir os gritos das almas supliciadas. Finaliza que não é importante ter os pés assentes na realidade. Defende que o Anticristo já está na Terra e é bom navegar na idiotice.
Deus arrependeu-se de ter criado o ser humano e, como se frisou, com o Dilúvio, resolveu exterminar a humanidade (incluindo velhos, mulheres e crianças), com exceção da família de Noé (8 pessoas). Qual a lógica disto?
Noé construiu uma embarcação com 135 metros e meteu lá dentro milhões de espécies diferentes de todo o Globo: cangurus da Austrália, pinguins da Antártida, ursos polares, macacos e cobras do Continente Americano, girafas, elefantes, leões, tigres, crocodilos, hipopótamos, etc., para que não desaparecessem da face da Terra. Só ao fim de um ano, quando as águas baixaram (para onde?), é que todos puderam sair da arca. Será que ainda ninguém reparou que isto é uma impossibilidade física, uma fantasia? A verdade interessa? Como é possível reunir milhões de seres vivos, incluindo plantas, e ainda por cima de todo o Planeta? Como é possível fazê-los caber num barco, assim como aos mantimentos de um ano? Como é possível 8 pessoas cuidarem de milhões de animais?
A Bíblia afirma que as pessoas antes do Dilúvio viviam centenas de anos. Também fala nos querubins (seres de quatro cabeças e com asas) e nos nefilins (gigantes maldosos nascidos do cruzamento de mulheres com anjos rebeldes a Deus). Igualmente refere-se a "gafanhotos" que, aquando do fim do Mundo, irão torturar os hereges de tal modo que estes desejarão a morte. Virão depois 200 milhões de "cavaleiros" que, a mando de Deus, irão exterminar um terço da humanidade. Para quê tanta crueldade? É o mundo fantasioso da Bíblia. Tem de se ser muito compreesivo para acreditar nisso.
Para Júlio Semedo, de Arcozelo, se o Dilúvio aconteceu, Deus foi um genocida. Por isso duvida da existência do dito e de episódios como a destruição de Sodoma e Gomorra, onde foram todos mortos a eito: mulheres, velhos e crianças. Trata-se de histórias idiotas, para não dizer outra coisa. Diz que não pode haver cegueira moral e ser-se crédulo. Existem coisas que atentam contra a razão mais elementar. Não é preciso ser muito inteligente para ver tal. Há que compreender aquilo em que se acredita.
A ideia do Dilúvio aparece em várias civilizações desde a América Central até à Ásia. Mais uma vez é fisicamente impossível um dilúvio que cobrisse todo o Globo. Não se pode crer em raciocínios arbitrários, em "fake news". Não existe nenhuma evidência geológica de um qualquer dilúvio. Para uma pessoa que é ignorante, isto não tem importância. Para a minha mulher-a-dias, Deus não pode com tanta burrice, é demais.
Maria Santos, de Almada, informa que em Marrocos quem tivesse uma Bíblia arriscava 2 anos de prisão. Liberdade religiosa? O que é? Também viu um vídeo na internet (fake?) sobre a peregrinação anual a Meca, em que os altifalantes invectivavam os judeus e cristãos. O Alcorão diz que o homem é superior à mulher e que Deus prefere aquele a esta.
Em nome de Deus cometem-se desmandos. Novembro de 2015, Paris, terroristas islâmicos massacram mais de 100 pessoas. Colossal falta de humanidade. Os fundamentalistas que morrem nos atentados acreditam que vão imediatamente para o Paraíso. É a recompensa por terem perecido na "jihad", na "guerra santa".
Para a D. Aninhas a religião devia ser algo saudável e não sombrio, mas existe quem não entenda isto. As vítimas mortais dos atentados às Torres Gémeas, em Setembro de 2001, nos EUA, são culpadas de quê? É espantoso que no séc. XXI haja fósseis vivos de uma humanidade que projeta em Deus a sua mentalidade primitiva. Não conseguem vencer o passado.
Os terroristas islâmicos, os da ETA (Espanha), os das Brigadas Vermelhas (Itália), etc., que deixam atrás de si um rasto de morte, têm em comum uma coisa: não funcionam bem da cabeça e não o sabem.
Para Albino Santos, de Sesimbra, um pensamento que rejeita a lógica é uma tragédia (sem exagero). Por exemplo, não tem pés nem cabeça aceitar que haja pessoas sem qualidade de vida, guerras "santas", etc. Também não são toleráveis os sacrifícios humanos ou de animais.
A Bíblia diz que Salomão sacrificou dezenas milhares de animais aquando da inauguração do Templo, em Jerusalém. Os Astecas faziam sacrifícios humanos, como se disse. O coração era arrancado às vítimas ainda vivas. Até ao séc. XIX, na Índia, as viúvas eram queimadas vivas juntamente com o cadáver do marido (prática do Sati). Isto impedia que os bens do defunto fossem para a família da mulher. Na Bíblia, Moisés diz aos israelitas para sacrificar a Deus "todo o primogénito" (Exodus 13). Qual a lógica deste sacrifício humano? Haja sabedoria se não é pedir muito. O ser humano deve evoluir em termos mentais. Que não se tenha um pensar "medieval", uma inteligência de lesma, acrítica.
Para o Islamismo o Inferno, um lugar de tormentos, possui vários níveis, separados por sete portas. Um dos níveis está reservado para os judeus e outro para os cristãos. Para o Islamismo, no Paraíso, onde só há muçulmanos, os homens terão sempre virgens à disposição.
João Carreirinha é não-crente (ateu). Esteve a ler a Bíblia e aquando do Juízo Final será mandado para o Inferno, juntamente com os judeus, muçulmanos, hindus e todos os outros crentes das mais variadas religiões (a Bíblia afirma que a maioria das pessoas vai para o Inferno). O Paraíso é só para os cristãos. A Bíblia diz que Deus, no fim do mundo, ateará fogo à Terra, de forma que ele possa queimar os descrentes (em Jesus) até à morte (II Pedro 3:7). Isto não faz qualquer sentido, é um absurdo. Por que não se pode ter uma religião que não a cristã? Por que motivo o Mundo tem de acabar? Uma pessoa pode ser um santo, mas se seguir a religião errada vai para o Inferno. Tem lógica? O que vale, se calhar, é que o Inferno não existe. Este é um lugar de tortura non-stop, que se prolonga por toda a eternidade. Um espírito civilizado rejeita a tortura, ainda para mais sem fim.
A Bíblia afirma, em várias ocasiões, que devem ser mortos os que adorarem outros deuses (Exodus 22:20, Dt 6:12 e 13), os que irritarem Deus (Exodus 22:24, Levítico 18:25), os que trabalharem ao Sábado (Nm 15:32-36 e Exodus 31 e 35), os que praticarem blasfémia (Levítico 24), os que tentarem levar pessoas para apostasia (Dt 13:6-10), as mulheres que não forem virgens para o casamento (Dt 22:22), etc.. A morte por apedrejamento é o procedimento escolhido, apesar de ser primitivo e bárbaro.
Em Exodus 22:18 pode-se ler "A feiticeira não deixarás viver". Em Levítico 20:27, mulheres com "espírito adivinho" serão apedrejadas até à morte. Isto na época medieval e nos anos seguintes serviu de mote para a tortura e morte na fogueira de milhares de pessoas acusadas de bruxaria. Por exemplo, alguém que não tivesse um "olhar franco" podia ser acusada de tal prática, uma lotaria. Já agora, nos tempos do camarada Estaline, qualquer pessoa podia ser acusada de inimiga do povo. Os histerismos, como a caça às bruxas em Salem, na América do Norte, no séc XVII, têm a mão de Lúcifer, na opinião da minha mulher-a-dias.
Em Exodus 32:35 Deus ordena aos filhos de Levi que "mate cada um a seu irmão. E caíram, naquele dia, uns três mil homens". Qual a lógica deste outro sacrifício humano? Em Levítico 26:7-8, Deus diz para os israelitas perseguirem os seus inimigos "e cairão à espada diante de vós". Em Dt 32-35 Deus disse "Embriagarei as minhas setas de sangue e a minha espada comerá carne". Em Isaías 14:21 afirma-se que Deus liquidará as crianças "por causa da maldade de seus pais". Em Jeremias 16:10-11 Deus matará as crianças se seus pais adorarem outros deuses. Faz sentido as crianças serem castigadas, ainda por cima com a morte, pelo que os seus pais fizeram ou deixaram de fazer? Em II Coríntios 13:15-20 Deus mata o rei de Israel e ajuda Abas a matar 500 000 israelitas. Para quê isto? Em II Coríntios 14:8-14, Asa com a ajuda de Deus aniquila 500 000 etíopes. Deus enviou um anjo para exterminar o exército assírio. O anjo matou 185 000 (II Coríntios 32:21). Deus ficou bravo com o seu povo. Então ele envia o rei dos caldeus para matar todos: "e não teve piedade nem dos jovens, nem das moças, nem dos velhos, nem dos decrépitos" (II Coríntios 36:16-17). A lista é extensa. Júlia Pinto, de Soure, sustenta que não é possível que Deus seja autor desta violência sem medida, inaudita. Tal não tem lógica, não é credível. Deus não é nazi. Isto foi escrito por humanos com mentalidade primitiva e não por inspiração divina. A Bíblia reflete uma realidade cultural passada, óbvio. Não faz sentido persistir na obsolescência do pensamento. Tal tem consequências, não é inocente e há que ser responsável. Não se pode ter a sensibilidade anestesiada. A verdade interessa?
A Bíblia sustenta que Jesus afirmou, referindo-se aos jovens, "Quem maldisser do pai ou da mãe que seja morto" (Dt 21:18-21). Censurou os Judeus por não seguirem este preceito do Velho Testamento (Marcos 7:9-13).
A Bíblia professa, em Levítico 20:13 "Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher... serão mortos". Isto seria mais tarde levado à letra pelo "Santo" Ofício (Inquisição).
A minha mulher-a-dias diz que nasce-se homossexual, existe um causa biológica. Daí não faz sentido censurar os homossexuais pelo que são, ou dizer que a homossexualidade é errada. Não se pode ver a realidade com os olhos de há dois mil anos. A taxa de suicídio dos homossexuais é alta. Pior mesmo é a situação dos transexuais. A tolerância para com os homossexuais reflete o nível de tolerância de uma sociedade, o que afeta todos.
Existe quem defenda que os livros sagrados não erram (inerrância). Se a Bíblia diz que o homem é a cabeça da mulher e esta deve obedecer-lhe (Efésios 5:22-24), é porque deve ser assim. A minha mulher-a-dias sustenta que Deus não tem culpa das baboseiras dos humanos e o obscurantismo não é bom conselheiro.
São Cipriano defende que "A mulher é instrumento de que se utiliza o Diabo para ganhar as nossas almas". Outros santos falaram no mesmo tom. Mentalidade primitiva? O que é?
No Islamismo o testemunho de uma mulher vale metade do de um homem. Maomé diz que isto é devido ao facto da mulher ser menos inteligente. Também afirmou que a maioria dos que estavam no Inferno eram mulheres.
No Islamismo a mulher pode bater na mulher, mas não o contrário. Um homem pode casar com uma não-muçulmana, mas não o contrário. Um homem pode ter várias mulheres, mas não o contrário. Também a mulher herda metade do homem.
João Leite informa-nos que, no Paquistão, parte significativa das mulheres violadas são acusadas de adultério. Ou seja, responsabiliza-se a vítima pelo sucedido. O absurdo é possível. A própria Bíblia diz que se uma mulher ao ser violada não gritar bem alto será considerada adúltera. No Irão, com a revolução islâmica, a idade mínima para uma mulher casar baixou para os 9 anos.
Nos países islâmicos existe uma alta percentagem de analfabetismo feminino. João Lopes, de Lagoa, considera que a liberdade religiosa nas nações muçulmanas não é igual à que os islamitas gozam no Ocidente. Não é justo, diz ele. Atreve-se a dizer que no islamismo não há lugar para os ateus e para os seguidores das outras religiões, com exceção do cristianismo e do judaísmo, que podem ser tolerados (povos do Livro, a Bíblia).
Uma curiosidade, na tribo Tahirapé, Brasil, uma mulher para engravidar tem relações com vários homens ao mesmo tempo. Pensa-se que assim nascerá uma criança mais forte. O quarto filho de cada mulher é morto à nascença. Para Joel Pinto, de Soure, esta tribo vive numa imoralidade inadmissível.
Um rabino israelita num artigo de 1980 defende o genocídio como um mandamento divino, da Tora (Velho Testamento). Estava a pensar nos palestinos?
Joana Dimas possui um pensamento binário, vê o mundo a preto e branco. Também é a favor da sacralização da indigência mental e do amordaçar do pensamento. É contra as forças do mal e pela guerra à inteligência, que considera perigosa. Da discussão nasce a luz, uma ova, diz ela. Prospere a cegueira do entendimento. Tem saudades do tempo em que o obscurantismo matava o pensamento, por exemplo, através do Index, a lista de leituras proibidas. Deplora que a Igreja neste momento não interfira no trabalho dos cientistas, como à boa maneira de antigamente. É uma pena que não se possa mandar para a fogueira os livros do evolucionismo e as teorias criacionistas pagãs, demoníacas. Também acha que não é verdade que quanto mais semelhante for uma espécie de outra, mais recente é o antepassado comum. Só são credíveis as microevoluções que explicam, por exemplo, as diversas raças do cão. Este e o ser humano apesar de serem mamíferos, não descendem de um ancestral comum. Propõe um referendo para determinar o que deve ser ensinado nas escolas na disciplina de Biologia: criacionismo (cristão) ou evolucionismo? Também sofre de intolerância à lactose e à crítica, que considera uma ofensa. Não pode com quem pensa diferente. Acha que não é preciso salvar a humanidade da ignorância e do atraso mental.
A despropósito, recebemos uma carta do Secretário-geral da ONU, que nos informa que ficou impressionado... com o primarismo dos nossos raciocínios.
Dezembro de 2019. A Rússia foi banida de várias competições mundiais pelo período de 4 anos, pelo facto do estado russo levar a cabo a dopagem de atletas. Isto lembra a comunista República Democrática Alemã, que de democrática nada tinha, onde a dopagem era uma política de Estado.
Como se disse, apesar do oceano de informação produzido hoje em dia, esta parece não estar a acertar no alvo. A maioria dos habitantes do Planeta vive na pobreza, sem dignidade (mundo assimétrico). Isto remete para a magna questão da qualidade da informação, a base do agir.
Existem pessoas que se julgam espertas, ou especialmente clarividentes, mas são palermas. É o nosso caso. Mentes minguadas mitigam a realidade à sua verdade, têm uma visão turva do mundo, diz-nos João Anselmo, de Soure. Deve haver uma ruptura epistemológica com a indigência mental. Vamos ver o que o séc. XXI nos reserva.
A D. Aninhas tem uma pós-graduação em Demonologia. Também defende a tese que diz que, com o aquecimento global, o Apocalipse foi antecipado por Satanás através de interposta pessoa, o tolo do ser humano (há que chamar as coisas pelos nomes). Desta forma o Maligno trocou as voltas a Deus.
João Anselmo não acredita em Satanás. Se alguém comete uma burla (e fala por experiência própria), a culpa não é do Diabo. Crê que não seguir ou desistir do pensamento lógico-racional é perigoso. Quando se tem uma pneumonia é melhor ir ao médico do que, ao curandeiro para que este invoque os espíritos.
Lurdes Neto estuda a neurobiologia da burrice. Sim, não estamos a brincar, esta tem uma base neurobiológica. A rejeição do pensamento lógico-racional faz parte da estupidez, entra-se na fantasia, no arbítrio. Por exemplo, a homeopatia acredita no poder curativo da água; uma vizinha minha acha que as pessoas do signo do Carneiro não deviam casar com as do signo dos Gémeos. A neurociência diz-nos que a pobreza de sentimentos (indiferença) determina uma ineficiência no raciocínio e na tomada de decisões. Se alguém estiver acomodado à pobreza, à exploração laboral, à tortura, à censura, etc. é evidente que não agirá para pôr fim a elas. O software intelectual, do qual fazem parte os valores culturais, determina o como se vai ver a realidade. A cultura é a matriz do pensamento. Uma noção de bem e de mal que não seja apenas formal, ou arbitrária requer um certo nível de conceptualização. Em suma, a pobreza nos sentimentos leva à indigência mental, quem diria. Aqueles que padecem de indigência mental não estão conscientes da sua cegueira e não têm emenda, infelizmente.
António Oliveira informa-nos que os trabalhadores, tal como o nome indica, servem para trabalhar. É adepto do sistema laboral 996, chinês. Assim, todos os portugueses deviam trabalhar desde as nove da manhã até às nove da noite, seis dias por semana. Há que adotar os bons exemplos da globalização. Também adora mão-de-obra ao preço da chuva.
O psiquiatra Araújo Pereira esclarece-nos que para a Associação Americana de Psicologia a estupidez não tem cura, é de difícil tratamento e, mesmo resistente aos antibióticos.
João Paiva não acredita que o homem tenha chegado à Lua. Admite que sofre de indigência mental, mas isso não o preocupa. Diz, por piada, que não pensa, mas existe. Informa-nos que é uma pessoa honesta a 100%, mas a ocasião faz o ladrão. Por isso encontra-se a residir neste momento no estabelecimento prisional de Faro, para onde deve ser enviada a correspondência. Também um sobrinho seu, que é íntegro, está a ser investigado num caso de sobrefaturação de alimentos para as messes da Força Aérea (Janeiro de 2019). No esquema estavam envolvidos fornecedores, sargentos, oficiais e um general. Isto prova que o povo é tão batoteiro quanto alguns políticos. Também defende que a escravatura (uma violência económica) foi uma extraordinária invenção do Homo "sapiens" e é uma prova inequívoca da sua inteligência, da sua racionalidade. É a favor da exasperante lentidão da Justiça. Para terminar manda um grande abraço aos malucos que nos governam, ou governaram. Com eles a humanidade pode dormir descansada. É mentira que uma cultura de indiferença se volta contra o ser humano. Não é verdade que uma sociedade será o que a sua cultura for. Paradoxalmente acha que o Homo "sapiens" tem uma inteligência limitada, possui frequentemente falhas ao nível da eficiência cognitiva e do raciocínio moral (não distinção entre o certo e o errado) e espanta a facilidade com que os cristãos praticaram a escravatura ao longo de séculos.
Como também se frisou, bastantes vezes a religião está despida de ética, substituída por uma moral dogmática, meramente formal. Os milhões de escravos negros dos Descobrimentos (verdadeiro holocausto e loucura) equiparam-se àquilo que os judeus foram para o nazismo. Os primeiros escravos chegaram a Lagos em 1444. As mulheres foram separadas dos maridos e os pais, dos filhos. Nada que demovesse os cristãos presentes, apesar da carga dramática. Ao longo de séculos (séc. XVI a XIX) o Brasil recebeu quase metade dos mais de 10 milhões de africanos levados para o continente americano. A partir do séc. XVII, Luanda torna-se a principal porta de saída atlântica dos escravos. Camões era dono de um escravo javanês. A própria Igreja tinha cativos. Muitos negros morriam na captura e na travessia do Atlàntico. Em Portugal, o alto clero, como bispos e cónegos, e as comunidades religiosas possuíam não-livres. Muitos estavam acomodados ao absurdo, pois beneficiavam com isso. Tempos desvairados, infindável sofrimento, segundo a minha mulher-a-dias. Ela pergunta, como é possível o ser humano ser tão primitivo? Nem sempre as melhores ideias e regras de conduta social vingam, pois vozes de burro chegam ao céu. O pesadelo do Homo "sapiens" é a sua cabeça. Não conseguir respeitar os outros é sinal de pouca inteligência. A escravatura, ontem, e a pobreza, hoje, tendem a ser consideradas como fazendo parte da lógica social. O bispo Bartolomé de las Casas, contemporâneo da expansão colonial, disse que o que se fez no continente americano "está entre as mais imperdoáveis ofensas cometidas contra Deus e a Humanidade".
No passado, a economia, a religião e a violência andaram de mãos dadas. Uma das justificações para a expansão portuguesa foi o espalhar da fé cristã.
Uma curiosidade, o filósofo grego Platão, um verdadeiro crânio, considerava os escravos naturalmente falhos de razão (logos) e malévolos.
Para Lina Nobre há os que se acham inteligentes e os que são verdadeiramente clarividentes. Hitler, que se julgava esperto, fez o que fez. João Carvalho, de Chaves, informa-nos que tem uma visão caritativa da pobreza. Joana Santos defende que a Constituição devia consagrar o direito à qualidade de vida. Considera que se existem países (poucos) que remeteram a pobreza para níveis residuais. Isso quer dizer que ela não tem de ser uma fatalidade.
Notícia atrasada: Janeiro de 2018, um psiquiatra abusa de uma sua doente grávida. A douta Justiça absolveu-o. Achou que ela não ofereceu suficiente resistência e, portanto, foi de alguma maneira conivente. Nada se passou. A realidade estava errada. Distorção cognitiva? Isso existe?
Uma parábola: Adérito Pires contratou um seguro de saúde. Tempos depois adoeceu e começou a dar despesas à seguradora. Esta aumentou tanto o custo da apólice que obrigou o Sr. Adérito a dar o fora. Também se uma pessoa tiver uma maleita pré-existente está feita. Os seguros de saúde são, em parte, apenas seguros no nome. Conclusão: anda meio mundo a tentar enganar o outro. Há segurados que tentam burlar as seguradoras e estas, por vezes, recusam-se a pagar danos cobertos pelas apólices. Existem clínicas que fazem exames desnecessários aos doentes, para sacar dinheiro ao Estado. Há bancos que cobram comissões por tarefas que não existem: manutenção da conta, guarda de títulos, etc.
A minha sobrinha Guidinha diz que um país é anormal quando uns têm bem-estar e outros não e há quem não veja este absurdo. À pergunta se a humanidade é capaz de cometer suicídio, respondeu que sim. A sobrevivência do ser humano depende da sua cultura. Sustenta que a Economia, a forma que assume é um produto cultural, mas muitos não entendem tal. É por isso que a escravatura é proibida. A economia não é um fim em si mesmo. Tem de levar ao bem-estar e não oprimir a pessoa. Não é aceitável outra lógica social. Não existe Economia pura, "científica", como crê a teoria económica dominante, incapaz de se dar conta do seu relativismo. Não é possível um discurso absoluto sobre a realidade económica. Todos deviam andar felizes e contentes. Também defende, contra tudo e contra todos, que pessoas com bem-estar são mais eficientes. Qualidade de vida e produtividade caminham a par. Afirma que em regiões onde impera uma mentalidade medieval ou um regime totalitário é arriscado ter um ataque de lucidez que vá contra a miopia cerebral prevalecente. Para ela o ser humano tem uma incapacidade de se aperceber da profundidade do problema da qualidade de vida. Por exemplo, para a corrente dominante da teoria económica, o bem-estar resume-se ao PIB (uma ingenuidade). Constata um aparente rigorismo conceptual (pés de barro) no dogma do crescimento económico. Esta teoria é uma burrice elevada à categoria de ciência, pois carrega uma anomalia matemática: a questão do infinito potencial. Como se referiu, existem limites ambientais. Os bebés, as árvores, etc. não crescem sem parar. Não é preciso ser génio para entender isso. O paradigma tem de mudar. Persistir na teoria do crescimento económico revela pouco siso. Há que pensar fora da caixa. É importante sobre o que raciocinar. É crucial que as inferências do pensamento sejam significativas, que se olhe na direção correta. A ausência de qualidade de vida reflete a falta de clarividência do Homo "sapiens". Igualmente sustenta que caçar é matar e isso não é civilizado.
Pinto Sousa, de Borba, diz que tem lá em casa um gato antipático que é adepto da tortura, tal como o ex-presidente pró-fascista Bolsonaro do Brasil, admirador confesso, como se disse, da ditadura militar (1964/85). Regressão civilizacional? O estafermo do felino diz que não sabe o que é isso.
Bolsonaro, sustenta que pobre vale pouco (tem um "diploma de burrice no bolso"), o que mostra como encara a questão social da pobreza. Também disse que o ditador Pinochet, do Chile, devia ter morto mais pessoas. Sobre o facto de familiares procurarem desaparecidos mortos pela ditadura militar, afirmou que cão é que procura osso. Como é possível que um indivíduo destes tenha o desplante de dizer que é cristão? A minha mulher-a-dias alerta para os falsos crentes.
Por curiosidade, a ditadura militar brasileira assassinou algumas centenas de opositores e milhares, sim, milhares de indígenas, para se apossar das suas terras, para fins de exploração económica. Nos totalitarismos os "problemas" resolvem-se à martelada.
O pau-de-arara foi um instrumento de tortura usado pela ditadura militar brasileira na sua guerra suja contra os terroristas (todos aqueles que se lhe opunham, mesmo que não tenham enveredado pela ação armada). O prisioneiro nu era dependurado na vara pelos joelhos, ficando com a cabeça em baixo. Seguiam-se as sevícias, por exemplo, choques eléctricos, espancamento, etc. Era habitual o abuso sexual das mulheres. Os militares, num caso, obrigaram o pai e o irmão a estuprarem a familiar. Também obrigaram crianças a ver os pais torturados. Um requinte.
Tal como o crime organizado, o regime militar brasileiro tinha matadores que assassinavam os opositores na rua; simulavam acidentes de automóvel, confrontos armados, etc. A estilista Zuzu Angel foi morta numa simulação de acidente. O jornalista Herzog, em 1975, foi "suicidado" nas instalações do 2° Exército em S. Paulo.
No Chile do "cristão" Pinochet (1973/90), centenas de detidas foram estupradas pelos militares. Também havia cães adestrados para isso. Outro requinte.
Para Adérito Gomes, alguém ser preso sem julgamento, torturado, ou mesmo morto constitui um ato de terrorismo de Estado.
Como foi referido, o Mundo é um lugar perigoso, nada subilme e dá a ideia de andar à deriva. As bestas estão sempre à espreita. "O horror anda no ar", disse alguém. A minha mulher-a-dias está a escrever sobre as raízes biológicas do comportamento. Por exemplo, o desejo sexual está na base da ação de um violador. Mas também existe a violação dos direitos humanos: tortura, exploração laboral, etc. Ela acha que a história da humanidade é, em grande parte, a história da selva social, do comportamento destrutivo. Os deuses assim o quiseram, apesar de serem omnipotentes. Por exemplo, em mil anos do Império Romano (séc. V a.C. / séc. V d.C.), este teve ao seu serviço milhões de escravos, muitos deles capturados nas constantes guerras. Uma enormidade. O Homo "sapiens" tem uma grande capacidade de indiferença e de não seguir princípios éticos. A sensibilidade e a sensatez são uma questão de inteligência. A tese da minha mulher-a-dias é que a cultura é igualmente um responsável do não ter sentimentos pelo outro, tal como acontece, por exemplo, quando se tem anomalias no lobo frontal do cérebro. Muitos nazis, foram pais cuidadosos, ao mesmo tempo que sentiam indiferença pela sorte das crianças judias ou ciganas. Também uma pessoa "normal" preocupa-se com os seus rebentos, mas não, muito com o facto de haver crianças no Mundo que morrem de subnutrição (saber não implica sentir). A convencida da minha mulher-dias igualmente defende a tese de que não existe uma racionalidade, mas várias. A racionalidade do gato é diferente da humana. Dentro desta há várias modalidades consoante a cultura. A racionalidade/irracionalidade é eminentemente cultural, apesar de ter na base processos neurobiológicos. O agir humano desafia o entendimento, é terreno escorregadio e isso do País não ser para todos é científico. Trata-se de um segredo de Polichinelo. Não se tenha ilusões. Que se levante o ingénuo que pensa que Portugal é para qualquer um. Para ela, uma visionária, esta Nação será sempre pimba, o seu fado. Também opina que não existe desenvolvimento sem cultura adequada, pois a ordem social tende a reproduzir-se. Há formas danosas de pensar. A qualidade de um país depende da qualidade dos cidadãos. Não é possível fazer o futuro com mentalidades do passado, com estreiteza de vistas. A cabeça é o princípio de tudo, não pode laborar de uma forma disfuncional. Tem de dar-se necessariamente um "corte epistemológico" (Bachelard). É necessário um outro edifício conceptual. Não há volta a dar. A "Idade da Razão" ainda está para vir. "Quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga", disse alguém. Para a exagerada da minha mulher-a-dias o ser humano é meio animal, meio irracional.
Serafim Saudade, um conceituado cantor, antevê para Portugal um grande futuro. Também mandou-nos uma piada de muito mau-gosto, que não nos atrevemos a transcrever. Considera que se não houver pressão da opinião pública, o poder político não tomará as medidas exigidas pelo aquecimento global. Foi o que se passou com a pedofilia na Igreja Católica. Esta foi incapaz de autocorrigir-se. Foram precisas milhares e milhares de denúncias para ela começar a mover-se.
João Lopes, de Pinhel admite a sua incapacidade de se orientar por princípios éticos. É a favor do triunfo dos burros e do Diabo. "O bom sabor da vida" não tem de ser para todos. Reconhece que a ignorância é um obstáculo intelectual e há que aproveitar isso. Também acha que a plebe não deve possuir conhecimentos pertinentes. Tem de ser incapaz de "inferências válidas e extrair sentido do que acontece" no Mundo. Ela deve mover-se em padrões inferiores de desempenho intelectual. Há que afogar o povão com balelas, para que tenha miopia quanto ao futuro e não faça escolhas acertadas. O filósofo Descartes acreditava que o calor fazia circular o sangue. Do mesmo modo o vulgo deve laborar com conhecimentos e raciocínios não válidos, com fantasias. O seu pensamento não deve ser lógico-racional. Defende a criação de licenciaturas em medicinas alternativas, quiroprática, astrologia, ciências ocultas, etc. Ainda que timidamente, Portugal parece estar no bom caminho. Também reconhece que é impossível fazer um estúpido mudar de opinião, mesmo em relação a coisas que são claras. Diz que não gosta de cheiro a pobre. O Mundo devia ter só gente bonita e com glamour. É a favor de uma sociedade atomizada (cada um por si). Acha que uma pessoa tem direito a respirar ar poluído e a um ambiente contaminado. O que não mata engorda.
Matias Lemos, de Paderne, não está preocupado com o aquecimento global. Quando isto der o estoiro ele já não será vivo. O Homo "sapiens", apesar do nome, tem dificuldades em interiorizar os problemas que se avizinham. Parece haver um conhecimento, mas não se age em conformidade. Existe aqui uma dissociação. Muitos ligados à área económica não conseguem fazer entrar na cabeça que a economia tem de ser sustentável e que não se pode brincar com isso. A questão social (acesso à qualidade de vida) e a questão ambiental têm de ser sanadas. Repete-se, é impossível resolver esta sem aquela, mas há quem não entenda isso.
Um aparte, enviamos um abraço às dezenas de milhões de pobres dos Estados Unidos. Eles são a prova inequívoca da eficiência da economia de mercado e só não enxerga isto quem não quer, não nos cansaremos de frisar. Haja honestidade intelectual, mas a verdade não penetra numa couraça. Existe quem seja cego, surdo e mudo. Se a maior parte dos pobres no Mundo vive em economias de mercado, isso não quer dizer que estas sejam ineficientes. A realidade é que está errada. Há quem se entricheire na sua "verdade" e não saia dela.
Luis Santos elucida-nos que na escravatura a economia não visava o bem-estar do escravo. Ficámos a saber. A minha mulher-a-dias acha que alguns daqueles que falam nos mais desfavorecidos na verdade não se preocupam muito com eles. Joana Rego, de Vinhais, informa-nos que o ser humano é um bicho perigoso e os crocodilos quando devoram as suas presas não têm problemas de consciência.
Olga Nunes considera-se uma anedota. Também diz que professa a verdadeira fé. As outras são falsas, ou seja, existe quem fale indevidamente em nome de Deus. É contra a apostasia e, pelo pensamento único. Dá-se mal com a pluralidade. Acha que uma pessoa não tem direito a mudar de convicções religiosas. Portugal devia seguir o exemplo de alguns países onde a apostasia leva à prisão e mesmo à morte. Também alguém que negue a existência de Deus está a ofendê-lo e devia ser condenado por blasfémia, que antigamente e ainda hoje pode eventualmente levar à morte. É pelo delito de opinião. O ateísmo é obra do Diabo, apesar dos ateus não acreditarem nele. Não compreende por que foi abolida a Inquisição. Liberdade de consciência, de pensamento? Para quê? Acha que não se deve dar tréguas aos infiéis, aos inimigos da fé. Eles têm de aceitar a verdade, a luz. Igualmente defende que devíamos seguir o exemplo das nações que criminalizam a homossexualidade, que é contranatura, e até a punem com a pena de morte, como acontecia na Idade Média cristã, em que alguns arderam vivos na fogueira, para aprenderem. Ela reconhece, apesar de tudo, que não é possível uma moral absoluta, pois cada civilização tem a sua. Por exemplo, o islamismo permite o divórcio, o cristianismo não. O islamismo aceita a poligamia e o casamento de uma criança com um adulto. Maomé teve pela primeira vez relações sexuais com a sua mulher Aisha quando esta tinha 9 anos. Na Bíblia, tanto o adúltero, quanto a adúltera devem ser executados (Levítico 20:10). Quem se casar com uma mulher divorciada comete adultério (Mateus 5:32). Remata que não vive no passado, com uma mentalidade medieval, fanática e intolerante, mas sim tem a mundivisão correta. A própria Bíblia, em Dt 12:30, diz para matar os de outras fés. Em Samuel 3:7 afirma-se que Deus quebrou "os dentes aos ímpios". Em II Coríntios 15:13 assinala-se que quem não busca o Deus de Israel deve ser executado.
Por curiosidade, o 2° califa Omar foi assassinado em 644. O califa Otomão foi morto em 656. O califa Ali teve a mesma sorte em 661. Tal é um exemplo claro da existência de uma cultura de violência.
Joana Lopes diz que Deus, que como se sabe possui infinita sabedoria, vive em constante sobressalto com a indigência mental e obscurantismo de muitos seguidores. A violência contida na Bíblia e no Alcorão é um reflexo da cultura primitiva desses tempos. Por exemplo, não tem de se matar os adúlteros, liquidar quem muda de religião ou pensa diferente. A descontextualização histórica da violência é o combustível do fundamentalismo religioso. Uma cultura atrasada é a via mais rápida para o subdesenvolvimento, para a falta de qualidade de vida, como já se referiu.
No Alcorão Deus diz "matai os idólatras onde quer que os encontreis". (Sura 9 : versículo 5); "Infundirei o terror nos corações dos que não acreditem. Cortai-lhes o pescoço" (Sura 8 : 12). Aos cristãos o pescoço devia ser cortado da frente para trás. Isto foi copiado pelo recente Estado Islâmico (Iraque, Síria).
Na Bíblia (Novo Testamento) lê-se que Jesus teria afirmado "E quanto àqueles meus inimigos que não quiserem que (Deus) reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim". (Lucas 19:22-27).
Em Marcos 6:11 afirma-se que qualquer cidade que não receber os seguidores de Jesus será destruída de forma mais selvagem do que Sodoma e Gomorra.
No Apocalipse 19:13-15 diz-se que Jesus, depois de voltar à Terra, terá as roupas sujas de sangue e uma espada que sai da sua boca. Ele traz todo "o furor e ira de Deus" (a que propósito?). Este queimará a Terra inteira e tudo o que nela há (II Pedro 3:10).
Na Bíblia (Velho Testamento) lê-se que Deus ordenou: ao rei Saul "Vai pois, agora, e fere o povo Amaleque e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes; porém matarás homens e mulheres; meninos e crianças de peito". I Samuel 15:2-3
Na Bíblia (Velho Testamento) lê-se: "Tudo quanto na cidade (Jericó) havia, destruíram totalmente a fio de espada, tanto homens como mulheres, tanto meninos como velhos" (Josué 6:21).
A violência está na génese do cristianismo e do islamismo. As coisas não foram feitas com flores. Como se disse, na Bíblia o Deus de Israel intervinha pessoalmente na condução das operações militares. Era prática generalizada o extermínio, o holocausto dos vencidos. O bom rei David serrou, cortou e queimou até à morte os habitantes de várias cidades (I Coríntios 20:3). Para a História ficou famosa a crueldade dos Assírios. Estes levaram os hebreus como cativos para a Babilônia. Os Israelitas massacram os cananeus, fariseus e outros povos para lhes expropriar a "Terra Prometida" (por Deus). Segundo a Bíblia, os povos fora da Judeia, quando submetidos, não deveriam ser totalmente exterminados. Estava-lhes destinado o trabalho forçado (escravo), ou eram poupadas as mulheres (Dt 20:13-14).
É curioso ver as tentativas para justificar o injustificável. A política genocida supostamente ordenada por Deus legitimava-se pela imoralidade em que viviam os inimigos dos hebreus. Um iluminado afirmou que Deus está num nível superior e, portanto, acima das regras humanas (Deus é Deus). Também sendo Deus o dono da vida, pode muito bem tirá-la. Alguém sustentou que os judeus tinham direito a expropriar a "Terra Prometida", pois esta tinha sido em grande parte comprada no passado por Abraão, que era rico. O miserabilismo mental não tem limites.
A D. Lurdinhas diz que teve um sonho, no qual o Altíssimo a informou da sã doutrina. Confidenciou-lhe que a religião não pode ser alienação. Também não é aceitável, mas, um anacronismo que no tempo da ciência e da técnica haja pessoas que nasçam para não terem qualidade de vida. Igualmente a globalização vive da exploração laboral, coisa que toda a gente sabe. Trata-se de uma violência económica, de um chocante problema de direitos humanos. Não são legítimos os interesses que pisam o indivíduo, não podem levar a melhor. O ser humano é uma coisa? Quem sobrevive na indigência não é livre. Não se pode tolerar a pobreza, tal como a escravatura, ou o trabalho forçado. Só uma sensibilidade embotada transige com a atual globalização. A noção do bem e do mal está posta de parte. Manda o deus dinheiro. O mal do ser humano, a sua falha de humanidade começa na sua cabeça. Há muitas situações do tipo "o rei vai nu". Existem mentes tapadas que gostam de se encerrar na concha da santa ignorância e num pensamento anquilosado (perceção superficial e turva da realidade). Há os que têm obrigação de saber, mas não procuram o conhecimento. Exista inteligência. A complexidade da vida não se compadece com um pensar dogmático (estereotipado), com a rigidez mental. Nem todas as verdades são eternas. Tem de haver capacidade de mudança de perspetiva. Há quem só consiga ver a árvore e não a floresta. Com a indigência e primarismo mental não se vai longe, é como entrar num beco sem saída, mas muitos não se dão conta disso. Não pode existir uma dissociação entre os valores afirmados e a prática. Cristãos e muçulmanos usaram a escravatura. Milhões de cativos negros morreram na travessia do deserto do Sara em direção às regiões muçulmanas e na travessia do Atlântico rumo às colónias cristãs da América. A maior parte dos habitantes do Planeta vive na pobreza, sem capacidade económica para satisfazer as necessidades básicas (enorme fracasso social). Existem muitos que nascem e não são felizes para sempre. A santidade deste mundo deixa muito a desejar. Não há mesmo pachorra.
Três dias depois, a D. Lurdinhas teve outro sonho, em que Deus reuniu-se com as divindades de outras religiões. No final do conclave fizeram um comunicado em que acentuaram que a religião sem ética pouco vale. Ela não pode ser fonte de opressão, servir de pretexto para malfeitorias, como acontece no Afeganistão com os atrasados dos Talibans, ou com os corta-cabeças do Estado Islâmico (estão possessos do Diabo) e para quem a vida nada vale. Na reunião considerou-se a tortura coisa de bárbaros e não de mentes civilizadas. Também achou-se que a liberdade de pensar é sagrada. Ninguém tem o direito de aprisionar o espírito dos outros, de impor as suas convicções. Quem tem o espírito condicionado não é livre. Não é aceitável uma mentalidade arcaica. O futuro não pode ser em marcha-atrás, mas no sentido do progresso. Exista atenção epistemológica para desmontar os raciocínios falaciosos. É importante pensar com correção. Que não se trilhe o caminho da escuridão. A evolução tecnológica tem também de ser acompanhada pela evolução do espírito. É por isso que não há guerras "santas" entre fações de um mesmo credo, ou entre religiões. Não são aceitáveis a linguagem do ódio e o subdesenvolvimento mental. A religião não pode ignorar os direitos humanos, avisam. Estes não se resumem à liberdade religiosa (nada de ter uma visão paroquial). Que não se erre por omissão. A humanidade deve ter juízo e caminhar no sentido da civilização, da qualidade de vida para todos. Há que acabar com o flagelo satânico da violência. Que se pratique o amor e não a guerra (make love, not war). Que se vença o passado.
Uma curiosidade, a inteligência dos computadores é insuficiente para entender que é inadmissível uma pessoa não ter bem-estar, a tortura é um crime, a não-liberdade de pensamento é obscena, a guerra não é normal, etc. Os computadores têm a sensibilidade embotada, o que é o mesmo que dizer que não a possuem, como alguns humanos.
João Santos (nome fictício) trabalha numa empresa de distribuição. Entra ao serviço às 8 horas e sai às 22. As horas extraordinárias não são pagas. Não é preciso ir à economia da globalização para dar de caras com a exploração laboral. No Japão morrem por ano vários milhares de pessoas devido ao excesso de trabalho. O mesmo acontece nos Estados Unidos e China. Trata-se de uma realidade ignorada. Na Coreia do Sul, há uns tempos, a redução do limite máximo de horas semanais de trabalho permitidas teve a oposição dos patrões. Este país é o dos desenvolvidos que apresentava a maior carga horária de trabalho. O stress é responsável por muito absentismo laboral, o que é não económico. Arlindo Castro sustenta que isso da exploração laboral não existe.
Para a minha mulher-a-dias a burrice sem perdão é conhecer a verdade e mesmo assim não optar por ela, não mudar os padrões de pensamento e persistir no erro. Por incrível que pareça a estupidez é uma característica humana, tal como a safadeza.
Lurdes Santos informa-nos que está a fazer uma tese de doutoramento cujo conteúdo é a demonstração do teorema "O ser humano tem uma inteligência saloia e não se apercebe disso".
António Barros, de Setúbal, diz que tem uma esperteza felina, é de boas famílias e vê assombrações. Defende a ordem estabelecida e para ele problemas complexos têm soluções simplistas. Por exemplo, o alto nível de criminalidade do Brasil e do México, resolve-se com mais polícia. Nega que haja portugueses de primeira e de segunda. Reconhece, no entanto, que quem se encontra bem não tem urgência em resolver a situação de quem está mal e quanto a isto nada a fazer. É fácil para quem não vive com o salário mínimo dizer aos outros para sobreviver com ele. Afiança que subir o ordenado mínimo é mau para os pobres, pois gera desemprego e inflação. Quem é que não quer uma remuneração de indigência?
A Rede Europeia Anti-pobreza revelou (10/2018) que há 1,1 milhões de portugueses que trabalham, mas são pobres. Fantástico. Existe quem consiga justificar isto em termos estritamente económicos, por exemplo, com a necessidade de competir na globalização. Igualmente no passado defendeu-se a escravatura. Também 2,4 milhões estão em risco de pobreza. Mas alguém consegue explicar o que é isso de "risco de pobreza"?
Para animar o leitor, informamos que a maioria dos portugueses tem e vai ter reformas de indigência. Segundo um estudo europeu (2018), neste País só 9% dos idosos é saudável. Na Áustria esse valor está acima dos 50%. Para a bota-abaixo da minha mulher-a-dias não passamos de um país de tesos e doentes.
Como se disse, num estudo, de 2016, do Instituto de Ciências Sociais, 73% dos portugueses com mais de 50 anos considera que teve pouca qualidade de vida na sua existência. Isto é desmentido categoricamente pelo valor oficial da pobreza em Portugal: 17,3% em 2017. A realidade está errada. O facto de Portugal não ser para todos é uma triste notícia para grande parte dos portugueses. Estes na sua maioria são perdedores estruturais.
João Carrasco, de Pinhel, acha que uma pessoa que defende uma nação onde todos tenham bem-estar vive na Lua e na utopia. Diz que a estrutura histriónica deste texto e a indigência dos argumentos provam que foi escrito por um marreco (eu) com demência vascular.
Um aparte, somos a favor do discurso do coitadinho. Como para nós o leitor é importante, esforçámo-nos para que esta mixórdia, intelectualmente desestimulante e de baixo nível, estivesse pejada de gralhas e incoerências, para provocar desconforto. Como já se referiu, tudo foi feito para que desistisse de lê-la, sobretudo os que têm preconceitos intelectuais. Joana Semedo, de Almeirim, diz que um simples passar de olhos por este texto amargo provocou-lhe vómitos e tonturas. Esta prosa, tal como qualquer medicamento, tem efeitos secundários.
Avisamos igualmente que temos um preconceito contra as elites supostamente iluminadas. Este chorrilho, de pouca densidade narrativa constitui uma experiência inédita em Portugal. Ela foi realizada num retiro espiritual de meditação transcendental, no Instituto de Ciências Biomédicas (em parceria com a científica Faculdade de Economia), para estudar a influência do álcool (neste caso aguardente) no lobo frontal do cérebro, quando um mentiroso compulsivo realiza um trabalho de análise económica e filosófica. Assim, apelamos à compreensão dos que são inteligentes. Lembrem-se de que esta geringonça de texto foi escrita por um insignificante sem credibilidade, com traumas de infância e que teve de se socorrer das parcas capacidades com que Deus o presenteou. Em suma, este ensaio sobre a cegueira (há quem não queira ver e saber) não saiu brilhante. Um rato pariu um rato. É triste, mas, verdade. Somos o extremo oposto do génio, temos de admitir. Ocupamos o lugar mais baixo da escala. Contudo, tal não faz vacilar a fortaleza das nossas convicções. Usámos o método da escrita automática, ou seja, escrevemos à medida que a nossa cabecinha pensadora ia debitando atoardas foleiras. Quem nos dera ter acuidade de pensamento. Um poeta popular observou que "Para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem de trazer à mistura alguma coisa de verdade". Procurámos seguir este desiderato. Estamos aqui para ajudar à confusão e ao desnorte, para desinformar. Adoramos as "fake news" e os raciocínios falaciosos. Somos pela elevação espiritual e estamos igualmente numa cruzada contra o subdesenvolvimento mental, a raiz de todos os males, segundo o meu cão. Defendemos uma comunicação de entretenimento, pois nem só de pão vive o homem. Também aqui se provou que Satanás existe e que o ser humano tem o Diabo dentro de si. Um exorcista, como se sabe, expurga o Demónio de uma pessoa (Portugal tem pelo menos seis exorcistas credenciados). Um bom exorcista consegue dizer o nome do demónio que entrou numa pessoa. Para quem não sabe, o Diabo liderou uma rebelião de anjos (um terço deles) que viraram demónios.
Queremos aqui realçar a importância das "fake news", da informação falsa. Graças a ela, a pretexto da existência de armas de destruição maciça, o Iraque foi invadido pelos americanos e o psicopata do Saddam Hussein foi derrubado (1991). Este escreveu-nos há dias, a dizer que não era psicopata. Como é possível desencadear um conflito, assente numa informação não verdadeira? Pergunta, perplexa, Clara Lopes, de Portalegre.
Preciosidade da semana: "Através do voto você não vai mudar nada neste país, (...) Só vai mudar, infelizmente, se um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro e fazendo o trabalho que o regime militar (brasileiro) não fez: matando uns 30 mil". O autor desta pérola foi Jair Bolsonaro, em 1999.
O Brasil teve Satanás a governá-lo, na pessoa de Bolsonaro, que sustentou que a ditadura militar não devia ter torturado, mas morto os opositores. Quem diz tal barbárie possui um cérebro disfuncional, representa o lado negro do ser humano. Churchill não se enganou quanto ao maluco do Hitler. É perigoso quando pessoas não normais, quando mentes não sãs governam países.
Bolsonaro refere-se aos negros como "petralhada" ("Vamos metralhar a petralhada aqui do Acre"). Bolsonaro sustentou que a ditadura militar brasileira era uma democracia. Só contaram para ele. Também houve quem dissesse que a ditadura do proletariado era mais democrática do que qualquer democracia burguesa. A mente humana é capaz dos maiores malabarismos. Nos dias de hoje, há quem justifique a Inquisição, dizendo, por exemplo, que ela teve um papel moderador na repressão dos hereges, ou que evitou as guerras religiosas (entre protestantes e católicos) na Península Ibérica. Não é possível maior autocomplacência. O mal quando vem tem sempre uma desculpa.
A minha mulher-a-dias frisa que Bolsonaro para além de parecer respirar patriotismo por todos os poros, invoca Deus sempre que pode ("Deus acima de todos"). Veja-se também o presidente Reagan dos EUA que andava sempre com Deus na ponta da língua e no entanto era um bom amigo de ditaduras. Só via o "Império do Mal" dos comunistas. Era cego de um olho e ninguém o avisou.
A D. Aninhas, uma especialista em Demonologia, considera que Hitler e Estaline foram instrumentos do Diabo. Ela também defende que a teoria científica do Demónio (teoria do tudo) permite explicar quase todo o comportamento humano: crime organizado, corrupção política, massacres de grandes conquistadores, escravatura, maus-tratos de idosos em lares, etc. Onde há falha de humanidade e indiferença está Satanás.
Última hora: Bolsonaro, por quem temos uma fixação, mandou-nos uma missiva a agradecer as palavras simpáticas que escrevemos sobre ele. Aproveitou para dizer que este texto miserável tresanda a marxismo cultural.
Por curiosidade, o físico inglês Stephen Hawking disse que Deus não existe. Se estivéssemos na Idade Média teria ardido vivo numa fogueira. Também se morasse em algumas zonas do Globo, a brincadeira sair-lhe-ia cara. Liberdade de pensar? O que é?
Ainda outra curiosidade, existem países em que é considerado imoral as mulheres verem jogos de futebol masculinos e usarem minissaia. Também há nações onde não se considera indecente pessoas a viver na pobreza.
Já me esquecia, para a careta da minha mulher-a-dias há o certo e o errado, o bem e o mal. Ela tem uma visão estratégica para o País e mesmo para o Mundo, o seu conceito: todos possuírem qualidade de vida. Um é importante, como se referiu. A bastantes inteligentes não lhes entra na cabeça, que uma pessoa tem direito a uma existência aprazível, a uma "vida boa" (keynes). Qual a razão para tal dificuldade cognitiva, para esta visão deformada? Igualmente para ela as pedras não conseguem ver o mundo com o coração, coisa importantíssima. Têm o pensamento congelado e não, uma mente aberta. Não se possua vistas curtas. Para ela o ser humano é luzes e sombras, na verdade, mais sombras, um bárbaro, muitas vezes de luvas brancas, sem vergonha. Quando não há humanismo alguém se trama.
Para o Tobias (o meu cão) nada havia mais importante do que a felicidade das Nações. Era daqueles que queria consertar o Mundo e sustentava que é preciso "cavalgar o futuro". Para ele não fazia sentido a existência ser espinhosa, um calvário. Haja moral social. Por que a existência não há de ser fácil? Todos deviam andar numa boa. Lembra também que uma economia em que as pessoas têm qualidade de vida é mais evoluída e eficiente. Como se vincará várias vezes, o desenvolvimento económico e social caminham a par. Haja uma visão holística, global.
Luís Tadeu acha que esta anedota de mundo, surreal, está bem (o medíocre deverá ser a norma). Não pertence à casta inferior, pois tem um bom rendimento. Afirma que isso de fazer uma sociedade em que todos possuam qualidade de vida não tem pertinência. Não é absurdo a existência de pessoas sem bem-estar. Sustenta que em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Reconhece que tem uma indiferença por aqueles que por esse Mundo fora vivem na pobreza. É a favor de um pensar deliberadamente minguado e redutor e de uma involução mental e mesmo histórica. Defende também uma cultura regressiva e há que desarmar intelectualmente o povo, que deve ter pouca capacidade para processar informação. A dominação simbólica é importante. As pessoas devem andar desorientadas. Desconfia do pensamento lógico-racional. Sem este é possível justificar tudo e mais alguma coisa (arbítrio intelectual). Tem afeição pelo raciocínio dogmático, mecânico (que sofre de insensibilidade) e pelo saber fossilizado. Este, como se sabe, não evolui. Deseja longa vida ao pensamento convencional: a pobreza é natural, sempre haverá guerras, etc. Igualmente é a favor do negacionismo: Se uma realidade não agrada, nega-se a existência dessa realidade. Por exemplo, o governo turco repudiaa que tenha havido um massacre dos arménios na Primeira Grande Guerra Mundial. Quem disser o contrário é punido. Para ele, se uma pessoa tem um salário estratosférico, é porque o seu talento condiz com isso. Se usufrui de uma renumeração de pobreza, tal mostra que a sua produtividade é baixa. Tem o que merece. Para ele o cérebro humano tem dificuldades a nível do pensamento lógico-racional e ainda bem. Aceita que é difícil passar do "estado de natureza" (selva social) ao "estado de civilização".
João Pereira, de Nelas, que nos esclarece que sofre de inércia mental, também é a favor de um pensar minguado e acha que a burrice é um saber como outro qualquer. Informa-nos que a temperatura do Inferno é igual à da superfície do Sol (cerca de 5500°), o estado de castidade é superior à não-castidade, as mulheres devem obediência aos maridos, as espécies vivas foram criadas de uma só vez e não evoluíram umas a partir de outras, etc. No entanto, reconhece que Deus não pode ser responsabilizado pela indigência mental dos humanos. No séc. XXI ainda há quem debata questões do tipo o "sexo dos anjos". Quem padece de indigência mental não tem problemas de consciência. A informação é uma janela para o mundo, mas há as que nos transmitem imagens distorcidas. Obscurantismo? O que é?
O pensamento dogmático e mecânico anda em circuito-fechado. É incapaz de saltos conceptuais, não é dialético, mas pouco subtil, com resultados medíocres. Os saltos conceptuais são como os saltos quânticos em Física, segundo a minha mulher-a-dias. Ela defende que alguém com um pensamento dogmático não consegue sair da insensibilidade e da indiferença e é apenas capaz de uma moral meramente formal. Por exemplo, João dos Remédios, de Chaves, acha que uma mulher deve ir pura para o casamento e este é indissolúvel. Se os dogmas não encaixam na realidade, tanto pior para esta.
Um aparte, um partido político andou por aí a espalhar um cartaz, que diz que o País é para todos. Trata-se de publicidade enganosa, de pura propaganda. Portugal não será para todos.
Carlos Semedo refere o caso de uma jovem europeia que sofria de stress pós-traumático após anos de abusos sexuais. Depois de duas juntas médicas considerarem que o seu estado era incurável, foi-lhe reconhecido o direito a morrer. Se uma pessoa está em dor não compete a outros decidir que ela continue nesse estado, é desumano e revela insensibilidade e indiferença. Viver em sofrimento é que atenta contra a dignidade. O suicídio assistido, por exemplo, não é um homicídio. Que não se misturem alhos com bugalhos. Não vale um raciocínio falacioso. Uma achega, em Portugal os cuidados paliativos apenas cobrem uma pequena parte das necessidades. Muitos têm um fim horrível. Não a uma cultura da morte com sofrimento, defende a minha mulher-a-dias.
Não faz sentido alguém impor aos outros as suas normas. Na Irlanda o divórcio era proibido. Também em Portugal, no tempo da Ditadura, e devido à Concordata de 1940, quem estava casado pela Igreja não podia divorciar-se pelo civil. Isto causou danos irreparáveis a muitas pessoas, mas não provocou quaisquer problemas de consciência nos responsáveis por tal situação.
A minha mulher-a-dias também diz que Deus lhe confidenciou, em sonho, que não é admissível que a Igreja, em Portugal, Espanha e não só, tenha andado de mãos dadas com ditaduras. Há aqui uma falha de humanidade, uma sensibilidade embotada, que atinge muitos. Civilização? O que é isso? Existe quem não queira saber o significado profundo de realidades como estas. Frequentemente o certo e o errado, o bem e o mal trocam de lugar, o que é espantoso. A Inquisição chamava-se "Santo Ofício". Há uns anos, as moedas espanholas diziam que o ditador Franco era caudilho pela graça de Deus. Uma fotografia mostra o ditador chileno Pinochet a comungar. Para a minha mulher-a-dias não poucas vezes o Diabo veste a pele de cordeiro. Raio de bicho. Deus não anda abraçado a Satanás, diz a minha mulher-a-dias.
Oliveira Salazar enviou-nos um e-mail. Reconhece que o cristianismo é incompatível, por exemplo, com a prática da tortura e do assassinato político. Na prisão de Machava (Moçambique), e não só, chegou-se a torturar pessoas até à morte. Promete que na próxima reencarnação vai portar-se melhor.
A despropósito, António Lopes defende, por uma questão de patriotismo, que as privatizações devem ficar em mãos nacionais, para que estas as vendam a estrangeiros. Se já não houver empresas públicas, que se privatizem os serviços públicos, como os correios, os setores estratégicos como a energia, etc. Depois dos anéis, vendam-se os dedos.
Joana Lemos diz que está para breve a sua partida deste mundo. Para ela a vida prega muitas partidas e dá muitos socos. Azar ter nascido.
Outro aparte, em 1925, nos EUA, deu-se o "julgamento do macaco". Um professor foi preso e condenado por ensinar a teoria da evolução de Darwin, que estava proibida em alguns Estados, por pressão do fundamentalismo religioso protestante. Só era permitido lecionar a falsa teoria do criacionismo. Impressionante a força da ignorância e do obscurantismo. A religião é alienação quando resvala para o fundamentalismo intolerante e vira instrumento do Diabo, na opinião da minha mulher-a-dias. Os extremos tocam-se. Como se referiu, quando um pateta comete uma palermice, é incapaz de se aperceber disso e a estupidez é teimosa. Foram poucos os marafados dos nazis que reconheceram a burrice que fizeram com a pouca-vergonha do matadouro da Segunda Guerra Mundial, que levou a destruição a grande parte da Europa. Já agora, os soldados alemães morreram pela Pátria, ou pela loucura nazi? Carne-para-canhão, o que é?
Volta-se a perguntar, como foi possível ser eleito para presidente de um país (Estados Unidos) alguém (Trump) que nega a veracidade do aquecimento global? Será que o mundo acabará com a vitória da estupidez? O ser humano ou muda os seus padrões mentais, ou está feito ao bife, não se cansa de repetir a minha mulher-a-dias. Uma curiosidade, Trump considera-se um génio ("I'm a genius").
Joana Dias, gestora, garante que a maravilhosa economia de mercado, por ser eficiente (trata-se de um dogma), vai terminar com a pobreza no Mundo. Também acredita na estória da Carochinha. Sérgio Lopes lamenta que a escravatura não seja legal. Isto permitiria baixar em muito os custos de produção. Pelo menos que o salário mínimo não dê para viver com dignidade, embora isto não deva ser dito em voz alta.
Preguntas de cultura geral: A existência dos sem-abrigo é um tiro de canhão nos direitos humanos? Se a pobreza é aceitável qual a taxa admissível para os que ficam de fora? 10, 20, 40, 80%?
Luís Pascoal, do Fundão, diz que hoje atirou uma pedra, que partiu ontem a janela do vizinho, o que viola a segunda lei da termodinâmica, que estipula a irreversibilidade dos fenómenos físicos. Também é perseguido por pensamentos invasivos e já fez queixa na Polícia. Mais informa que os portugueses vivem no paraíso da economia de mercado. Daí a razão da pouca qualidade de vida neste País.
Para a minha mulher-a-dias, que está de mal com a vida, este é um mundo de muita sacanagem e a história da humanidade é, em grande parte, feita de violência inaudita, inclusive a de caráter económico (por exemplo, a escravatura). Aqui o sonho não comanda a vida. Tal padrão comportamental não tem lógica, é irracional. Por que o ser humano não funciona bem do miolo? Aparenta ser um pouco lerda, de vistas curtas. A arreigada ideia de que é inteligente deverá ser descartada, por muito que custe. O Homo "sapiens" mostra não saber governar-se. Tende a ser indiferente à sorte dos outros e não se importa de pisar o semelhante. O saber e o agir deviam acertar no alvo: levar ao bem-estar. Existe quem se recuse a enxergar a realidade, mesmo o óbvio. O Inferno está na Terra, não é preciso ir longe. A qualidade de vida tem sido parca. A condição humana não tem sido famosa. Para o realismo ingénuo se as coisas são como são, se calhar é natural que o sejam. Daí a aceitação e passividade perante a patologia social da pobreza e a "inevitabilidade" da guerra, outra enfermidade. A superfície do mar não deixa ver o que está por baixo. O realismo ingénuo não se dá conta de que anda ao sabor das ondas. Há que romper com as formas de pensamento arcaicas, senão passaremos mal.
Helena Maia, de Amarante, acha que o nosso Hino Nacional é um cântico guerreiro (glorifica o império colonial). Também notou que grande parte da indústria do entretenimento contém violência, o que considera não saudável e não inócuo. Odete Lima diz que prefere a glória e a arte da paz à da guerra ("make love, not war"). Santos Lemos sustenta que o povo deve olhar para o que é anormal e achar que é fixe (sensibilidade embotada). Para Renata Lima o pacifismo é perigoso, pois leva à demissão. Se nos derem uma bofetada não devemos oferecer a outra face. João Gonçalves defende que a guerra é um antídoto para a decadência das nações. Também adora a violência e uma grande parte do tempo sonha com ela. O seu ídolo é D'Aubuisson, o chefe de orquestra dos esquadrões da morte em El Salvador, responsáveis por inúmeras torturas e assassínios, como o do arcebispo católico Óscar Romero em 1980. D'aubuisson era o Diabo em pessoa e usava um maçarico nos interrogatórios. Também tem uma grande admiração pelo presidente Duterte das Filipinas. Este acha que uma forma de combater a droga é matar os toxicodependentes. Quem for apontado como traficante, drogado e "vagabundo sem destino" arrisca-se a ser liquidado por assassinos a soldo que atuam à margem do estado de direito. Tem a esperança, que um dia, o Mundo será um verdadeiro faroeste global.
Muitas vezes, quando uma pessoa tem um problema e o reconhece, isso é um passo importante para o resolver. A humanidade devia admitir que carrega um, que não é pequeno.
Uma curiosidade, durante os 15 anos em que o frade Torquemada (séc. XVI) foi Inquisidor-Geral na Espanha, fizeram-se, em nome da verdade absoluta, inúmeros autos-de-fé, em que foram queimados vivos seres humanos, os hereges (era a limpeza de sangue). Os nazis não fariam melhor, para a minha mulher-a-dias. Torquemada não gostava mesmo de muçulmanos e de judeus. Os Dominicanos, que dirigiram a Inquisição (foram depois substituídos pelos bondosos Franciscanos) eram conhecidos como os "cães de Deus" (Domini canes). Deus não tem culpa dos crimes feitos em seu nome, o que lhe tem provocado inúmeras insónias. Os malucos que nos dias de hoje matam em nome de Deus deviam mostrar a procuração escrita. Vivem no passado, na época medieval, diz a minha mulher-a-dias. Já agora, na Europa, no segundo milénio, foram mortas dezenas de milhares de pessoas acusadas de bruxaria. Ideias disfuncionais, não racionais só podem dar em asneira. Também os judeus não tiveram vida fácil. Eram apontados como causadores de epidemias, de envenenar poços, comer crianças cristãs, etc. Volta e meia sofriam massacres e até por instigação clerical. Foram expulsos de Inglaterra, França, Portugal e Espanha. Eram mal-amados e bodes-expiatórios.
Há verdades inconvenientes e indizíveis. O cristianismo de religião perseguida passou a martirizar os outros credos. Isto aconteceu após se tornar a religião oficial do Império Romano (séc. IV d.C.). Os judeus, que foram perseguidos e mortos pelo nazismo, expulsaram centenas de milhares de palestinianos das suas terras, para fundar o Estado de Israel, em 1948. Recentemente continuaram a tirar solo aos palestinianos para criar colonatos.
Também para Maria Bento, de Verdelhos (Beira Baixa), o ser humano não consegue domar as suas pulsões. Para ela seria bom criar-se um Curso Superior de Medicina Social, em que se estudasse as patologias sociais. Luís Freitas, oftalmologista, confirma que não há maior cego do que aquele que não quer ver. Quase que não vale a pena uma pessoa esforçar-se para tentar convencer quem quer que seja. Daí mais uma razão para a inutilidade deste pasquim, que, nunca é demais lembrar, tem chancela presidencial e quiçá benção divina.
Há quem prefira o mito em vez da verdade. Muitos são incapazes de reconhecer que a teoria comunista é falsa (deu origem a ditaduras). Também bastantes não conseguem admitir que o criacionismo está errado. Igualmente muitos são incapazes de aceitar que a teoria do crescimento económico é um engano que está a conduzir a humanidade para o desastre ambiental. Uma mão-cheia de saberes são castelos de cartas. O que leva o ser humano a tomar caminhos ínvios?
Carlos Esteves, do Porto, diz que viver é uma forma de estar, um estado de espírito. Também acha que o povinho deve estar anestesiado, acrítico, para que conviva com o absurdo. Que a santa ignorância alumie o vulgo, os papalvos. O obscurantismo é o ópio da plebe. Também acha que a assimetria da informação é uma coisa maravilhosa para o jogo social, em que existem vencedores e perdedores. Há que entreter constantemente o povo com questões laterais, com sucedâneos. Ele deve navegar no realismo ingénuo. Muitas coisas não são o que parecem e assim devem permanecer. Defende que a pobreza resolve-se com as migalhas da caridade. Também acha que ela faz parte da identidade nacional e pôr-lhe fim poderá descaracterizar o País. Quem não tem dinheiro não padece de vícios. Se o povo está descontente com a vida, que tome ansiolíticos. É pela medicalização dos problemas sociais.
Modéstia à parte, pretendemos ser uma lufada de ar fétido no panorama das ideias em Portugal. Somos um engenheiro das almas. Quem porfia sempre alcança e água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Para esconder a debilidade das nossas imbecilidades e aumentar a sua força telúrica, lançaremos mão de muita bravata, em tom inflamado. A melhor defesa é o ataque. Como se referiu, as nossas palavras serão pregos, bofetadas. Com tal estratégia esperamos não conseguir passar a mensagem. Temos o espírito de missão. O que nos guia e empolga, nos dá força anímica, é o superior interesse do País. Que se trilhe o caminho da sabedoria. Por vezes é preciso ousar dizer, ou fazer, como aconteceu com os militares que ousaram o 25 de Abril e derrubaram uma ditadura. É de homem.
Fevereiro de 2018, Jan Kuciak, jornalista eslovaco e a namorada, foram assassinados. Ele tinha investigado casos de corrupção ligados à máfia italiana. Já agora, entre 1978 e 1992, a máfia siciliana eliminou quase todos os funcionários públicos que atrapalhavam a sua atividade (polícias, juízes, autarcas, parlamentares, etc.). Por exemplo, em 1992, os juízes italianos Falcone e Borsellino foram mortos à bomba. 2006, Alexander Litvinenko, ex-espião russo, foi envenenado com polónio-210, em Inglaterra (Lima Santos, de Pegões, não acredita que Putin tenha sido o mandante). Outubro de 2017, a jornalista Daphne Galizia, da ilha de Malta, foi assassinada. Igualmente tinha indagado casos de corrupção. O jornalista saudita Jamal Khashoggi foi liquidado e esquartejado no consulado da Arábia Saudita na Turquia. No México, neste século, foram mortos dezenas de jornalistas. Há quem não brinque em serviço. Quando se pisa a cauda de uma cobra, ela morde.
Notícias atrasadas: 1802, Napoleão, que se dizia cristão, restabelece a escravatura nas colónias francesas. 1955, a negra americana Rosa Parks foi presa por se recusar a dar o seu lugar a um branco, no autocarro, o que ia contra a lei. O pastor evangélico Luther King, que liderou a luta contra a segregação racial nos EUA foi assassinado em 4/4/1968. Luther King chegou a ser preso várias vezes pela polícia.
Notícia recente: Setembro de 2018, Estado de Veracruz, México, é achada mais uma vala, com cerca de 160 crânios (já foram descobertas cerca de 300). Tal tem a ver com os cartéis da droga. Por curiosidade, o bando dos Zetas foi criado por elementos que pertenceram às forças de elite do exército mexicano. O meu cão viu um vídeo na net que o deixou muito abalado. Nele, um grupo de Zetas depois de interrogar um elemento de um grupo rival, decapita-o vivo.
Notícia adiantada: Fevereiro de 2047, Lúcio Paiva queixa-se de que a água que bebe sabe a plástico. Tal deve-se à contaminação do ambiente por micropartículas deste material.
A despropósito, o bispo Desmond Tutu perguntava que Bíblia liam os "cristãos" racistas da África do Sul. A minha mulher-a-dias diz o mesmo relativamente aos esclavagistas do sul dos Estados Unidos, no séc. XIX.
Notícia necrológica: Morreu (1/4/2018) o general de opereta Rios Montt que era cristão evangelista. Foi ditador da Guatemala durante algum tempo (1982/83). Nesse entretanto o seu regime cometeu dezenas e dezenas de massacres (mais de vinte mil mortos). Tal é exemplo do terrorismo de Estado em todo o seu esplendor. Rios acabaria por sentar-se no banco dos réus por genocídio. Insiste-se, há pessoas que não prestam.
Para a minha mulher-a-dias as ditaduras militares são como o sistema imunitário que se volta contra o organismo que era suposto defender. Aproveitamos outra vez para lembrar a ditadura militar argentina (1976-83) e as suas dezenas de milhares de desaparecidos, que seriam torturados e mortos (um belo exemplo de guerra suja). Também aqui houve quem fosse atirado de aviões da Força Aérea para o mar, sem paraquedas. A imaginação e a barbárie não têm limites.
Não podemos deixar de recordar Idi Amin um general de pacotilha que desgovernou o Uganda de 1971 a 79. Deixou atrás de si dezenas de milhares de assassínios. Não pagou pelos seus crimes. Outro maluco, o "Imperador" Bokassa, reinou na República Centro-Africana de 1966 a 79. As suas atrocidades não tiveram fim.
Interlúdio: Temos vindo a abordar questões do calibre da "ignorância funcional" (só se vê o que se quer). Com tais exercícios espirituais de caráter oftalmológico analisaremos o fenómeno da cegueira intelectual e a respetiva terapia cognitiva. Como aqui se falará de tudo e de mais alguma coisa (até vamos ter um espaço de correio sentimental), mostrámos que o nazismo, como exemplo de violência extrema, foi comum ao longo da História.
Isto da Economia e da lucidez tem que se lhe diga, como já se disse. Não é possível fazer um discurso absoluto sobre o real, pois cada um abraça os valores e mesmo as crendices que quer, incluindo nós. Carlos Silva, economista, também acredita na quimera viral do crescimento económico permanente, o que é, repete-se, uma impossibilidade física (existem limites ambientais). Ignora o facto de não haver "infinito potencial". Trata-se de uma falha lógica fatal. O absurdo, o sustentar o insustentável são possíveis. Manda o obscurantismo, para variar. Começar a preparar a mudança do paradigma económico? Para quê? A História mostra que as mudanças de paradigma são difíceis e dolorosas.
Há situações que gozam com a inteligência de uma pessoa. Apesar da taxa real de desemprego real, em Portugal, em fevereiro de 2018 (17,50%) ser o dobro da taxa oficial que é falsa, aceita-se e fala-se desta, como se fosse a coisa mais natural deste mundo. Como é possível ficar impávido e sereno perante o absurdo de certas verdades "oficiais' (em sentido lato), como sejam: o crescimento económico não se discute, a economia de mercado é eficiente, etc.
Galileu ousou dizer, contra a opinião de muitas mentes brilhantes do seu tempo, que a Terra andava à volta do Sol. A minha mulher-a-dias atreve-se a defender que a genial globalização é uma forma de darwinismo social. Muitos produtos de marca, de glamour são feitos à custa de salários de pobreza, ou mesmo de miséria. Trata-se de uma economia suja. Há muitos infernos laborais espalhados por essa Terra fora. A globalização que é intrinsecamente entrópica, pois perpetua a pobreza, cheira mal, mas muitos têm o nariz tapado. Este Mundo não é o da inocência das crianças, insiste-se. A ganância manda. Essa é que é essa.
A despropósito, para aumentar a tensão narrativa: Numa gravura de 1594, de Theodor de Bry, um grupo de indígenas americanos é esquartejado por uma matilha de cães. A assistir estão 8 conquistadores (cristãos europeus), autores do espetáculo. O conquistador e explorador espanhol Hernando de Soto (séc. XVI) fez fortuna com a compra e venda de escravos. Era um homem de sucesso para a época.
O bispo Bartolomeu de las Casas (séc. XVI), que denunciou a violência que era exercida sobre os indígenas americanos, viu os seus escritos censurados. O padre António Vieira (séc. XVII) teve de sair do Brasil por ser demasiado amigo dos ameríndios.
Carlos Pena defende que em economia não devia valer tirar olhos. Elucida-nos que os escravos não tinham direito a férias, baixa por doença, reforma, e como se isto não bastasse, ainda eram obrigados a trabalhar e à borla. Acrescenta que nos dias de hoje o dinheiro rola fácil para uns e, dificilmente para outros. Por exemplo, a maioria dos portugueses vai ter uma velhice de pobreza, o que é maravilhoso. Nem todos se sentam à mesa.. Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo, ou não sabe da arte. Alguém anda a pagar as favas, os vencidos da vida. Odete Luz mandou-nos uma "fake new" que informa que investigadores de uma universidade do Canadá descobriram uma coisa que toda a gente sabe: o dinheiro diminui o stress e previne as insónias. O vil metal torna a vida fácil.
Por curiosidade, o cardeal português José Saraiva Martins não condena os bispos que silenciaram casos de pedofilia. Acha que numa família "não se lava a roupa suja em público". Considera que as denúncias derivam do interesse em receber dinheiro e fazem parte de um complô contra a Igreja, ou seja, a realidade é que está errada. Parece haver aqui uma certa diabolização e descredibilazação das vítimas, uma inversão de papéis. Trata-se de uma violência simbólica cruel. Há palavras que são veneno. As vítimas da pedofilia religiosa cristã no Planeta atingem as largas dezenas de milhares. Impressionante. Nem dá para acreditar. Mais uma vez a realidade ultrapassa a ficção. Tal tem um carácter sistémico, tende a obedecer a um padrão. Aproveitamos para lembrar aqueles que se suicidaram em consequência dos abusos. Um pedófilo pode ter no seu currículo dezenas de vítimas e suicídios. Insiste-se, tão grave como estes desmandos foi a atuação sem perdão das hierarquias, que dizendo representar Deus e colocando-se acima do bem e do mal e das leis dos homens, tentaram sempre abafar as denúncias e transferiam os predadores, provocando a continuação dos crimes. Houve um padrão de pouca ou nenhuma compaixão pelos abusados, o que é surpreendente. As pedras não têm alma e emenda. Na Austrália (centenas e centenas de clérigos envolvidos) chegou-se ao ponto de castigar aqueles que denunciaram as malfeitorias que lhes foram infligidas. Trata-se de uma falência ética generalizada, para a minha mulher-a-dias.
Agosto de 2018, um relatório revela que centenas de religiosos católicos do Estado da Pensilvânia abusaram de jovens ao longo de décadas. No total, nos Estados unidos houve milhares de padres pedófilos. Setembro de 2018, Alemanha, um relatório da Igreja revela que desde 1946 e durante 70 anos pelo menos cerca de 1600 padres e bispos abusaram de milhares de vítimas. Um sexto dos casos foram violações.
O caso extremo do autodenominado Estado Islâmico (Síria, Iraque) remete para a questão, de que vale a religião sem ética? Há verdades que incomodam e tem de se chamar as coisas pelos nomes. Na Irlanda uma hierarquia amoral e indiferente acobertou inúmeros casos de pedofilia e maus-tratos durante dezenas de anos, que envolveu dezenas de milhares de vítimas (o relatório da Comissão Ryan, 2009, é um livro de horrores). Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta. A mortalidade infantil nos orfanatos católicos da Irlanda era alta. 12/2018, Estado de Illinois (EUA), a Justiça acusa a hierarquia católica de ocultar a existência de centenas de padres pedófilos. Houve destruição de documentos sobre os abusos. É pena e uma vergonha que as Igrejas cristãs só tenham começado a agir por pressão da opinião pública. Muitos crimes ficaram impunes.
Lena Santos, de Évora, acha que Portugal é um formigueiro de mentes brilhantes, o que augura amanhãs que cantam. O País, apesar da sua gloriosa história, ainda não conseguiu acabar com a pobreza, como se sabe. Trata-se de um problema de inteligência coletiva. Pessoas com bem-estar são mais produtivas, insiste-se, o que é um círculo virtuoso. Existe quem veja a indigência como algo aceitável, mas não para si e para os seus. O meu cão dizia que quando via um sem-abrigo doía-lhe o coração. Devia ter ido ao cardiologista.
Carlos Ameal só tem medo que o céu lhe caia em cima da cabeça. Garante que inventou um motor a água. É um adepto de uma cultura snob. Considera que possui horizontes estreitos (está acomodado à ordem existente). Não vê o mundo como multicêntrico, complexo. Tem um pensamento que não questiona, não faz perguntas. Acha que não se deve tocar na questão social (acesso à qualidade de vida). Admite que não consegue absorver novas ideias. Também para ele os interesses são o critério do certo e do errado. Um exemplo, aquando da Guerra Civil americana (séc. XIX), a cristã Inglaterra reconheceu os estados separatistas do Sul, pois precisava do algodão desta zona para a sua indústria têxtil. Não lhe importava se o algodão era produzido à custa do trabalho escravo. Reconhece que por vezes as ideias dominantes são medíocres. Sustenta que gastar dinheiro na erradicação dos bairros da lata, ou dos sem-abrigo é um exemplo do mau uso dos recursos do Estado, pois trata-se de uma despesa não reprodutiva. Opina que o poder económico deve atar a democracia, bater o pé ao poder político. Os centros de poder não têm de estar onde se pensa. Os políticos não podem ir contra a vontade dos mercados (entidade etérea), o barómetro da racionalidade económica. No entanto, há quem fale na irracionalidade dos mercados. Também se acha um especialista (quase um sacerdote) em interpretar a vontade dos ditos. Por exemplo, os mercados gostam de reformas estruturais que levem à redução dos custos do trabalho (salários de pobreza). É pelo recuo da inteligência. Defende que a Terra e o bem-estar não têm de ser para todos. Opina que se deve distrair o povo com miudezas. Nada de questões de fundo. Para ele o salário de uma pessoa não deve dar para pagar todas as despesas. Pode-se malhar no povo, que ele aguenta (resiliência). Em Portugal, quem não possui dinheiro é melhor não estar doente. Também tem simpatia por ambientes de trabalho ruins (uma parte significativa dos portugueses já foi vítima de assédio no local de trabalho) e de uma sociedade onde meio mundo tenta enganar o outro, de modo a tornar a existência difícil e aumentar a litigância judicial. Tem os olhos postos no futuro. Professa a esperança de que Portugal será um país anacrónico, atrasado, por muitos séculos, com pouca qualidade de vida para os cidadãos. No entanto, é um progressista (a favor do progresso). Os pobres permitem que se fale deles e se pratique a virtude da caridade. É importante o paternalismo para com os "mais desfavorecidos". Estes, em Portugal, bem podem esperar. Como se dirá mais adiante, o que interessa verdadeiramente é a qualidade de vida das elites, que devem ser mimadas e vivem noutra dimensão, acima do comum dos mortais. Sustenta que este mundo anormal, disfuncional não atenta contra a sanidade mental de uma pessoa.
Apesar da ciência e da técnica, a pobreza no Mundo atinge uma dimensão dantesca (indecente catástrofe humanitária que muitos não enxergam). A Terra não é um "El Dorado". Em cada dia morrem milhares de pessoas devido à subnutrição, doença e miséria. Isto não é notícia nos telejornais. Esta hecatombe, este genocídio não incomoda muitas almas sensíveis. Há quem diga que ignorar um problema é como se não existisse. A inteligência parece que tem servido de pouco ao ser humano e é usada para fazer malfeitorias, isto na opinião do meu canídeo. Repete-se, o Homo sapiens tem um lado obscuro, a sua maldição. É fácil despertar o monstro, capaz de crueldade infinita. Alguns exemplos: No séc. XIX, os cristãos anglo-saxónicos da América do Norte levaram a cabo, sem piedade, o genocídio dos índios (apelidados de selvagens) e apropriaram-se dos seus territórios (imagine o leitor que alguém ocupava a sua casa e o punha fora). Chegou-se ao requinte de dar aos indígenas mantas infetadas com varíola. Houve uma política de destruir e substituir. O Texas quando ficou independente do México (séc. XIX), elaborou uma constituição onde ficou consignado o carácter sagrado da escravatura. Depois de uma guerra vitoriosa, os Estados Unidos deitaram a mão, em 1848, a mais de metade do solo mexicano. Foi o direito do mais forte. Para a sempre exagerada da minha mulher-a-dias, dos seres vivos à face da Terra o Homo Sapiens é o mais estúpido, pelas opções erradas que faz.
Um dia o meu cão mostrou-me uma fotografia do séc. XIX, onde se via um casal de nobres russos numa carroça puxada não por cavalos, mas por servos. Estes podiam ser comprados e vendidos e estavam proibidos de abandonar o dono.
A minha mulher-a-dias afirma que o ser humano tem dificuldade em conduzir o processo social, pois possui uma esperteza relativa. A Revolução Francesa (séc. XVIII) não conseguiu de todo a "Liberdade, lgualdade e Fraternidade". Por exemplo, com Robespierre, os jacobinos cortaram milhares de cabeças dos girondinos e de outros na guilhotina. O químico Lavoisier teve o seu pescoço cortado. A Revolução Russa de 1917 não levou ao "homem novo" no estalinismo, pelo contrário, nem a uma sociedade sem classes.
A despropósito, este pasquim visa ajudar a fazer um País eficiente, de excelência, onde todos tenham qualidade de vida. Esta fasquia alta seria ótima para a economia, evidente. Tal desafio complexo representa uma epopeia e um avanço conceptual, na nossa imodesta opinião. Outros acham que seria bom dar atenção a coisas realmente importantes e não perseguir utopias, ideias peregrinas, pois não é possível ter tudo.
Lina Soveral, de Lisboa, diz que também pode bem com o mal dos outros e não se comove com o facto das condlções laborais da globalização serem más (coisa que não deseja para si). Tal permite comprar produtos baratos, o que é bom. Não se considera uma pessoa amoral, para quem não existe o certo e o errado.
Ainda a despropósito, o cancro é, antes de mais, uma questão política e não médica. Por exemplo, os motores a gasóleo libertam micropartículas cancerígenas. Há muitos casos de poluição invisível. Talvez seja avisado erradicar o amianto no País. Também o cancro infantil e da mama têm vindo a aumentar. Porquê? Há quem seja a favor da política do deixa andar. Pelo caminhar da carruagem um em cada dois europeus vai ter cancro. Fenomenal.
Aristóteles, um dos maiores pensadores da Antiguidade (tinha 1,90 cm de altura), defendia... a escravatura. Para ele há os que nascem para ser escravos (instrumentos falantes), o que é uma falha lógica olímpica. A minha mulher-a-dias diz que a falta de humanismo (indiferença) reflete-se na maneira como se tratam os animais, incluindo as pessoas.
Lúcio Silva, de Boliqueime, afirma que é difícil mudar um país, os seus atavismos. A ignorância e os valores errados (por exemplo, uma cultura de violência) são inimigos da qualidade de vida. A Primeira Guerra Mundial (1914/18), que fez mais de uma dezena de milhões de mortos, não se compreende sem uma cultura belicista, então vigente. Uma cultura atrasada só pode dar um mundo a condizer. Há saberes e saberes, nem todos se equivalem. A mente não pode funcionar de uma forma desajustada. O caso mais óbvio é o das doenças mentais, que dificultam o desempenho daqueles que delas padecem. O agir tem como ponto de partida a informação, o saber. Se este for deficiente, o bem-estar será prejudicado. Por exemplo, um erro na informação genética pode levar a doenças, ou malformações. Insistimos, a qualidade de vida só é possível com a qualidade do pensamento, para que os recursos e energias sejam corretamente orientados. Vê-se com o cérebro, como se referiu. Por isso bastante informação é propositadamente parcial, pouco rigorosa ou mesmo falsa. Muitas vezes, aquilo que pensamos ser um olhar objetivo sobre o mundo é na verdade um olhar cultural. A emoção, a cultura e os interesses são peças do ato de conhecer e da gestão da informação. Atuam como chaves cognitivas. É isto que explica que muitos não vejam o óbvio e nada há a fazer. A economia só faz sentido se produzir qualidade de vida. Por exemplo, não são aceitáveis condições laborais desumanas, como acontece na globalização, ou na escravatura (é o mundo maravilhoso da economia e da produção de riqueza). Mas a falta de humanismo evidente desta lógica social (que nenhuma "ciência" económica pode justificar) não entra na cabeça de bastantes mentes esclarecidas, que vivem em estado de negação. Há crimes contra a paz e contra a justiça. Não se pode legalizar o que é injusto, o que vai contra os direitos humanos. Uma pessoa tem direito a não ser explorada, o que é obsceno. Existe quem não queira dar-se ao trabalho de pensar nesta inversão entre meio (economia) e fim (ser humano) e não se importe de laborar com ideias disfuncionais. Tal não é despiciendo. Também a economia e o comércio livres (laissez-faire, laissez-passer) são um dogma e como tal não podem ser postos em causa, ou mesmo questionar-se a sua suposta eficiência, por exemplo, em termos de custos ambientais e não só. Alguém defendeu que uma certa industrialização da América Latina deveu-se ao protecionismo. Foi o caso do Brasil. Em mercados abertos não há igualdade de oportunidades, nem todos vencem. Apareça quem prove o contrário. Hoje é consensual que a total liberdade de capitais tem consequências nefastas para a economia. Há que varrer as aparências e mostrar as agendas ocultas. Grande parte da realidade é subterrânea e é ela que por vezes determina o andar da carruagem. As pessoas nascem para ter qualidade de vida e não para serem desrespeitadas e violentadas. É difícil entender tal? Os economistas têm uma responsabilidade ética. Repete-se, quanto vale o ser humano? Os interesses fazem esquecer os princípios. Haja cegueira moral quanto baste. Uma prima minha, que é uma fonte fidedigna, contou-me que um chefe da máfia americana, dizia que não havia dinheiro limpo e sujo, dinheiro é dinheiro. Tal como existia o "Muro da Vergonha" que dividia a Alemanha, também se pode falar na vergonha da globalização (uma regressão civilizacional, na não avalizada opinião da minha mulher-a-dias). Esta globalização predadora também faz parte do "Mundo livre", para que se saiba. O subdesenvolvimento (viver em bairros da lata, em lixeiras...) não é em grande parte uma falta de desenvolvimento, como se crê, mas uma criação social. Salários de pobreza geram pobreza. A globalização não leva ao progresso, pois vive das remunerações parcas, é a sua essência. Muitos iluminados não enxergam esta contradição e o motivo disto reside no facto de a verdade pouco valer, pois anda ao sabor dos interesses. Ninguém vê o elefante. Daí o pessimismo epistemológico da minha mulher-a-dias. Para ela há muitas formas de pirataria. Capitalismo selvagem? Isso existe? A globalização tal como está representa um erro histórico, como a experiência comunista. A indiferença de ontem pela escravatura é a mesma de hoje perante a indigência (para os outros). Repete-se, a falta de humanismo e a ganância hão de perder o ser humano. Leonel Santos defende a eternização do subdesenvolvimento e a morte de crianças devido à subalimentação e doenças. Alguém disse que aquele que mata um inocente mata a humanidade inteira. A atual globalização não tem de ser um facto consumado, tal como o não foi a escravatura, que parecia eterna. É preciso dizer não à ideologia disfarçada de "ciência" económica.
Carlos Silva defende que dizer que a globalização é o mesmo que exploração laboral é uma falácia. Na verdade a maior parte do comércio mundial realiza-se entre países desenvolvidos.
Lina Pereira informa-nos que gosta de ler. Tem em casa uma coleção de 200 listas telefónicas antigas e já as leu quase todas, mas ainda não conseguiu tirar conclusões.
A despropósito, uma história verídica só para assustar: Uma doente, num hospital de Lisboa, sentiu-se mal durante a noite. Tocou a campainha, mas ninguém veio em seu socorro. Antes de morrer escreveu um bilhete a relatar o sucedido. Teve azar. Há tempos, a televisão noticiou o caso de um jovem que foi falsamente acusado de abuso sexual. A Justiça apesar de saber que estava inocente, delxou-o estar na prisão uns 11 mesitos. Não há pressas. Estas são inimigas da perfeição. Mais uma para chatear: a Justiça condenou um jovem a vários anos de prisão por roubar um... telemóvel. Acontece que a vítima e um dos agressores disseram que o jovem não participou no assalto. A jornalista que fez a reportagem do caso também não se safou: a "Justiça" condenou-a (cá se fazem, cá se pagam). Edite Soveral (nome fictício) teve um caso na Justiça (foi violada) que se arrastou por 21 anos. Para quê tanto tempo e complicação processual?
Aproveitamos para lembrar o capitão francês Dreyfus que foi acusado de espiar para a Alemanha, em finais do séc. XIX. Apesar do Exército e a Justiça saberem que ele estava inocente, não tiveram em conta esse pequeno detalhe. O escritor Zola que o defendeu foi condenado por injúria e fugiu para a Inglaterra. O absurdo é possível e não é raro.
Carlos Pintassilgo defende que o formalismo da justiça é mais importante do que a justiça em si. Em abono da sua tese dá o exemplo dos escravos e servos que eram castigados quando fugiam. O Direito não lhes permitia tal.
Notícia atrasada: 1973, a Igreja Católica do Chile apoiou um golpe militar (onde esteve a mãozinha da CIA) que derrubou um governo democraticamente eleito e instaurou uma ditadura. Seguiu-se um regabofe de torturas e assassínios. Foi o reinado das bestas. O Diabo andou à solta durante longos anos.
Como é possível que um país democrático e maioritariamente cristão, os Estados Unidos, apoiasse e fomentasse, no séc. XX, regimes totalitários, um pouco por todo o Globo, sobretudo na América Latina (o seu quintal), verdadeiro vespeiro de ditaduras. Esta lógica totalitária foi feita a pretexto da luta contra o comunismo e da defesa dos interesses americanos, critério do certo e do errado e mesmo do bem e do mal. A Escola das Américas, criada pelos EUA e sediada no Panamá, foi a universidade dos torcionários latino-americanos. A CIA não era propriamente uma instituição de beneficência.
A qualidade de vida é o critério de avaliação de uma teoria política ou económica, nunca nos cansaremos de realçar. Por exemplo, o crescimento económico permanente não é ambientalmente sustentável e por isso tem um carácter destrutivo, é parte do problema, mas muitos não querem ver. O aquecimento global está aí para o provar. Esta contradição insolúvel, este paradoxo e impossibilidade, que nega o pensamento lógico-racional, devia enterrar a teoria do crescimento económico. Se existe uma crise nos seus fundamentos, a sua permanência é do domínio do arbítrio. O mito, a crendice substitui-se à realidade. É a lógica da batata podre e do obscurantismo, do irrealismo e da farsa. A não-verdade não devia vencer a verdade. Impressionante tamanha cegueira intelectual e como se pode persistir no erro. Não se deve ser acrítico. Para que serve a lógica? Para alguns a falta desta parece não provocar desconforto. É também o nosso caso, pois somos capazes de defender uma coisa e o seu contrário. A questão da honestidade intelectual constitui um grande problema. Há uma responsabilidade coletiva. João Lemos sustenta que aquele que diz que a divinal teoria do crescimento económico é banha-da-cobra não pode ser levado a sério. Mais, se um aluno de Economia defendesse que esta teoria é uma falácia, merecia ser reprovado na hora. Não se brinca com coisas sérias.
A teoria económica diz que para manter o emprego, a economia deve crescer qualquer coisa como 2% ao ano. É a teoria que está errada ou a realidade? Também há uma teoria que afirma que se há desemprego é porque os salários estão altos. A imaginação não tem limites.
Como se disse, o modo de consumo e produção vai ter de mudar, a bem ou a mal. Pela maneira como caminham as coisas, vai ser a mal. Mesmo a estrutura social deverá ser alterada, pois não é aceitável que uma grande parte da humanidade não possa ter acesso à qualidade de vida.
A minha mulher-a-dias sustenta, contra a opinião do Nobel Samuelson (economista), que os impactos sobre o ambiente devem tender para zero. A soma de pequenos impactos é grande no longo prazo. Vamos ver a quem o tempo dará razão. Em certo sentido, a economia do futuro será a do ambiente. As contas ambientais têm de estar bem feitas. De nada vale tentar fazer batota, ser chico-esperto.
Lina Santos opina que se abdicarmos da democracia política não teremos desenvolvimento. Este também é incompatível com a precariedade laboral e com a falta de uma cultura de honestidade, por estranho que pareça. No entanto há quem acredite na quadratura do círculo. Existem países que estão tão afundados na corrupção que dificilmente sairão do buraco. Há uns anos, a operação "Mãos Limpas" em Itália destapou a teia de corrupção que girava à volta da adjudicação de obras públicas. Grande parte da classe política estava envolvida. Por causa disso o Partido Democrata-Cristão e o Partido Socialista implodiram.
O absurdo e o inimaginável são possíveis. Em Portugal, as perdas da banca, neste começo de século, ascenderam a várias dezenas de milhares de milhões de euros, fatura que a Nação teve de pagar. Neste País, recorrentemente, as juntas médicas dão como aptos para o trabalho indivíduos que não o estão, mesmo apresentando doença terminal. Uma professora com alzheimer foi aos tribunais para lhe ser reconhecida a incapacidade. Estas pessoas não merecem dois calvários. O Estado tem de agir como pessoa de bem. O ocaso da Terra está previsto para daqui a alguns mil milhões de anos, quando o Sol, ao esgotar o combustível, aumentar de tamanho (tornar-se-á uma estrela gigante vermelha) e engolir o Planeta como um rebuçado. Para a minha mulher-a-dias não é verdade que o futuro a Deus pertence. O Diabo vencerá. O fim do Mundo, o apocalipse foi antecipado com o aquecimento global, como se disse. A avalanche vem aí. É a loucura total. O colapso ambiental levará ao colapso económico e social. O caos será total. A história da humanidade vai acabar mal. Trata-se do triunfo da estupidez, sem perdão. A burrice do ser humano é, no mínimo, do tamanho do infinito. A Terra virará um "case study" para o Universo. O maledicente do meu cão acha que o ser humano jamais admitirá que é lerda, um autoconvencido que parece incapaz de um outro universo mental.
António Nunes sustenta que o crescimento económico é a cura de todos os males. Trata-se de uma abordagem redutora e falsa, meramente quantitativa e não qualitativa. Diz que também vê o mundo a preto e branco e vive o drama da rigidez mental, de um pensamento mecânico, burocrático, cuja lógica é formal, escolástica. Não tem uma mente aberta. O seu pensamento está aprisionado por dogmas. Eis alguns das suas centenas de dogmas: a divisão dos seres humanos em classes sociais é normal e eterna; a teoria do crescimento económico é igualmente eterna e inamovível; a economia de mercado é eficiente; o privado, mais competente do que o Estado (veja-se a recente falência de bancos em Portugal: BPN, BPP, BES e Banif); como o casamento é indissolúvel, uma pessoa separada se se juntar a outra deverá levar uma vida de castidade (qual a lógica?); também é imoral uma mulher ter relações com outra; a contraceção é errada, etc.
Luís Mendes informa-nos que o facto da maioria da população do Planeta viver na pobreza ou na quase pobreza não lhe provoca interrogações. Também pensa que a melhor forma de atacar a indigência é a caridade. Diz que criou uma associação sem fins lucrativos, que visa promover o aumento da obesidade infantil e da diabetes em Portugal (deve-se encharcar as crianças com açúcar, para que o capital de saúde seja delapidado desde cedo). Um indivíduo tem o direito inalienável a consumir comida lixo (junk food) e o Estado não deve interferir na liberdade do consumidor. É sócio de outra organização que procura fazer do Planeta a maior lixeira do Sistema Solar (uma pessoa tem direito a poluir). Também é a favor da sobrepesca e do abate da floresta Amazónica e de outras.
Carla Matos, de Amareleja, pergunta-nos se não temos coisas mais importantes para fazer do que escrever palermices. Diz que nunca viu tanta calinada junta. Ela, coitada, não sabe que fizemos tudo para sermos eleitos o pior texto do ano.
O meu vizinho Boavida é a clarividência em estado puro. Considera-se um topo de gama, também muito atrás, perdão, muito à frente do seu tempo, com ideias de grande calibre e pensamentos elevados. Diz que consegue enxergar o que outros não veem. Também é um estudioso do comportamento animal (incluindo os humanos) e da fenomenologia social, com as suas patologias. "Como funciona o cérebro humano? O que é a verdade?" gosta de se perguntar. Diz que é grande a força do pensamento e que a fé move montanhas. Sente uma sede insaciável de viver. Para ele ser português foi uma dádiva dos deuses. Garante que nada se passa de errado, de uma forma clara, com o ser humano. Há que saber singrar no terreno escorregadio da selva social. Constata que na eterna luta entre o bem e o mal a estupidez está ao lado deste. Detesta a estreiteza de horizontes e o refletir desligado da realidade. Existe quem raciocine como um robot (incapaz de saltos conceptuais) e deva fazer terapia cognitiva. Acha que o Sol quando nasce é para todos: tanto provoca bronzeado no rico, como no pobre, o que é justo. Quando novo divertia-se a riscar automóveis e a fazer chamadas falsas para o INEM. Atualmente é um fã de filmes com muita ação e violência (deve-se libertar o selvagem que há em nós). Confessa-se um admirador de Putin, "Um verdadeiro homem, de barba rija. Veja-se a mestria com que anexou a Crimeia". Defende que uma pessoa nasce para penar. A existência não tem de ser aprazível. O ser humano vive para trabalhar, deve estar ao serviço da economia e não o contrário. Este é um princípio sagrado de racionalidade económica. Por exemplo, não se deve limitar o trabalho noturno e por turnos. Também os custos do trabalho são sempre excessivos. As pessoas vivem em sociedade, mas isto não quer dizer que ela beneficie todos, o que muitos não sabem. Afirma, entre outras coisas, que possui uma apurada sensibilidade social, a praxe é um sinal de inteligência e a populaça, que igualmente gosta de uma mão forte, deve saber amochar e até beijar a mão que brande o chicote. É importante que as pessoas vivam com um sentimento de insegurança quanto ao futuro, na corda-bamba. Visão humana do mundo? Nada de mudar a ordem existente. Também acha que convém fazer alguma coisa para tudo ficar na mesma (andar nos entretantos, complicar o que é simples e fazer render o peixe). Considera-se igualmente uma pessoa autêntica (detesta o cinismo) e vive deslumbrado com o facto de a evolução biológica ter culminado no homem, o único animal racional à face da Terra. A inteligência humana é um hino à Criação. Pensa que a natureza é bonita. Nela os seres vivos comem-se uns aos outros. Os mais fracos (doentes, velhos e mais novinhos) são as primeiras vítimas. Gosta de lembrar que os impérios ergueram-se à custa das espadas. Grande parte dos imperadores romanos foram assassinados. A violência corre nas veias do ser-humano. Este não é nenhum menino de coro. Há tempos a comunicação social noticiou um caso de um juíz suspeito de vender sentenças e de um polícia que "desviou" 40 mil euros numa busca. Existem países onde é difícil distinguir o político do criminoso. O general Abacha da Nigéria (séc. XX) era perito em sacar dinheiro do Banco Central. Na Europa, uma em cada três mulheres foi ou é vítima de violência. Só na Rússia em 2008 foram assassinadas 8000 a 12000, segundo o Ministério do Interior. O facto do Hino Nacional ser belicista (às armas, contra os canhões marchar) não o incomoda. Há que condicionar a perceção que as massas têm da realidade, para que não se deem conta do que está em causa. Nada de visões de futuro. A informação é como um jogo de xadrez. Defende que o vulgo esteja anestesiado, acrítico perante a pobreza, a precariedade e a globalização (outras tantas manifestações da inteligência). Que se veicule uma informação superficial, pouco rigorosa, para que se tenha um pensamento a condizer (miopia cerebral). Dito de outro modo, que se promova o analfabetismo mental. Este deverá ser a base do paradigma comunicacional. Tem de se elevar o nível de obscurantismo do povo. Este deve deixar fazer dele parvo, ao não conseguir desmontar as mensagens que recebe e descodificar o real. Não ao pensamento lógico-racional, para que ele acredite em medicinas alternativas, ciências ocultas e outras baboseiras. A ignorância é como uma bela folha em branco. É relevante o modo como se pensa. Há que alienar as pessoas, coisa fácil. É a "cultura" ou a falta dela que leva a que se aceite o inaceitável: um mundo bolorento e absurdo, na opinião de alguma gente. A informação, a sua gestão é crucial. Pena que já não exista censura, para melhor controlar os espíritos e permitir a boa governação. As ideias subversivas são veneno. O inimigo interno é tão perigoso quanto o externo. Os povos, na sua maioria, não estão preparados para viver em democracia e não sabem o que é melhor para eles, são como uma criança. Não ao livre pensamento e sim ao condicionamento psíquico. Nada de pessoas bem informadas. A plebe e mesmo os especialistas devem olhar a realidade por um canudo, para só verem a árvore e não a floresta. O nobre e bom povo não tem que perceber por que motivo as coisas estão como estão. As palavras tanto mostram como escondem o existente (distorção cognitiva). Não há informação inocente, neutra e ela no essencial deve ser ruído, manobras de diversão. Se Deus quiser, o deslumbrante pensamento convencional será invencível e abafará todos os outros. Existem falhas cognitivas importantes, problemas epistemológicos que têm que ver com a opacidade social. O povinho, que é quem mais ordena, deve ser distraído da magna questão da qualidade de vida social (conceito importante) e não dar conta de que está de certa maneira a ser iludido, que lhe estão a enfiar o barrete. Só deve ser capaz de descortinar o que está à frente do nariz (baixo nível de abstração). Que o vulgo esteja muito ocupado com a sobrevivência diária para não ter tempo para processar informação, para pensar com profundidade e pôr as questões corretas. Que ele na sua cabecinha se delicie com a ilusão de que é o maior. Na antiga Roma, ao povo dava-se circo (sucedâneo) para o entreter. Quem não tem deve saber conjugar o verbo chuchar no dedo. Muitos passam ao lado da vida, como se disse (batota social). No entanto, fica bem, de vez em quando, lembrar os mais desfavorecidos da sorte (lágrimas de crocodilo). É a favor de mais justiça social, como se costuma dizer, mas não da justiça social. Também reconhece que Portugal é pimba, uma geringonça, pois a maior parte do povo não possui qualidade de vida. A UNICEF afirmou há anos que temos 25% de crianças na pobreza. Acha que para resolver o problema do alcoolismo em Portugal, é melhor estar calado. Se não se falar numa coisa, ela não existe. Como disse um dramaturgo inglês, algo está podre no Reino das Berlengas. Existem graves problemas em aberto que se devem manter insanáveis. Também opina que ê possível construir o futuro com mentalidades do passado, pois o velho mundo vingará. Este País, se calhar, não tem emenda. Reconhece que quando se usam conceitos pouco rigorosos ou falsos, o pensamento sai inquinado. "Tudo pela Nação e a Pátria não se discute!", gosta de sentenciar. "Aquele que traz a guerra no seu pensamento não fará a paz!" é também uma das suas tiradas eleitas, curiosamente. Considera-se um patriota com P grande (para ele os portugueses estão primeiro). Reconhece que a ganância do dinheiro altera as pessoas, torna-as estúpidas. Sofre do complexo de superioridade, anda sempre com o peito inchado e não consegue perder o pio. Condescende que tem um pensamento cristalizado. Não há necessidade de novas ideias, de recentrar o pensar humano. Está tudo inventado, como diria um general romano, referindo-se às máquinas de guerra. A cultura é indissociável do desenvolvimento? Crise de valores? O que é isso? Perfilha a bonita máxima "Deus, Pátria e Autoridade". Remata que abomina um pensar incoerente.
Luísa Santos, de Portalegre, também diz que é muito difícil uma pessoa alterar as ideias e isto é independente do nível cultural. Quem acredita na eficiência do paraíso comunista ou na eficiência do paraíso da economia de mercado dificilmente mudará as suas convicções. Os dados tendem a perder importância, pois cada um vê o que quer.
Clara Nunes, de Chaves, acha que apesar da teoria do crescimento económico ser uma falácia, do tipo da homeopatia, do criacionismo, etc., a maior parte dos economistas seus adeptos, muitos deles iminentes intelectuais, não conseguirão sair de um raciocínio que não é lógico-racional, mas arbitrário. A partir de postulados inconsistentes tudo é justificável, diz-nos a Lógica. É isto que permite fazer afirmações do tipo "as mulheres não podem ser padres", ou "devem obediência aos maridos". Assim, temos raciocínios corretos (a pobreza não é aceitável) e incorretos (a pobreza é aceitável).
Alguém disse que o nazismo tinha raízes no ateísmo e que a homossexualidade andava de mãos dadas com a pedofilia. Com isto estigmatiza-se quem não é crente e quem é homossexual. O nazismo nasceu na cristã Alemanha. Muitos nazis casavam pela Igreja, como o dirigente Göring, que teve uma cerimónia católica. O termo "infiel" estigmatiza aqueles que pertencem a outras religiões. Há palavras que são veneno, insiste-se. A estigmatização é filha da intolerância. Para a D. Josefina, a porteira do meu prédio, as inquisições de todo o género e as guerras "santas" provam que Deus tem as costas largas. Rússia, 22/1/1905, as forças de Nicolau II disparam sobre manifestantes e fazem cerca de duzentos mortos. 1912, cerca de 150 mineiros grevistas das minas de ouro do Lena são abatidos a tiro pelas forças do czar. Anos mais tarde, Nicolau II seria canonizado pela Igreja Ortodoxa. O juramento das SS (um dos instrumentos da loucura nazi) tinha "Que Deus me ajude". A brutalidade do estalinismo não era menor do que a do nazismo. Mesmo os dirigentes comunistas e da sua polícia política não escaparam ao terror demencial do estalinismo. As revoluções por vezes comem os filhos.
Os 12 milhões de eleitores que em 1933 votaram em Hitler e o levaram ao poder não sabiam que estavam a abrir a porta ao Diabo. O "Reich dos Mil Anos" deixou atrás de si um rasto de destruição com várias dezenas de milhões de mortos, uma das maiores carnificinas da História. Foi um tempo de barbárie. Na segunda metade do século XX deu-se o genocídio de centenas de milhares de cambojanos pelo regime demencial de Pol Pot. Igualmente no Ruanda foram massacrados centenas de milhares de Tutsis e Hutus moderados pelos Hutus radicais. Respeito pelo outro? O que é?
Como se referiu, em 1962 é abolido o trabalho forçado dos negros nas colónias portuguesas. As eufemísticas guerras de pacificação constituíram um instrumento da formação do império português. Os impérios coloniais das potências cristãs europeias não foram edificados brandindo flores. Fizeram-se coisas que não eram bonitas. Dizia-se que civilizar o negro era o fardo do homem branco. Cada um conta a estória que lhe interessa.
João Santos teve um pesadelo, no qual Portugal foi invadido e colonizado por uma potência estrangeira. Os portugas foram sujeitos a trabalho forçado.
A chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, ao continente americano, marca o início do inferno que se iria abater sobre as populações indígenas, levado a cabo pelos cristãos europeus. À espada e ao trabalho forçado (nos campos e minas, como Potosi, Huancavelica, etc.) juntaram-se as doenças trazidas pelos recém-chegados, como a varíola, gripe, sarampo, etc., às quais não estavam imunizados os ameríndios.
O espanhol Cortés vence os Astecas, na América Central. O primo Pizarro derruba o Império Inca, na América do Sul.
A população das ilhas Antilhas foi dizimada em 25 anos. Pereceram milhões de pessoas. Para o historiador Nathan Wacthel a população do Peru passou de 10 milhões em 1530 para 1 milhão no final do século. A América Central também não foi poupada: de 1520 a 1620 a queda demográfica foi de vários milhões.
Seguiu-se a fase da escravatura. Ao longo de séculos os cristãos foram buscar a África milhões de negros para trabalhar em condições desapiedadas nas plantações do Brasil, Antilhas, América do Norte, etc. (também aqui os nazis não fariam melhor). São incontáveis as mortes provocadas pelo tráfico de escravos. Por exemplo, este originou inúmeras lutas em África, entre os negros, para a captura de escravos. A história do ser humano não é uma história de santidade.
Para a minha mulher-a-dias o ser humano, para a inteligência que possui, devia ter mais juízo. João Lopes acredita em Huitzilopochtli, o deus da guerra dos Astecas.
Rui Pena, de Ranholas (Sintra), é a favor de um mundo desigual e violento. Lembra que, por exemplo, no continente americano, há países que sofrem várias dezenas de milhares de homicídios por ano, verdadeiras guerras civis não declaradas. Muitos empresários têm de andar com guarda-costas. Brasil, México e África do Sul são os países com mais criminalidade e com grande desigualdade social. Estas duas situações estão irmanadas. Brincar com a desigualdade é perigoso. O Brasil chegou aos sessenta mil homicídios em 2017, como se referiu.
A despropósito, veio nos jornais que devido à crise económica, a ansiedade e a depressão passaram de 20% para 30% da população portuguesa, de 2008 a 2015. Centenas de milhares de portugueses tomam ansiolíticos diariamente, o que tem consequências nefastas para a saúde no longo prazo. Saúde mental? Para quê?
João Telo seguiu as pisadas do pai. Atualmente é professor de técnicas de tortura um pouco por esse Mundo fora (graças a Deus vai havendo trabalho). É um especialista em arrancar unhas. No Portugal democrático não tinha saída profissional. Assim teve de emigrar para ganhar a vida.
Foi e é preciso ser-se chanfrado para pôr em causa verdades inabaláveis como o geocentrismo (a Terra como centro do Universo), o criacionismo e... a pateta teoria do crescimento económico. Bastantes saberes são uma convenção social e portanto historicamente relativos, transitórios, mas muitos não se dão conta disso. A verdade de hoje poderá não o ser amanhã. O relativismo não existe só na realidade física, mas também no mundo social.
A amarga da minha mulher-a-dias diz que a Terra só pode estar como se apresenta, porque o ser humano se encontra alienado. Ela está em guerra aberta contra o saber estabelecido. Afirma que a indigência (cruel realidade) é uma afronta à inteligência. Com a ciência e a técnica constitui uma disfunção social. Com a precariedade (salários baixos) fica decretada a eternização da pobreza, torna-se estrutural. Assim, uma pessoa, por mais que se esforce, pode não conseguir sair da cepa torta e estar encurralada na indigência. Como se disse, não existe economia neutra ou pura, fundamentada por uma suposta "ciência" económica. Mas há quem não goste de subtilezas analíticas, de análises finas e não tenha problemas de consciência intelectual. Aqueles que usufruem de bem-estar são mais produtivos e têm mais saúde. Trata-se de um caso de pensamento estratégico. Para ela os "escravos", quaisquer que sejam, possuem o direito à qualidade de vida. Sustenta que por vezes os países são como as pessoas, não reconhecem que carregam um problema, de inteligência coletiva (massa cinzenta). É o caso de Portugal. Defende que o nível da qualidade de vida mede o nível de entropia (desorganização) de uma sociedade (existe uma relação inversa). A informação e o saber económico não podem estar fechados sobre si, não são autoreferentes. Só fazem sentido, só são válidos se levarem ao bem-estar. Tem de existir uma mudança na maneira de olhar a realidade, que tem vários níveis de leitura. Pode-se agir no presente sem atender ao futuro e nem tudo o que parece é. Há que fazer uma revisão dos conceitos económicos. Diz que a sacrossanta teoria do crescimento económico (sabedoria oficial) é plausível, do senso comum, mas não, correta. Como se disse, o Sol também parece andar à volta da Terra, mas é o contrário que acontece. A teoria do crescimento económico, o geocentrismo e a teoria da geração espontânea, para dar alguns exemplos, são farinha do mesmo saco: aparentemente verdadeiras, mas, falsas. O derrube dos mitos não é fácil. A economia, as sociedades e o conhecimento são aquilo que se chama sistemas não lineares, têm descontinuidades, rupturas. Eles não podem ser explicados por teorias lineares, deterministas e, portanto, redutoras, positivistas, que não aceitam mudanças qualitativas, como é o caso da teoria do crescimento económico (mais do mesmo). Como é possível que tantos doutorados em Economia não vejam esta coisa simples, com uma baixa complexidade conceptual, como o ovo de Colombo? Existe aqui um problema cognitivo. Repete-se, há quem olhe teimosamente para a ponta do dedo. Trata-se de uma inexatidão profunda, de uma burrice abissal e não existe necessidade do crescimento económico ser infindo, óbvio. A utilidade marginal de um produto tende para zero. Não faz sentido alguém ter vinte carros. A teoria do crescimento económico vai contra o pensamento lógico-racional. É mais fácil mudar uma montanha, do que alterar as mentalidades. Honestidade intelectual? O que é isso? Estamos perante um modelo esgotado, grosseiro, que não faz sentido, que teima em só ver um aspeto da realidade e atenta contra as exigências do presente. Os limites ambientais estão a ser perigosamente ultrapassados. Não é possível meter à força o real numa teoria disfuncional e fazer uma leitura arrevesada dele. No entanto tal não impede que muitos continuem impávidos e serenos A inércia mental é uma muralha. A legitimação da teoria do crescimento económico reside no poder social, não se trata de uma questão científica, académica, como muitos acreditam piamente. Não se pode olhar o mundo com lentes teóricas desfocadas (Samuelson). A minha mulher-a-dias gosta de invocar Einstein ao dizer que a formulação correta de uma questão é meio caminho andado para a resolver. Acha necessário uma revolução no pensamento económico, uma mudança de paradigma: a economia só faz sentido se produzir qualidade de vida, se for amiga do ser humano e isto faz toda a diferença. Esta nova lógica e revolução conceptual constitui um êxito intelectual maior, mas parece desafiar a capacidade de compreensão de muitos inteligentes, que também não conseguem atingir que não existe desenvolvimento sem valores culturais, coisa que repetiremos até à exaustão. Oxalá se faça luz. Bastantes economistas conceituados, na sua torre de marfim, parecem sofrer de bloqueio mental, não têm consciência da sua visão mitigada (afunilada), ao lidarem com um número limitado de variáveis (teoria do crescimento económico). Existem paraísos fiscais e laborais. Considera que a essência da globalização é a exploração laboral, coisa que até um ceguinho topa. A globalização tem um grave problema de direitos humanos, que não se pode esconder para debaixo do tapete. Como se referiu, ela não leva ao desenvolvimento, pois vive dos salários de pobreza, trata-se de um círculo vicioso. Por vezes, as elites superiormente esclarecidas (mentes brilhantes) não veem o óbvio (cegueira intelectual e ética), quase que não dá para acreditar. A negação da realidade é algo vulgar. Há quem persista em raciocinar sobre bases falsas, numa versão aparentemente credível. A pobreza, a precariedade e a globalização representam a banalização do mal. Ela faz notar que o aumento da produtividade não tem sido acompanhado pela redução do horário de trabalho, algo ignorado pelos teóricos. A verdadeira criação de riqueza é a "fabricação" de qualidade de vida. Diz que "num sistema complexo a ordem (qualidade de vida) não emana de um indivíduo ou de um grupo com autoridade, mas sim da informação disseminada por todo o sistema". Assim o culto das elites ou das vanguardas é uma falácia.
O meu vizinho Boavida, que tem uma imaginação fervilhante, defende, para mascarar a precariedade e os salários de pobreza a ela associados, que se fale constantemente da competitividade e do crescimento económico, de modo a incutir no povo a ideia de um amanhã melhor. A esperança é a última a morrer. Chama "radicais" aos que defendem a ideia estranha de uma sociedade em que todos tenham qualidade de vida.
Leonel Saraiva, que se considera um pigmeu intelectual, acha que isso da "exploração laboral" não existe, é uma invencionice com fins políticos. É a favor de férias reduzidas, como nos EUA. A teoria do crescimento económico constitui a verdadeira ciência (o resto é filatelia) e jamais será posta de parte pela teoria do desenvolvimento, mais complexa, que faz intervir fatores qualitativos. É adepto dos velhos modos de pensar e das soluções do passado. Pugna pela liberdade do despedimento. Assim, se uma pessoa cair doente, ao regressar ao seu local de trabalho, pode ver outra no seu lugar e estar despedida, o que é fantástico. Detesta o pensamento lógico-racional. Um exemplo da recusa deste, Itália, maio de 2017, uma criança com otite, que foi tratada com "medicamentos" homeopáticos, em vez de antibióticos, morreu. A infeção generalizou-se.
Marta Santos, de Braga, diz que foi infetada por um vírus do seu computador, depois de mordida pelo rato do dito. Também pode facilmente com o mal dos outros e com a desordem e desconcerto do Mundo. Este que se dane. Acha que muitas pessoas são falsas e ninguém assume responsabilidades, a começar por si.
João Anselmo informa-nos que cerca de 70℅ dos aposentados têm uma reforma inferior ao salário mínimo, o qual já por si é uma remuneração de pobreza. A ser verdade tal, muitos portugueses não sabem o que os espera. O futuro não é risonho e a situação tenderá a piorar. Este País não é para velhos. Muitos vão acabar mal, vão ter um triste fim. É tão importante a maneira de viver, como a forma de morrer. A verdadeira solidariedade é pôr fim à indigência.
João Dias de Lisboa, diz que também inventou um motor a água. Garante igualmente que a economia de mercado, por ser eficiente, vai acabar com a indigência em Portugal, sem apelo nem agravo. Santos Lemos, um sem-abrigo e cidadão de terceira, lembra que quando existe pobreza há um claro problema de direitos humanos e este Mundo assenta numa mentira (não é para todos). Também uma sociedade com indigência e magra qualidade de vida é pouco eficiente, apesar de muitos andarem sempre com o credo da eficiência na boca. O direito à qualidade de vida representa uma mudança conceptual maior. Acha que a democracia política é tão importante como a económica. Esta última possui um carácter urgente para si. Há quem tenha o poder de fazer valer signos e significados. Daí a relevância dada ao conceito de democracia política, em detrimento da democracia económica. Diz que por vezes "só lhe apetece é ganir".
A despropósito, atendendo a que o leitor é uma pessoa de cérebro afiadíssimo e tem coisas mais urgentes para fazer, este texto está a ser penoso, como tem vindo a constatar. Como também já deve ter reparado, estamos a abordar três grandes indecências que atentam contra os direitos humanos (segundo a minha mulher-a-dias) e que por coincidência são: a pobreza, a precariedade e a globalização. Apenas pretendemos convencer os convencidos (não temos ilusões). Dizem que há que branquear uma sociedade em que uns possuem qualidade de vida e outros não, o povo deve ter uma mundivisão "correta", um saber fragmentado, não estruturado, e ser ensinado a engolir coisas amargas (se for preciso, dois mais dois são igual a cinco). Igualmente, só para chatear, mostramos que o conceito de "ciência económica" é tão legítimo como o de "socialismo científico" (o rigor intelectual nem sempre mora onde julgamos). A qualidade do pensamento, é o alfa e o ómega da qualidade de vida, do desenvolvimento.
Onde mora a verdade? O que é a boa economia? Na maravilhosa "civilização da globalização", autêntico conto de fadas, o salário mínimo legal está muito abaixo do necessário para viver com dignidade. É o reino do liberalismo económico puro e duro. Há jornadas de trabalho de 14 horas e as extraordinárias nem sempre são pagas, férias nem vê-las, assim como as baixas por doença e existe quem morra por exaustão ou assassinado por ser sindicalista (há tempos, a tv deu um documentário sobre a morte de sindicalistas duma engarrafadora da Coca-Cola, na Colômbia). Este país deve ter o recorde de sindicalistas mortos: só umas largas centenas. É a alegria no trabalho e no viver, uma prova inequívoca de uma economia ao serviço do ser humano, da sua qualidade de vida. Aqui o ser humano pouco vale, é carne-para-canhão. Nada que incomode muitas boas-consciências. Violência económica? Isso existe? Respeitar as pessoas? Mas que ideia. A mão invisível do mercado de que fala o economista Adam Smith não desdenha a ajuda dos paramilitares para fazer os trabalhos sujos. Também, em cada ano, no Mundo, são assassinadas dezenas de ambientalistas, por enfrentarem interesses económicos. É o triunfo dos porcos, com mentes criminosas, segundo a minha mulher-a-dias. Igualmente a imprensa tem denunciado as condições deploráveis das subsidiárias que trabalham para as grandes marcas de roupa desportiva. A indústria têxtil do Bangladesh e do Camboja é um fartar vilanagem sobre milhões de trabalhadores. Não podemos também deixar de falar na exploração brutal das competitivas e eficientes empresas de montagem (maquiladoras), no México, criadas com o pretexto de criação de empregos (onde já ouvimos isto?). Tudo é feito para o bem-estar dos novos "escravos". Mais uma vez, ligadas às "maquiladoras" estão respeitáveis marcas que todos conhecemos. Para quem ainda não sabe, a globalização é o séc. XIX no século XXI, um voltar ao passado. Aqui não é preciso fazer reformas do mercado de trabalho, é o paraíso... para as empresas predadoras, uma regressão civilizacional, insistimos. Para os livros de "ciência" económica trata-se de condições laborais competitivas, não existe exploração ou capitalismo selvagem (este miserabilismo é um tiro de canhão na honestidade intelectual). Já agora, o que é uma teoria não calibrada, descolada da realidade? Para a "ciência" económica o emprego e o nível de vida resultam da eficiência, da competitividade. Existe quem seja cego surdo e mudo e viva numa redoma asséptica. Rigor intelectual? Método científico? Para quê? O absurdo e o obscurantismo são possíveis. Já agora, um cartoonista, do séc. XIX, para ridicularizar o evolucionismo, pôs a cabeça de Darwin num corpo de macaco. Por vezes a santa ignorância ri do saber. Repete-se, o velho pensar resiste sempre. Como foi referido, muitos sapientes, tal como nós, não questionam a validade do seu conhecimento. Será difícil entender que não existe desenvolvimento sem direitos humanos? A teoria económica garante (sem o demonstrar) que se quisermos eficiência sacrificaremos a equidade (falso dilema). Para o meu vizinho Boavida atrás citado, a qualidade de vida não é importante. É a favor do mercado, livre de direitos humanos. Faz sentido uma pessoa viver e morrer sem dignidade. Nada de mudar a atual arquitetura económica, que tem dado tão boas provas. A antiga glória da guerra foi substituída pelo campo de batalha da competitividade, onde todos os meios são bons para atingir tal objetivo. A minha mulher-a-dias defende que a globalização é obra do Demo. O ser humano plantou a árvore do conhecimento, mas não soube cuidar dos seus frutos.
O meu vizinho Boavida tem a mesma opinião do iluminado ex-presidente Trump dos EUA: o aquecimento global é um embuste. Trump disse que a América, os americanos estão primeiro. Assim, o Obamacare, que dava assistência médica aos americanos devia ser desmantelado. Joana Lima, de Pombal, é a favor de um Mundo governado por malucos.
Por curiosidade, Galileu passou 8 anos em prisão domiciliária (sem pulseira eletrónica), por defender, contra a opinião de muitas mentes brilhantes do seu tempo, que a Terra andava à volta do Sol. Giordano Bruno não teve tanta sorte, foi queimado vivo nas fogueiras do "Santo" Ofício (Inquisição), em 1600. Em 1826 o professor Cayetano Ripoli foi enforcado pela Inquisição espanhola por deísmo. Teve denúncia por não levar os alunos à missa, entre outros motivos.
Clara Gomes diz que no outro dia esteve a ver vídeos do falso Estado Islâmico (Síria, Iraque) que mostravam pessoas a serem queimadas vivas, ou a serem cortadas as cabeças. A D. Aninhas afirma que os fundamentalistas, sem o saberem, estão tomados pelo Diabo e tanto assim é que implantam o inferno na Terra.
Um nosso leitor alertou-nos para o facto de este sítio não cumprir os requisitos formais de um trabalho científico. Mas quem disse que esta porcaria de texto era um trabalho científico?
A tabaqueira Philip Morris (Marlboro) pôs o Uruguai em tribunal, pois as medidas contra o tabaco iriam prejudicar os seus lucros. Após anos de litígio, a justiça deu razão ao Uruguai (8/2016). Imagine-se se a globalização tal como está fosse desmantelada e as empresas pusessem os estados em tribunal, por já não poderem lucrar com a exploração laboral. Por curiosidade, o esclavagismo, que reinou durante séculos e parecia de pedra e cal, foi desmantelado no séc. XIX. Aquando da abolição da escravatura, a Inglaterra, deu indemnizações, aos escravos? Não, aos donos.
Cerca de metade das mortes em Portugal devem-se a erros de alimentação: excesso de sal, gorduras, açúcar e álcool. Este País é o paraíso dos diabéticos. Não faz sentido uma gastronomia não saudável e portanto de pouca qualidade. Isto não é uma questão política e é melhor não fazer ondas. Aqui nada de realizar reformas estruturais, de fundamentalismos. Ai de quem queira armar-se em herói e atue contra a economia. Haja um Estado fraco que não consiga pôr ordem nisto. O meu vizinho Boavida acha legítimo que os interesses particulares, ou corporativos se realizem sacrificando o interesse geral e a economia não tem de produzir necessariamente qualidade de vida para os cidadãos. É pelo lucro a qualquer preço.
O filósofo Wittgenstein perguntava qual a relação entre a realidade e o discurso que sobre ela fazemos. As coisas não são o que aparentam (devemos usar a dúvida metódica). O poder social tende a determinar o que está certo e errado, mesmo a nível das ideias, por exemplo, económicas.
Como o leitor já deve ter notado, temos vindo a falar com afinco na conceituada teoria do crescimento económico infinito, que qualquer um entende que é uma impossibilidade física (o que coloca graves problemas de honestidade intelectual), na civilização da precariedade (um prodigioso avanço da "ciência" económica) e no magnificente pensamento convencional. Cada um escolhe a sua "verdade", maravilha-se com as crendices que quer, à vontade do freguês. O facto da teoria do crescimento económico infinito não ser sustentável ambientalmente não faz pestanejar muitos espertos. Para a minha mulher-a-dias, que não tinha papas na língua, esta teoria é gato por lebre (acontece). Vamos repetir uma blasfémia, apesar da estafada litania da eficiência do mercado, a maior parte das pessoas na maioria dos países de economia de mercado vive na indecência da pobreza ou na extrema pobreza (mas a verdade não penetra onde habita a crença). A pobreza é a regra, não, a exceção, contrariamente ao que se possa pensar. No Mundo, o contraste entre a riqueza e a indigência e o aquecimento global mostram uma grave falta de inteligência coletiva. A eficiência da economia de mercado está longe de ser concludente. Quando os resultados de uma teoria se mostram insatisfatórios... Arlete Santos desafia-nos a indicar uma alternativa melhor do que a economia de mercado, o que é uma falsa questão. O ser humano tem tendência para dar tiros no pé, para descarrilar. Apetece perguntar por que os países pobres não se desenvolvem e há quem não goste de questões pertinentes. Para alguns não é a sua teoria que está errada, mas a realidade. Há coisas que não dá para entender. Também quando as políticas preconizadas pelo FMI não apresentavam os resultados esperados, esta nobre instituição dizia que as suas medidas não tinham sido aplicadas com suficiente firmeza.
Joaquina Santos acusa-nos de má vontade para com as elites superiormente esclarecidas. Afiança que não compreende a importância de uma pessoa ter qualidade de vida. Por isso a existência dos sem-abrigo, ou de crianças que no Mundo cegam por falta de vitamina A não lhe tira o sono. É a favor de uma sociedade atomizada e individualista, em que cada um procura apenas resolver os seus problemas (dividir para reinar). Haja uma mentalidade tribal, chauvinista.
Para a minha mulher-a-dias o desenvolvimento não é só uma questão económica, mas também cultural, algo que muitos não entendem. Não percebem que se aceitamos a pobreza e a precariedade elas não serão erradicadas e o desenvolvimento obviamente não será possível. Se o ser humano parece incapaz de fazer um mundo à sua medida é porque existe um processamento da informação deficiente. Já agora, uma eficiência perversa (por exemplo, ritmos de trabalhos violentos) e uma competitividade absurda (salarial e fiscal) levam ao recuo da qualidade de vida e do desenvolvimento. Os conceitos de competitividade e eficiência não têm um significado unívoco. Quando se usam termos ambíguos ou abordagens deliberadamente parciais não há saber, não há discurso sério. Não se pode absolutizar a eficiência e a competitividade.
Segundo o radical do meu cão Tobias, que tinha uma forma muito peculiar de olhar o mundo, o ser humano é vítima do seu pensamento (há que raciocinar com correção, sem falácias) e é fácil pregar a precariedade e o salário mínimo (de pobreza)... para os filhos dos outros, o que constitui uma violência simbólica. Uma economia eficiente é aquela que leva à qualidade de vida. Não se pode ignorar a variável humana. O bem-estar é o critério último da "verdade". Não se devem discutir em termos económicos questões que são sobretudo políticas, civilizacionais. Ele sustentava que o "homo sapiens" carrega um problema, que não é pequeno (por exemplo, a história da humanidade é em grande parte uma história de violência), e que há uma tendência (mesmo entre os economistas) para aceitar a ordem social vigente (a pobreza não é tida como uma questão de direitos humanos, mas apenas económica, de necessidade do aumento do PIB, o que é uma falácia, como o prova o exemplo dos EUA). É mais fácil justificar a ordem existente e a indigência do que acabar com esta. Há quem se contente com uma fasquia baixa. Assim temos a coisa impressionante de existir quem olhe para a porcaria e seja cego, não faça na realidade a distinção entre o que está bem e o que está errado (por incrível que pareça, esta falha cognitiva, bug, acontece em muitas elites superiormente esclarecidas, o que é confrangedor e, um grande problema). Uma pessoa alienada aceita até a maior das aberrações (vê-se o mundo com os olhos da cultura, coisa que a "ciência" económica ainda não se deu conta). Este e outros factos, como o magnífico suicídio que representa o aquecimento global, permitiram-lhe também chegar à conclusão que o ser humano é pouco inteligente . O nosso cérebro tem limites funcionais (isto para falar numa linguagem mais técnica), não domina bem o pensamento lógico-racional, como já se frisou. Como analogia apontemos o cérebro do gato, que é funcionalmente incapaz de tomar conhecimento da existência, por exemplo, do Sistema Solar, ou da Teoria da Relatividade.
O convencido do meu cão, uns dias antes de morrer, confidenciou-me que aquilo que o mais preocupava era a estupidez de muitas elites e que elas não conseguiam aperceber-se disso e o ser humano está enredado num feixe de problemas com natureza sistémica. Vai ser muito difícil desatar o nó.
Queremos ser "Os Lusíadas" do séc. XXI. Não fazemos a coisa por menos. Oxalá Zeus (o deus dos antigos gregos) nos inspire, pois falta-nos o engenho e a arte. Procuraremos provocar um choque conceptual, como se disse, e usamos palavras caras para impressionar (entropia, semiótica, desconstruir, violência simbólica e muitas mais). Também aqui se mostrou que a verdade vale o que vale (anda ao sabor das conveniências).
Também para o meu filho Pedrito (o de 6 anos) o ser humano, apesar de "racional", não funciona bem do miolo e a escravatura prova que igualmente não é flor que se cheire. É preciso um outro universo mental. Uma pessoa verdadeiramente inteligente nunca aceitará que uns tenham qualidade de vida e outros não. Repete-se, uma pessoa verdadeiramente inteligente nunca aceitará que uns tenham qualidade de vida e outros não, pois esta segregação e exclusão social não é aceitável. Para ele a teoria do crescimento económico infinito releva de um pensamento escolástico, linear, sem saltos conceptuais.
O meu cão que era a favor da felicidade animal, incluindo os humanos, gostava de temas fraturantes e de remar contra a imponente maré do pensamento convencional, esse mastodonte. Afirmava que a cultura é que determina a forma que a economia vai assumir. A realidade não é unívoca, sem alternativa, como muitos julgam. Também para ele, se os portugueses são inteligentes, então façam um País onde todos tenham qualidade de vida. Vasco da Gama, que já morreu, escreveu-nos a dizer que desconfia de que os portugueses não têm fibra para tal cometimento. A mesma opinião é partilhada pelo seu amigo Pedro Álvares Cabral. Veja-se que dezenas anos após o 25 de Abril a pobreza continua de pedra e cal neste País. Um quase meio século perdido. Sousa Lopes está confiante que daqui a mil anos a indigência ainda resistirá heroicamente em Portugal. A realidade, tal como as mentalidades, é teimosa, difícil de mudar, não haja ilusões. Alguém disse, "sê razoável, pede o impossível". Que não se pense pequenino, acrescenta a minha mulher-a-dias, que detesta raciocinar dentro de limites estreitos, como as palas de um burro.
A Pátria não será para todos (uma triste constatação). As pessoas são pouco transparentes, genuínas e existe falta de humanismo, para a frustrada e azeda da minha mulher-a-dias. Por isso o futuro pode não ser risonho. Muitos aceitam que a vida seja um castigo (para os outros). Antigamente, para os donos de escravos a sacanagem do esclavagismo era uma coisa boa.
A despropósito, João Lemos diz que não tem filhos, pois não quer botar infelizes no Mundo.
Neste País disfuncional (há que chamar as coisas pelos nomes), partido ao meio, uns têm bem-estar e outros não (indecente fracasso social que não provoca qualquer indignação em muito boa gente). Em face deste desarranjo onde param a eficiência, a qualidade, ou mesmo a excelência? Moral e justiça social? O que é isso? Existem perdedores estruturais no jogo social. Há quem não veja tal anormalidade (que goza com a inteligência) como uma falha grave. Vivemos no tempo paradoxal da ciência e da técnica, afiançava o meu cão, que vive agora no meu pensamento. Para ele o direito à qualidade de vida (uma conquista do pensamento) era o primeiro dos direitos, o princípio do tudo. Sem isso nada feito. A racionalidade económica não pode atentar contra a pessoa. É difícil entender tal? Muitos ao não terem isso em conta cometem um erro crasso. Haja coragem intelectual. Insiste-se, a cultura, os valores, determinam a forma como vemos o mundo. Não é possível uma visão neutra da realidade. Bastantes economistas conceituados não se dão conta disso, navegam no realismo ingénuo e julgam que a sua visão, por exemplo, de indiferença bovina perante a pobreza, a precariedade, a globalização... é objetiva, mesmo "científica". Os direitos humanos e a sustentabilidade ambiental não fazem parte da "ciência" económica. Seria bom mudarmos a maneira como pensamos, os conceitos que temos. Ninguém devia ser impedido de aceder a uma vida com dignidade. O meu cão defendia que uma nação onde só alguns têm bem-estar é uma caricatura. Que se enxergue com olhos de ver. Por vezes há que parar para pensar. Ele, que tinha a mania que era intelectual, abominava o obscurantismo das elites. Também achava que as teorias económicas (mercantilismo, fisiocratismo, economia de mercado, etc.) eram igualmente um produto social e cultural e não científico, contrariamente ao que se crê, e, portanto, subjetivas e historicamente relativas. A atual "ciência" económica anda de mãos dadas com a economia de mercado (casamento de conveniência), uma espécie de "socialismo científico" ao contrário. Tenta-se passar uma ideologia sob uma capa "científica", mas ninguém parece importar-se com isso. É mais fácil ver os defeitos nos outros do que em nós. Ser a favor da precariedade, da globalização ou da estatização da economia não é uma questão científica, mas política, ideológica. Não se pode confundir ideologia com saber objetivo.
Não é possível fazer uma leitura absoluta sobre o mundo, como se referiu. A Teoria da Relatividade diz que uma mesma coisa pode ter realidades diferentes. A Torre de Pisa está inclinada tanto para a esquerda como para a direita, consoante o ponto de vista do observador. Se alguém vê a Torre torcida para a esquerda, quem estiver no lado contrário vê-la-á debruçada para a direita. Muitos distintos economistas não se dão conta de que uma teoria económica é um ponto de vista, que é "confundido" com uma suposta ciência económica. Basicamente podemos abordar a economia na perspetiva da finalidade (por exemplo, acabar com a pobreza, implementar a qualidade de vida), ou dos processos (concorrência, competitividade, etc.). As consequências de cada uma destas abordagens são diferentes. Se a validade de uma teoria está ligada ao objetivo da eficiência, de que eficiência estamos a falar? Há que perceber a natureza do saber económico, pois tal não é inocente. Este não pode ser ciência à força. O conhecimento científico tem determinadas características, elementaríssimo. A ideia de uma "ciência económica" é infundada. Trata-se de um ideologismo, de uma "verdade" convencionada. Existe um problema de discernimento. Não se pode mandar o rigor intelectual para as urtigas, por vezes de uma forma deliberada. Reafirmo, muitos, mas muitos conhecidos economistas jamais abdicarão da banha-da-cobra de misturar alhos com bugalhos. Como disse alguém, a verdade leva ao fim do Mundo e não se pode consentir isso.
Tem de existir profundidade analítica, para não se ter uma compreensão limitada da realidade e assim impedir que uma parte significativa desta nos passe ao lado e sejamos vítimas. Problemas complexos não têm soluções simplistas. O meu cachorro era de opinião que a economia devia estar focalizada no ser humano, na sua qualidade de vida e que esta está ligada à qualidade da informação, do conhecimento. Não é preciso ser economista para dizer que a escravatura não é válida. O pensar corretamente incorpora elementos culturais, coisa que alguns economistas não se dão conta. A precariedade brinca com a vida das pessoas, atenta contra a qualidade de vida, por isso não tem racionalidade económica. O meu cão andava sempre a dizer que era anacrónico a estupidez levar de vencida a inteligência. Uma sociedade onde as pessoas têm um alto padrão de vida é bom para a economia, pois existe consumo. Mas parece que há quem não entenda tal. Na verdade, o desenvolvimento é que permite o crescimento económico. A qualidade de vida abre a porta ao sucesso escolar. A pobreza fica cara.
De flexibilidade em flexibilidade caiu-se na sociedade da precariedade e é mais difícil sair do poço do que o contrário. Bem-aventurados os que estão condenados à sobrevivência, diz José Lemos. Também defende que se deve fazer das pessoas parvas: a eficiente sociedade da precariedade, que veio para ficar, onde não há direitos adquiridos e tudo pode ser posto em causa, é o resultado da excelência da economia de mercado e, portanto, boa para o povo. Viver com dignidade? É preciso? Se as virtualidades da precariedade forem bem explicadas ela entrará bem fundo no coração dos portugueses. Não existe exploração laboral, mas apenas puras relações económicas, como o demonstra o esclavagismo.
Tiago Lacerda, de Guimarães, uma pessoa com pensamentos de grande gabarito, apesar de dizer que a vida lhe passou ao lado, sente orgulho em ser um português de segunda (não pertence ao clube dos que têm qualidade de vida). Acha que os portugueses possuem uma capacidade infinita de sofrimento e há que aproveitar isso. Defende a lógica e engenharia social da precariedade, que como se sabe é o futuro em marcha-atrás. Para ele a sociedade da precariedade, um exemplo de virtuosismo que surgiu pelo ditame do superior interesse nacional, constitui uma forma de solidariedade social e não de exploração laboral e recuo civilizacional. A "ciência" económica demonstra a necessidade da flexibilidade laboral e também da globalização, supostamente benéfica para todos, tal como o crescimento económico. Igualmente pensa que os políticos devem procurar que a vida seja difícil, como hoje acontece efetivamente. Espanta-se que o povo (que por vezes é ingrato) não saia à rua para festejar o "Admirável Mundo Novo". Quem chucha no dedo deve ter paciência e contentar-se com a sua sorte. Sonha com um País de pobres e doentes. Oxalá Deus não o ouça.
João Pedro, de Monchique, gosta de refletir sobre a condição humana. Reduz o desenvolvimento à vinda do investimento estrangeiro. A flexibilidade laboral (eufemismo de precariedade) é uma boa forma de atraí-lo. Assim ela favorece os assalariados. Defende a magnífica reforma estrutural da redução dos custos do trabalho, o que é bom para todos. A corda deve ser esticada ao máximo. Há que modernizar a economia sem hesitações. O bem tem de vencer as forças do mal, gosta de sentenciar. O peso dos salários no PIB passou de cerca de 63% em 1975 para cerca de 33% em 2015. Mas o valor real é mais baixo. Há que subtrair os impostos e as contribuições para a Segurança Social. Apesar dos progressos realizados ainda existe muito por fazer. Quase que apetece dizer que a imaginação é o limite.
Para a minha mulher-a-dias existem situações que são do domínio do óbvio: a precariedade está ligada aos salários baixos, de pobreza. Por isso, insiste-se, é incompatível com o desenvolvimento, com a qualidade de vida. Estamos perante um círculo vicioso (armadilha da pobreza) e uma contradição nos termos. Isto devia ser dito mil vezes: não há desenvolvimento sem direitos humanos, coisa que muitos economistas não conseguem alcançar. E quando invocamos os direitos humanos estamos a falar de quê? A precariedade deita por terra os ditos de "premiar o mérito" e "para distribuir é preciso primeiro produzir". Pode haver aumento do PIB sem distribuição da riqueza e sem expandir a qualidade de vida, o que é fácil de constatar.
Helena Santos sustenta que o Mundo está bem quando ela se encontra numa boa. Está mal quando acontece o contrário. Mesmo assim detesta pessoas egocêntricas. Acha que pobre não tem glamour. É de opinião que todos somos filhos de Deus, mas uns são mais iguais do que outros (agarre esta ideia). Aceita uma "democracia coxa, burguesa" (palavras dela): democracia política, mas não económica e todos somos poucos para fazer de Portugal um dos países mais atrasados da Europa. Diz que não se importa de raciocinar em bases falsas, com conceitos inquinados, apesar de igualmente ser uma adepta fervorosa da qualidade do pensamento e do rigor intelectual. Também para ela o que sabemos e os valores determinam o modo como enxergamos o mundo.
A D. Lúcia, que mora na minha rua, afirma que há que saber desafiar o futuro e é uma sorte Portugal estar a abarrotar com pessoas de inteligência acutilante. Para ela não haver liberdade de expressão, de manifestação ou de voto é contra os direitos humanos, viver na pobreza não. Por isso Portugal e a Europa não têm problemas quanto a isto. Dá-se uma definição mitigada dos direitos humanos de modo que só se apliquem aos outros.
Artur Fonseca, de Faro, acha aberrante e imoral que um homem case com outro, mas não, que haja pessoas sem qualidade de vida. Para ele o povo tem de estar submisso face à precariedade (comer e calar). Há que afogá-lo com informação irrelevante. Está a pensar convocar uma grande manifestação nacional a favor da precariedade laboral e dos salários de pobreza, onde estarão representadas todas as forças vivas da Nação.
lsabel Moura, é uma adepta da teoria da geração espontânea, do crescimento económico infinito, do criacionismo e do obscurantismo. Jura a pés juntos que o desenvolvimento e a precariedade não são incompatíveis. Esta última não lhe provoca incómodo intelectual, pois é amiga da eficiência, por exemplo, favorece o emprego. Ela devia ser alargada a todos os setores profissionais. Se queremos empregos decentes então teremos menos emprego. É falso que a precariedade seja a via portuguesa para o subdesenvolvimento, apesar de, em 2014, uma grande precariedade coexistiu com um desemprego alto. Acha que a teoria do crescimento económico infinito não é uma impossibilidade prática, apesar do aquecimento global (que pode estar fora de controlo). Defende um pensamento económico de excelência, que leve a uma economia de rosto humano (a sério?). Para ela um pensamento disfuncional conduz a comportamentos inadequados. Considera utópica uma sociedade em que todos tenham qualidade de vida. Existe uma tendência para a pobreza, pois as pessoas não são iguais, têm diferentes capacidades.
João Cunha, que sofre de rinite alérgica desde a semana passada, sustenta que Portugal tem futuro e a economia de mercado é o máximo, um prodígio (a mais importante invenção depois da roda). Aufere um ordenado de 40 000 euros por mês. É uma pessoa com espírito de iniciativa (empreendedorismo) e alguém que pertence à elite esclarecida. Opina que a sociedade está configurada aos seus interesses, mas estes coincidem com os do País. Os seus interesses igualmente enformam a sua teoria económica. Estamos no melhor dos mundos possível, não existe alternativa, outras realidades. Nada há para além da economia de mercado. Trata-se do fim da História (síndrome de fronteira). É contra aventureirismos. Não às experiências sociais, a não ser a da precariedade. Tem um incomensurável orgulho em ser português. Defende a excelência, seja lá o que isso for. É um adepto feroz do rigor intelectual, da coerência e da eficiência. Uma bomba nuclear eficiente (símbolo da perfeição técnica e científica) é aquela que mata mais pessoas (civis), como aconteceu em Hiroshima e Nagasáqui, na Segunda Guerra Mundial. Diz possuir, e isto sem cinismo, um coração mole, um interesse genuíno pelos outros. No entanto, é a favor do fracasso e regressão social do trabalho precário e mal pago (flexibilidade laboral). O povo deve viver em escassez, na virtude da austeridade (dieta milagrosa). Neste sentido, a social-democracia deve estar fechada na gaveta e a sete chaves. Em princípio subir o ordenado mínimo é antieconómico, vai contra o sagrado interesse nacional, pois afeta a competitividade. Isso da exploração laboral é uma falácia. O conceito de justiça social é não-científico. A vida não tem de ser fácil (stress social) e a saúde mental que se lixe (existe uma relação entre esta e o desenvolvimento, dizem). Para despistar, deve-se constantemente defender que para distribuir a riqueza é preciso produzi-la. Também defende que os trabalhadores, tal como o nome indica, servem para trabalhar e os consumidores, para consumir, mesmo que porcarias. Os ventos da história nem sempre são ascendentes. Há que reduzir os custos do trabalho (sobreviver é viver). Este é o caminho certo para redimir e consertar a Pátria. Esta magnífica reforma estrutural, verdadeiro desígnio nacional, que parece consubstanciar o modelo de "desenvolvimento" português, ainda tem muito espaço para crescer, apesar do País apresentar em 2014 mais de 1,2 milhões de precários. Isto é uma prova da eficiência do paraíso do mercado e só não vê tal, quem quer ser cego. A ameaça do desemprego é a cereja em cima do bolo. A classe média que se cuide (nivelamento social por baixo, como no comunismo). Tem de se fazer a apologia do trabalho árduo, da vida difícil. É a favor da mítica igualdade de oportunidades. O Nobel da Economia Samuelson dizia que na Suécia o Estado amparava o cidadão desde o berço até à cova. Isto é inadmissível, pois desresponsabiliza as pessoas. Há que pensar claro. Defende que o capitalismo puro e duro, é eficiente a produzir riqueza. Veja-se a globalização que cria uma infinidade de produtos a preços baixíssimos. Tem de se ser pragmático, realista. Não à ideologia, ao voluntarismo. É a favor das reformas de pobreza e estas poderão apanhar o comboio do envelhecimento da população (peste grisalha). Portugal não deverá ser bom para viver e morrer. O banquete não é para todos. Inclusão social? O que é isso? As reformas douradas e empregos decentes devem estar reservados às elites, à nomenklatura, como forma de premiar a excelência do seu mérito. Isto permitirá poupar muitos recursos e uma melhor gestão orçamental. As pessoas devem estar ao serviço da produção e não o contrário e isto faz toda a diferença, como se sabe (o Diabo esconde-se neste detalhe). O que interessa são os chamados fundamentais da economia, por exemplo: inflação controlada e rigor orçamental (quando não se fazem bem as contas a falência espreita). Sejamos tecnocratas. Este mundo não tem de ser um jardim das delícias. É por isso que se diz "Ir desta para melhor". Pugna pelo "Admirável Portugal Novo". Para inglês ver, defende que a qualidade de vida e o combate à pobreza são uma questão de crescimento económico e não política, de direitos humanos. Possui um método capaz para saber se uma pessoa é competente. Se usar gravata, tudo bem (comunicação simbólica). Se não, é melhor desconfiar. O poder económico deve recrutar (comprar) quadros na área política, por motivos óbvios. Um belo exemplo disto: um ex-presidente da Comissão Europeia foi trabalhar para uma grande financeira mundial, que ajudou a aldrabar as contas públicas da Grécia, antes deste país se afundar na crise, em 2008. Os políticos não devem agir contra a vontade dos mercados (que pairam acima da democracia), têm de ser "amigos da economia". Para ele há que vigiar o sistema financeiro, que por vezes gosta de pregar partidas à economia real. Há casos que são de polícia. Em Portugal, após 2008, o colapso atingiu vários bancos, que como se sabe são especialistas a lidar com dinheiro. Os contribuintes pagaram as favas, e de que maneira, da socialização dos prejuízos (largos milhares de milhões de euros). A economia de mercado e a globalização são validadas pela "ciência" económica e esta pelo princípio da autoridade, pelo poder social. Assim há algo de arbitrário no saber económico. Acha que um país pode ser vítima da sua mediocridade. Não vê necessidade de questionar os conceitos de criação de riqueza, crescimento económico, eficiência e outros dogmas. Isto é matéria-prima para o pensamento rápido (fast think). Este, dizem, é como o "fast food", pouco saudável. O pensamento dogmático, burocrático permite evitar que se pense verdadeiramente. Para ele a soberania começa a estar fora de moda, face ao ascenso do poder económico global. A democracia pode começar a estar blindada numa camisa-de-forças, esvaziada de conteúdo, quase sem se dar por isso. Um maravilhoso exemplo da subordinação total do político face ao económico foi o caso das "repúblicas das bananas" da América Latina, no séc. XX. Agora as coisas são mais subtis. É contra a desmontagem dos mitos (há verdades de conveniência). Quem controlar os fluxos de informação, melhor levará a água ao seu moinho. Reconhece que por vezes as elites falham redondamente.
Lúcia Silva igualmente defende a flexibilização e modernização do mercado de trabalho. Lamenta que a mudança e o progresso originem resistências. A reforma do mercado de trabalho é uma luta que nunca acaba. Por exemplo, devia ser permitido despedir quem se tornou obsoleto e assim dar emprego a jovens.
A minha mulher-a-dias, na sua ingenuidade, sustenta que enquanto houver falta de qualidade de vida existe trabalho. Se o desemprego anda num nível alto, tal deve-se a uma disfunção social, evidente.
A despropósito, muitas pessoas inteligentes defendem, sem se rirem, a mítica igualdade de oportunidades. Também os EUA provam que apesar do aumento do PIB atingir o céu, tal não leva necessariamente à erradicação da pobreza e à distribuição da riqueza e pode coexistir com o empobrecimento das classes média e baixa. Neste país deu-se mesmo o milagre de o salário mínimo baixar apesar do ascenso do PIB.
Helena Maia afirma que os portugueses podem dormir descansados, sem insónias (fia-te e não corras). Jura que, por ser eficiente, a economia de mercado tem acabado com a pobreza de uma forma imparável nos países onde se implantou: Estados Unidos, Brasil, México e muitos outros. Só não enxerga isto quem não quer. Como o mercado é mais eficiente do que que o Estado, a saúde, a educação e a segurança social deviam ser privatizadas, isto já para não falar nos serviços públicos como a água e saneamento, energia, correios, etc.
O meu amigo Jerónimo de Sousa, de Bragança, que é uma pessoa inteligente e de mente aberta (diz que não sofre de autismo intelectual e não tem o pensamento fossilizado com dogmas), acredita no paraíso comunista. O amor é cego e a teoria do conhecimento mostra que cada um só topa o que lhe interessa. Ele finge que não sabe que os ex-países comunistas, do socialismo "científico", eram ditaduras (acabou-se com a democracia burguesa para ter nenhuma). Chama-se a isto ignorância funcional. Para a minha mulher-a-dias os regimes socialistas da Europa do Leste eram regimes salazaristas de sinal contrário: polícia política, greves proibidas, falta de liberdade de pensamento e de manifestação, etc. Mais uma vez os extremos tocam-se. Como já se disse, a mente humana é muito retorcida, difícil de mudar e capaz dos maiores contorcionismos. Existe quem viva na realidade virtual, agarrado à sua "verdade", mesmo contra a evidência dos factos, (cegueira intelectual).
Há uma fórmula qualquer que calcula a pobreza em Portugal nos 17℅ (isto deve ser para rir). A minha mulher-a-dias sugere uma fórmula que baixe a pobreza em Portugal para os 10%. Se os dados forem bem trabalhados falam o que queremos. Também a nivel internacional considera-se ou considerava-se que uma pessoa com um rendimento acima de 2 dólares/dia não era pobre. Assim um mendigo que ganhe 5 euros por dia pertence às classes minimamente abastadas, um felizardo. Enfim, neste mundo tudo é possível.
João Taborda, de Leiria, defende igualmente "menos Estado e melhor Estado" e para bom entendedor meia-palavra basta.
Para a minha mulher-a-dias é preciso pensar diferente e o ser humano tem algo de fundamentalmente errado: não consegue domar as suas pulsões. Existe um senão no software intelectual e "os genes trazem a cultura pela trela". O verniz da civilização estala facilmente.
Em economia o curto prazo pode ser inimigo do longo prazo. Para muitos que se dane o futuro. A natureza está a saque e o aquecimento global está aí para o provar e o instinto de sobrevivência dá a ideia de não funcionar. A força esmagadora da realidade vem a caminho e as coisas irão doer. É o triunfo do absurdo do comportamento humano. As gerações futuras hão de agradecer-nos pela porcaria de mundo que lhes deixamos (caos climático). Há quem se ria da pretensão de se querer controlar o aumento do aquecimento global em 2 graus celsius.
João Lacerda, que mora em Paris, também acha que o ser humano muitas vezes não funciona bem do miolo, parece tocado pelo génio da estupidez. Por exemplo, como já se referiu, durante intermináveis séculos, os países cristãos do Ocidente praticaram a escravatura, como se não houvesse grande mal nisso. A História não tem sido muito edificante e dá a ideia de continuar no mesmo rumo. A escravatura tornava-se aceitável quando justificada. Dizia-se que ela permitia salvar a alma dos gentios, ou que era um castigo de Deus pelos pecados dos homens (Santo Agostinho). Defende que não foi a piedade cristã que levou ao fim do esclavagismo, mas o facto de a produtividade da mão-de-obra livre no Oriente ser superior à do trabalho escravo americano, o que criou as condições objetivas para a abolição. A piedade cristã não impediu a exploração brutal dos trabalhadores durante a Revolução Industrial dos séc. XVIII e XIX, na Europa. Do mesmo modo é-se indiferente à exploração laboral da globalização.
Muitas mentes brilhantes, com um pensar sofisticado, olham para o aquecimento global, ou para a pobreza (para os outros, claro) como um boi para um palácio (alguns deles têm uma visão muito parcial da eficiência e da meritocracia, na opinião da minha mulher-a-dias). Tais situações não lhes provocam qualquer desafio intelectual.
O meu vizinho Boavida pergunta-se como é que um marreco falhado (eu), um cromo quase senil se atreve a criticar a teoria económica vigente.
A subversiva da mulher-a-dias pediu que esta prosa pueril fosse dedicada a todos os portugueses que ao nascerem, vão confrontar-se com algo com que não contavam: não conhecerão a qualidade de vida. Como diz o ditado, quem se lixa é o mexilhão e o milho é para os pardais. A pobreza não tem de ser uma fatalidade, uma forma de vida.
Ricardo Sousa, de Coimbra, acha-se um ser superior. Vive num País demasiado pequeno para ele. Faz questão em ser ignorante e possui uma vasta incultura geral. É a favor de uma Terra feita vale de lágrimas. Cada um deve saber o seu lugar (cada macaco no seu galho). Também para ele a pobreza faz parte da identidade nacional. Já Maquiavel defendia que o povo devia ser mantido na indigência. O ditado opina que não se dá pérolas a feios, porcos e maus. Que comam pedras, se o salário mínimo e as pensões não chegarem.
A minha vizinha Margarida considera-se uma pessoa de pensamentos puros e de valores. Aprecia sobretudo os valores monetários. Para ela o vil metal é a chave que abre todas as portas e compra muitas consciências (vende-se a alma ao Diabo). Vivemos sob o império do dinheiro e este é a melhor medida de todas as coisas.
A despropósito, qualquer economista sabe à saciedade que acabar com a pobreza nos Estados Unidos não é uma questão de mais PIB. É pena que não se tirem daqui as devidas ilações. Por exemplo, a indigência é um produto social, coisa que poucos conseguem absorver. Nos EUA desistiu-se de pôr fim a ela (mudam-se os tempos, alteram-se as vontades). Agora tal não faz parte da agenda política. Para um tecnocrata da economia quanto mais PIB, melhor para todos. Só que o exemplo dos Estados Unidos mostra que as coisas não são assim. Não se pode confundir mais PIB com desenvolvimento, como muitos economistas fazem (só conseguem pensar em termos quantitativos, de mecânica económica, em mais do mesmo). A felicidade de uma criança não se mede pelo número de brinquedos que tem. Comer bem não é comer muito, pelo contrário. Quantidade e qualidade têm de andar juntos. A teoria do crescimento económico é pouco sofisticada, grosseira. Um problema complexo (a qualidade de vida) tem uma solução algo complexa, não se pode fazer uma abordagem parcial.
A Física de Newton é incapaz de explicar toda a realidade física, não faz uma análise fina dela. Por exemplo, não consegue justificar uma perturbação da órbita de Mercúrio (precessão do periélio). A Teoria da Relatividade veio colmatar essa falha. A teoria do crescimento económico é como a Física de Newton. Para muitos distintos economistas o saber económico começa e acaba na teoria do crescimento económico.
A minha mulher-a-dias que é sensível a estas coisas e não se conforma com tal, defende que algo não bate certo. Existe aqui um problema e pergunta se não estamos perante uma questão social que deve ser resolvida. Há que estar no "lado certo da história". Pensa que o grande busílis dos dias de hoje é o acesso ou não de uma pessoa à qualidade de vida e que não faz sentido, constitui um atentado à inteligência alguém vir a este mundo para ter uma existência penosa, sem dignidade. Para Leonel Silva basta que Portugal seja uma nação competitiva, como a China. Não é necessário que os portugueses tenham uma vida fácil.
Como defendeu alguém, a sociedade do bem-estar fica cara. Existem países onde a educação e a saúde são gratuitas e pessoas que acham isto mal. Para elas o Admirável Mundo Novo da globalização concorre para o fim do Estado Social, devido à batota do dumping social (salários de pobreza) e ambiental (ausência de normas ambientais). A ser verdade, qual a racionalidade económica desta destruição não criadora?
Insiste-se, quanto vale o ser humano? O mal existe. Para o meu cão aquilo que começa torto só pode acabar pior. Como se disse, é a cultura ou a falta dela que leva muitos distintos economistas a aceitar uma globalização iníqua, uma sacanagem que tem um enorme problema de direitos humanos e que não se pode aceitar como facto consumado. A globalização representa a exploração laboral à escala mundial. O dinheiro determina o que está certo e errado. Isto não faz pestanejar muitos doutorados, muitas boas-consciências bem-pensantes, amorais, que defendem cinicamente que ela permite que centenas de milhões de pessoas tenham acesso a um rendimento, que doutro modo não usufruiriam.
Grosso modo, o salário da globalização permite viver num tugúrio, num bairro da lata, futuro que qualquer pai deseja para os seus filhos, como se sabe. Para o meu cão o modelo da globalização mostrava que não levaria ao desenvolvimento e desafiava qualquer economista a mostrar-lhe o contrário. Assim, qual a excelência e a eficiência que possam legitimar a globalização? Onde anda o rigor intelectual? Estão a fazer das pessoas estúpidas? Importa perceber o mundo que se está a cozinhar. Há que vencer a opacidade social. Quem não sabe as regras de um jogo não entende o que se passa. As coisas não podem ser evidentes só depois de terem acontecido e não se deve ver apenas aquilo que está à frente dos olhos (uma questão de pensamento abstrato). Leonel Pina não tem problemas de consciência quanto à globalização. A maravilhosa teoria económica diz que o salário é função da produtividade. Se os trabalhadores são pagos miseravelmente é porque são pouco produtivos, mesmo que lidem com máquinas. Ninguém parece notar este arbítrio intelectual.
Para a minha mulher-a-dias, numa sociedade existem ideias dominantes e dominadas. O discurso reinante da competitividade infinita, que abafa todos os outros, pode ser uma mão cheia de nada. No pensamento tecnocrático, os objetivos instrumentais são o fim (a forma é o conteúdo) e aqui há gato. Abomina a porcaria do pensamento convencional disfuncional que trava o progresso e diz que não existe comunicação inocente. Muitas vezes veiculam-se aparências, cortinas de fumo, quando os factos contam outra estória. Defende uma ruptura intelectual. Também acha que as ideias dominantes nem sempre o são por mérito próprio, é o poder social que as leva à ribalta.
Para o nosso leitor Sá Carneiro, de Beja, não é possível ter cultura e civilização quando há pessoas na pobreza e isso da cultura tem muito que se lhe diga. Susana Dias diz que a Teoria do Conhecimento mostra que a verdade é como a água-benta, cada um toma a que quer. Comanda o arbítrio, contrariamente ao que se poderia pensar. A verdade é tão "importante" como a não-verdade. Há que desmontar os mitos. Não podemos ser acríticos.
A minha mulher-a-dias acha que não devemos ser amorfos em relação à arquitetura económica internacional (globalização): "A má economia afasta a boa, a virtude não cresce no meio do vício". Existem verdades que são estruturantes e fundamentais. De nada vale ignorá-las. Por exemplo, também para ela o acesso à qualidade de vida é o primeiro dos direitos. Tal é a única base em que deverá assentar a política económica e quaisquer reformas estruturais. O ser humano deverá estar no centro da economia. A qualidade de vida, a escravatura (para dar um exemplo mais claro) são antes de mais uma questão cultural e política e não puramente económica. Os economistas deviam conseguir entender tal. Um Nobel defendia que os princípios básicos da Economia cabem numa simples folha de papel. Estamos de acordo: não faz sentido uma economia que não sirva o ser humano.
Um conhecido meu põe a hipótese de a baixa produtividade do País não ser sustentável com uma moeda valorizada como o euro. A entrada no euro tirou aos países dois meios de ajustamento económico: a manipulação das taxas de juro e a desvalorização da moeda, para ter competitividade, caso a produtividade se mantenha baixa. Quem se atrever a sair do euro levará com uma desvalorizaçâo da nova moeda de dezenas por cento, para aprender. Soberania? O que é isso?
Insiste-se, para o meu cão, que por incrível que pareça tinha mais qualidade de vida do que muitas pessoas, o ser humano tem uma inteligência relativa, de que não se apercebe. Isto para não dizer que é um pouco obtuso. A prova de tal é a sua dificuldade em resolver os problemas sociais, como a pobreza, conflitos armados e até mesmo crises económicas, cuja natureza por vezes tarda a perceber. As forças económicas e sociais tendem a fugir ao seu controlo, coisa que muitos portugueses vivenciaram, ao serem espremidos como um limão, devido à crise de 2011, em que o País ficou tecnicamente falido devido a uma gestão danosa. Há muito que se avisava para o "monstro" da despesa pública. Lurdes Pinto acha que a crise de 2011 foi devida ao anticiclone dos Açores, ou a uma conjunção dos astros. Os responsáveis pela crise de 2011 deitam-se sem quaisquer problemas de consciência, apesar de todo o sofrimento que causaram.
O nosso leitor Eça de Queirós, de Lisboa, também não compreende que haja pessoas com qualidade de vida e outras sem tal. Pergunta se é tapado.
A nossa leitora Joana Santos tem um T1 para venda, com uma boa varanda e uma vista magnífica para um bairro da lata, em Odivelas. Também possui um papagaio que passa a vida a dizer que os portugueses são uns sortudos, pois vivem no paraíso da economia de mercado. Ela pergunta-se também por que raio a democracia económica não há de ser tão importante como a democracia política. Não dá para entender. Igualmente acha que Portugal é um país rasca, pois tem pouca qualidade de vida e o futuro no séc. XXI não se apresenta risonho por várias razões. Por exemplo, depois de 1974, Portugal esteve por três vezes à beira da falência (1978, 1983, 2011). Isto diz bem da excelência da nossa classe política e do que nos espera.
A despropósito, este texto tem uma razão de ser. Durante anos joguei na Lotaria, Totoloto, Euromilhões, etc., como um burro atrás da cenoura e nunca me saiu coisa de jeito. Furioso, resolvi mudar de estratégia para fazer muito dinheiro (sempre desejei ser rico, pois nasci para vencer e não sou daqueles que desistem). Após pensar aturadamente e como a necessidade aguça o engenho, num golpe de génio depois de uma esforçada meditação transcendental, decidi escrever um texto pretensamente de humor, apesar de não possuir qualidades para tal e ser uma pessoa de vistas curtas e rigidez mental (compreensão limitada da realidade), factos que o leitor, desprevenido, já teve ocasião de comprovar com a sua inteligência acerada, ao ler estas palermices, com repetições desnecessárias, capaz de o pôr, no mínimo, à beira de um ataque de nervos. No entanto, a culpa das repetições não é nossa, mas do algoritmo que foi usado para determinar o número de vezes que as palavras e ideias-chave seriam usadas no texto. Se estas lérias sem pés nem cabeça forem publicadas em livro e no mínimo metade dos portugueses o comprar (somos dez milhões) ficarei a nadar em dinheiro. A minha mulher-a-dias diz que estou alienado. Ela pergunta se alguém para ter qualidade de vida precisa de ser podre de rico. Além disso, os consumos têm de ser sustentáveis ambientalmente. Não faz sentido nos dias de hoje levar uma vida de luxo.
As nossas palavras são como setas viradas ao contrário. Existem ideias fecundas que fazem avançar a humanidade. As nossas não, apesar do objetivo central destas atoardas foleiras é a substituição do conceito dominante e algo limitado do "crescimento económico" pelo do "desenvolvimento", mais complexo (descobrimos a pólvora). Isto era urgente e inevitável, para o meu cão Tobias, apesar de não ser fácil derrubar a imponente muralha do pensamento convencional. Ele também considerava a teoria do crescimento económico infinito desligada da realidade e estúpida. Qualquer pessoa minimamente inteligente entenderá isso, pois tal exige um baixo nível de compreensão. Existem situações palermas que são evidentes. No entanto sabemos como é difícil a mudança de mentalidades (o cérebro humano tem dificuldades ao nível da plasticidade mental). Como se referiu, muitos não questionam validade dos seus saberes e práticas. Assim bastantes recursos são alocados de uma forma pouco eficiente.
A teoria do crescimento económico canibaliza o discurso económico e coloca graves problemas de honestidade intelectual. João Lino, de Boticas, defende que o PIB é um indicador defeituoso, dá-nos uma visão não fina e deformada da realidade, o que tem consequências. Não nos diz se há distribuição da riqueza ou se a economia é sustentável, por exemplo, a nível ambiental, se está a assentar numa bolha imobiliária, como aconteceu com a crise de 2007/8 (economia de casino que dá uma ilusão de riqueza durante algum tempo). É necessário avaliar qualitativamente o crescimento económico. Que criação de valor existe quando se produz e comercializa água açucarada? Fechados não seu castelo, muitos economistas distintos recusam claramente uma avaliação qualitativa do crescimento. Isso não é neutro e constitui um erro crasso. Existe quem não queira ver e saber e goste de pensar medíocre. Infelizmente os interesses funcionam como chaves cognitivas. Portugal não se pode dar ao luxo de não avaliar qualitativamente o crescimento económico. João Dias é a favor de entreter o povão com a cenoura do crescimento económico.
O meu cão igualmente punha em causa a validade da cómoda e fascinante teoria do crescimento económico infinito (lixo teórico), que é letal, devido aos limites ambientais. Quem brinca com o fogo queima-se. Ele achava que esta teoria pimba, verdadeira publicidade enganosa, é a escuridão ao fim do túnel e o cerne da pseudociência económica dominante. Não existe muita margem para um real crescimento económico e não há sustentabilidade económica sem a ambiental. Há muito tempo que se avisa para os limites do crescimento. As campainhas de alarme estão a tocar, mas muitos parecem não ouvir. Como se dirá mais adiante, o crescimento pelo crescimento é o das células cancerígenas. Tem de se mudar de paradigma, coisa que muitos iluminados pertencentes às elites supostamente esclarecidas nem querem ouvir falar. Estão entrincheirados na sua verdade fossilizada e dali não saem (pensamento circular). Não se importam de raciocinar em bases falsas. Como é possível que pessoas inteligentes muitas vezes estejam presas a estratégias que não funcionam, que não resolvem o grande problema da qualidade de vida? Têm lesões no córtex frontal? Qual o mérito de uma teoria económica disfuncional, que goza com a inteligência? Em suma, a teoria do crescimento económico é o reflexo de um vazio de ideias. Dizem que por vezes o engano junta-se à vontade de ser enganado. O fanatismo pelo PIB pode levar a que se contabilize PIB negativo, virtual. A História mostra que o absurdo pode reinar.
Muitas vezes julga-se entender uma coisa, quando tal não acontece e se o salário de uma pessoa depender de não compreender algo, ela não compreenderá, disse alguém (já ouviu falar nos "spin doctors"?). A "ignorância" por vezes compensa. Existem poderosos condicionamentos psíquicos.
Um dirigente industrial defendeu, há uns anos, que as normas ambientais prejudicam a competitividade. Para ele o futuro e o desenvolvimento não passam pela inovação ambiental. Como é bom respirar amianto.
Será que uma pessoa não tem direito a um ambiente não poluído? Será que temos de comer peixe contaminado com metais pesados, como acontece atualmente? Alguém disse estupidamente que o ser humano teria que viver com os venenos.
Deixem-me adivinhar, a teimosia em não abandonar o paradigma do crescimento económico será mais um exemplo do absurdo do comportamento humano. Em face disto, as nossas baboseiras estão mil vezes perdoadas.
Se usarmos conceitos e teorias falaciosas, o resultado só pode ser mau, não é possível o progresso do saber. Conceitos e teorias erradas são lixo comunicacional e levam a distorções cognitivas. Que seria da ciência se trabalhasse com conceitos como "horror ao vazio", "éter", "memória da água", "geração espontânea", "geocentrismo", etc.? Há saberes e saberes. Nem todos se equivalem. Alguém, ligado ao jornalismo de sargeta, disse que a verdade (objetiva) não deve atrapalhar uma boa estória. Neste caso a boa estória é a falaciosa teoria do crescimento económico permanente. Desafiamos qualquer um a provar o contrário. Na luta de ideias é espantoso que o conceito simplista de "crescimento económico" tenha levado a melhor sobre o de "desenvolvimento", mais rico. Como é possível que tantas pessoas inteligentes tenham embarcado nesta falácia e lá permaneçam de uma forma acrítica? A montanha pariu um rato. Repete-se, frequentemente a validação de um saber não está no seu mérito, mas na autoridade, no poder social. É triste, mas é verdade e muitos não se dão conta disso. É isto que explica a sobrevivência de um conceito falso como o de "ciência económica". Muitos saberes são historicamente relativos. O dia virá em que sairão de cena.
A negra da minha mulher-a-dias acha que muitos economistas eminentes terão dificuldade em dar o salto conceptual necessário, pois raciocinam, grosso modo, em circuito-fechado, em termos do saber estritamente económico (não têm em consideração outras variáveis) e da teoria mecanicista dos mercados eficientes (como se isso existisse), na qual os fatores políticos e sociais pouco importam (o modelo biológico não é extrapolável para as sociedades humanas). Chega-se por vezes a dizer que o Estado só atrapalha a economia. São por uma sociedade acéfala e quase apolítica, movendo-se no modo de piloto automático. Para eles a política é um apêndice da economia. Mas em que mundo é que vivem? Ao Estado compete intervir apenas onde existem "falhas de mercado". Que ingenuidade. Quando nos referimos a falhas de mercado estamos a falar de quê? Da pobreza? Isto não é coisa de somenos. Não existe desenvolvimento sem política. Sem esta a economia é cega, gera entropia, tende para o colapso. Em certo sentido, tais economistas têm o pensamento enquistado (dogmático) e uma disfunção cognitiva. Só enxergam o que a sua teoria redutora lhes mostra. São surdos a tudo o resto. Não têm mentes abertas. O economista Jeffrey Sachs afirma que aspetos básicos da realidade económica podem passar despercebidos a economistas académicos (cegueira profissional). Não somos nós que o dizemos.
O Nobel de Economia Krugman e outros chamaram a atenção para o facto espantoso de, nos EUA, o aumento do PIB desde os finais dos anos 70, ter ido parar à parte mais rica da população. Sobre isto muitos que andam sempre com a palavra "eficiência" na boca nada dizem. O economista Shumpeter falava na informação seletiva (há verdades que não se dizem). O aumento do PIB pode ocultar a degradação da qualidade de vida de parte, ou mesmo da maioria da população, torna-se um sucedâneo (quem diria). Haja coragem para reconhecer isto. Para Abílio Diniz, os EUA têm sido um país em retrocesso civilizacional.
Não existe economia pura, fora das condições sociais em que se processa. A escravatura é um bom exemplo. Isto devia fazer parte da cultura geral de qualquer economista. Por exemplo, é o poder político que determina o tipo de mercado que vigorará, quais as regras do jogo social, se é permitido a exploração laboral, poluir o ambiente, por exemplo.
Os teóricos da corrente dominante defendem que o salário (de pobreza) é função direta da produtividade (mesmo que se lide com máquinas). A mente humana consegue justificar tudo o que se queira.
Repetimos, que eficiência legitima a atual globalização? Não se deve pensar a economia em termos meramente técnicos. Quais as condições laborais da globalização? É usado o trabalho infantil? Não se pode ser acrítico. O Nobel da Economia Krugman fala nas condições horríveis das fábricas de t-shirts e ténis. A globalização e o glamour de muitas marcas assentam numa triste realidade, mas sobre esta indecência existe quase uma conspiração do silêncio, pois muitos beneficiam com tal. Bons ambientes de trabalho? Para quê? Mas que economia é esta?
Alguns economistas não se dão conta, vá lá saber-se porquê, de que a economia só faz sentido se produzir qualidade de vida. É difícil entender isto? Não se deve perder de vista o objetivo final. Não pode haver uma degradação das metas e uma inversão de valores. É por isso que se devem taxar ou proibir a publicidade dos alimentos prejudiciais à saúde no longo prazo. Não é aceitável que a publicidade promova consumos não saudáveis, sobretudo nos jovens e crianças. Não se pode transigir. Como se disse, quem tentar fazer tal estará a pedir uma guerra contra os interesses económicos instalados, que provavelmente agitarão a bandeira da liberdade económica e da produção de "riqueza". Não se deve brincar com a saúde das pessoas. Existe uma relação entre saúde e desenvolvimento.
O Nobel da Economia Amartya Sen mostrou que habitualmente as fomes não se devem a uma ausência de alimentos, mas a uma organização social que priva alguns dos mesmos. Tirem-se daqui as devidas conclusões: a pobreza é um produto social.
Viver com dignidade, o fator humano, é algo estranho à "ciência" económica dominante, a "verdadeira", como se a economia fosse um fim em si mesmo. Para o Nobel da Economia Galbraith, o que conta na ciência económica são as pessoas e não a teoria. O economista Keynes dizia que a Economia é uma ciência moral. O Nobel da Economia Gunnar Myrdral considerava que a teoria económica vigente é em grande medida a racionalização dos interesses que predominam nos países desenvolvidos. Isto é importantíssimo e muitos doutorados não se dão conta deste relativismo. É necessário compreender a natureza do saber económico. As teorias económicas (o que deve ser) não são uma questão científica, mas uma escolha cultural e política que serve diversos interesses. É fundamental o reconhecimento disto. O saber económico não é uma ciência. Haja rigor intelectual. Mas haverá quem se recuse admitir tal, pois isso implicaria tirar certas conclusões. Que se lixem as análises finas.
Quando não há humanismo alguém perde e por vezes de que maneira. A visão tecnocrática da economia não se importa se a "produção de riqueza" é feita à custa de condições laborais miseráveis (uma perversão). Os assalariados tendem a ser instrumentos, um mero fator de produção. Para ela não existe capitalismo selvagem, ou exploração laboral e o cálculo económico não inclui os custos humanos, nem ambientais, o que não faz qualquer sentido. Como é possível que distintos economistas não tenham em conta a variável humana? Que erro colossal. Não se pode separar aquilo que é indissociável.
Não faz sentido produzir PIB à custa do bem-estar das pessoas. Os japoneses têm a palavra "karoshi" para a morte súbita devida ao excesso de trabalho. Estas mortes são apenas a ponta do iceberg.
Quanto ao conceito de "crescimento económico" há quem defenda que se está a produzir PIB negativo, devido aos custos ambientais (e isto falando só em termos estritamente económicos). Mas existe quem não queira ouvir falar nesta questão pertinente e fuja dela como o Diabo da cruz. Há quem viva em estado de negação, recuse a realidade e a verdade objetiva mais evidente que entra por um ouvido e sai pelo outro. Se se está a produzir PIB negativo, tal coloca irremediavelmente em causa a teoria do crescimento económico. A ignorância funcional mostra que é possível persistir no erro e constitui um exemplo de desonestidade intelectual e estupidez de algumas elites, segundo a também exagerada da minha mulher-a-dias.
Muitos economistas acreditam "ingenuamente" que se afinarmos os processos (competitividade, concorrência, etc.) obteremos o melhor resultado social possível (se depois disso a pobreza persistir não é possível fazer melhor). Assim, não é a teoria que está errada, mas a realidade.
Os meios não são independentes dos fins, nem o todo é a soma das partes. Uma pretensa eficiência microeconómica não leva a uma eficiência macroeconómica. Os fins é que permitem avaliar a bondade dos meios. Que competitividade? Que eficiência? Haja rigor intelectual. É possível haver uma competitividade negativa, com vencedores e perdedores. Deve-se questionar a arquitetura económica mundial em que se processa a competitividade. Não se pode ser acrítico.
Uma focagem nos processos técnicos gera entropia (desorganização) no sistema social, o que parece estar a verificar-se. O meio não é o fim. O filósofo Séneca dizia que não há bom vento para quem não sabe o destino. Em suma, a teoria económica dominante, a "verdadeira", dá-se ao luxo de não fazer a definição operacional dos conceitos (qual o significado rigoroso de cada um deles) e joga com a ambiguidade das palavras do senso-comum, como "eficiência" e "produção de riqueza".
A minha mulher-a-dias defende que a visão tecnocrática, que se focaliza nos processos e não nos fins, como a qualidade de vida e o fim da pobreza, é ineficiente, mesmo em termos estritamente económicos, pois o desenvolvimento económico e o social andam a par, evidente. Na verdade, o desenvolvimento é que permite um maior crescimento económico, como se disse. A outra alternativa é a via do subdesenvolvimento, do recuo civilizacional através dos salários de pobreza, competitivos, que muitos defendem para os outros.
Uma sociedade com pobreza é menos desenvolvida do que uma em que todos tenham qualidade de vida, elementar. Uma pessoa com qualidade de vida é mais produtiva do que uma pobre, repete-se. Há todo o interesse em termos económicos que as pessoas tenham um bom padrão de existência, para além de se evitarem problemas sociais. Um exemplo, existe uma relação entre a pobreza, a doença, a criminalidade e o insucesso escolar. Este último aspeto prova que a "igualdade de oportunidades" é uma treta, um mito. Não interessa uma igualdade virtual, mas que todos tenham qualidade de vida. Certo?
A teoria económica dominante tem uma estranha obsessão em dar aos consumidores (o consumidor é rei) produtos a preços baixos, mesmo que à custa de salários miseráveis, como se o assalariado e o consumidor fossem duas entidades diferentes. Será que isto é inocente? Também não se preocupa, como se disse, em avaliar qualitativamente o que se produz. Por exemplo, até que ponto a produção de tabaco ou bebidas alcoólicas é produção de riqueza? Qual o custo ambiental (pegada ecológica) de um produto? Se não se atender ao aspeto qualitativo do que se produz, podemos estar a criar muita parra e pouca uva. Por exemplo, as filas de trânsito, o consumo do "junk food" (comida lixo), etc. elevam o PIB. Muitos recursos e atividades são alocadas inutilmente, em detrimento de necessidades fundamentais.
Apesar de ser uma pessoa de ideais e não cínica e sempre a ferver de patriotismo (balofo), o meu primo João defende uma sociedade dual, um Portugal pimba, onde haja cidadãos de primeira (os que têm qualidade de vida) e de segunda (os que não usufruem dessa sorte). O valor da vida não é igual para todos. Tal já vem desde a fundação do País, não sei se já repararam. Ao referir isto ele não pretende pôr o dedo na ferida, ou encarar as coisas de frente. Para a minha mulher-a-dias o verdadeiro patriotismo é não aceitar que haja quem se arraste sem bem-estar.
Há que justificar a ordem existente e assim nada mudar. É possível defender o indefensável e tentar configurar o mundo a certos interesses. O meu primo também defende que o que é bom para ele e para a General Motors é ótimo para o País. Por que existe quem viva na pobreza ou no desemprego? Nada é perfeito. É intuitivo que Portugal não será para todos. Não é preciso ser licenciado para perceber esta dura verdade. Existirá sempre quem chuche no dedo, os vencidos da vida, sem honra nem glória (dos fracos não reza a história).
No jogo social, como no xadrez, há os que ganham e os que perdem (desigualdade existencial). Uma mão invisível (forças subterrâneas) encarrega-se disso, por mais que se tente remar contra a maré. Todos somos portugueses, mas uns são mais iguais do que outros. A minha mulher-a-dias considera que a vida em sociedade não deve ser um jogo de fortuna e azar, uma lotaria, em que grande parte das pessoas será perdedora (sociedade de casino). É preciso uma outra lógica social. Que se diga isto mil vezes.
Para o meu querido primo a economia e a sociedade não têm de funcionar para todos (batota social). É como a dança das cadeiras, em que alguém fica de fora. No atual momento histórico, os assentos disponíveis tendem a diminuir. Cada vez mais haverá pessoas excedentárias, descartáveis (exclusão social). É bom perceber o que está a acontecer. Assim, o leitor, por mais que se esforce, pode não ter qualquer chance de sair da vala em que se encontra, se for esse o caso. A situação da 3ª idade irá piorar e de que maneira (reformas de pobreza).
Um conhecido meu defende que o povão (papalvos) não precisa de enxergar as razões do que lhe acontece (opacidade social), mas apenas saber queixar-se. Só deve ser capaz de processar informação a um nível limitado (pensamento concreto). É a favor de uma cultura formalista e da informação-espetáculo, de entretenimento. As coisas vão piar fino e de que maneira. A populaça aguenta desde que se saiba dar-lhe a ração. Deve-se oferecer-lhe a mundivisão correta: é impossível todos terem qualidade de vida e a pobreza é algo natural. A plebe deve habituar-se a conviver com o absurdo.
Repare-se que na natureza existem vencedores e perdedores, numa competitividade sem fim e levada ao limite. Além disso, "a pobreza é um bem, na medida em que liberta os homens dos vícios associados à riqueza", isto segundo S. Tomás de Aquino. S. Paulo dizia que pobres sempre os tereis. Quem somos nós para desmenti-lo? Se a pobreza for considerada inevitável, o problema fica solucionado sem o resolver, o que é genial. Quando se justifica uma situação iníqua, deixa-se de ter problemas de consciência. Tudo bons rapazes.
Um Prémio Nobel da Economia (Okun) defende que o alcatruz da distribuição da riqueza tem muitos furos. Nada a fazer, apesar do avanço da ciência e da técnica. "Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não sabe da arte", diz o ditado. Há muitas formas de roubar. Na economia, a maré quando sobe não levanta todos os barcos. Para o Nobel Stiglitz existem perdedores estruturais. Os dados parecem estar viciados à partida. Que o digam sobretudo os povos dos países ditos em vias de desenvolvimento, que estão nessa situação há uma eternidade. Na maior parte dos países de economia de mercado a pobreza atinge a maioria da população. Isto é uma prova irrefutável da eficiência da economia de mercado. Existe quem confunda os desejos com a realidade. Um vizinho meu defende que a economia de mercado é eficiente por definição.
O leitor como cidadão que se preza acha que uma pessoa tem direito a viver com dignidade, de não ser impedido de aceder à qualidade de vida? Esta é uma opção fundamental que tem consequências, segundo a minha mulher-a-dias. Para ela, ideias ou teorias tolas são como uma ratoeira.
A minha querida amiga Helena Dias adora a economia informal. Graças a ela ainda não foi à falência e acha que tem direito à sobrevivência e a um mínimo de qualidade de vida.
João Santos (nome fictício), desempregado, tinha uma dívida de IMI no valor de 800 euros. O Fisco penhorou-lhe a casa (veio nos jornais). As pessoas que vão morar para debaixo da ponte. Também o Fisco cobra IMI a mais ao não atualizar a avaliação dos imóveis automaticamente e por vezes não devolve o IVA de faturas não cobradas. Há muitas formas de roubar. O meu filho Pedrito (o de 6 anos) acha também que o Estado devia agir como pessoa de bem, se quer que os cidadãos também o sejam. Volta-se a dizer, quando existe um padrão de desonestidade transversal a toda a sociedade, não é possível o desenvolvimento.
A minha vizinha do 9º Esq., que por acaso já foi vítima de assédio psicológico no local de trabalho e leva tareia frequente do marido (casou com uma cruz, o mel virou fel e o homem não pode separar aquilo que Deus uniu), defende que ninguém deve ser impedido de aceder ao bem-estar. Isto não é um direito humano, segundo o pensamento convencional e por várias razões.
Essa de todos terem lugar no mundo constitui uma utopia óbvia. Eis a razão de, por exemplo, nos Estados Unidos não se pôr a questão de acabar com a pobreza (a guerra contra esta deu lugar à Guerra do Vietname, mais importante, há umas dezenas de anos).
João Canudo acha-se especialmente inteligente, também sofre do complexo de superioridade e ninguém lhe tira as peneiras. Não tem empatia pelas classes baixas, tolera-as. É a favor do sucesso individual (ser rico) e não social. Defende que a plebe devia estar feliz por viver no paraíso da economia de mercado (liberalismo económico) e da precariedade (que curiosamente também atinge os quadros médios e superiores, mas ninguém parece notar isso). Os salários «low cost» (baixos) são como um remédio doloroso, mas eficaz, para navegar na economia da globalização, apesar de rasgarem o tecido social e levarem à quebra demográfica. O ascensor social funciona agora ao contrário, surgem os novos pobres, saídos dos desempregados e da classe média.
Quem quiser viver no paraíso da economia de mercado tem de caminhar sobre os seus espinhos. Não existe alternativa ao "Admirável Mundo Novo" da "eficiência" e do futuro em marcha-atrás. Não há direitos adquiridos. Nos Estados Unidos, as mulheres brancas não-hispânicas sem a escolaridade obrigatória perderam cerca de cinco anos de vida entre 1990 e 2008 (citado por Stiglitz). Para algumas camadas sociais a esperança de vida está em recuo. Que dizem a isto os economistas da eficiência e da meritocracia?
A teoria económica dominante defende que os salários baixos (de pobreza) facilitam a criação de emprego, o que é falso, pois um pobre é um consumidor fraco (lembramos que o progresso económico e social andam a par). Para ela viver é sobreviver, o que é "melhor que falecer", como diria um humorista. Também acha que se quisermos eficiência não teremos equidade (malabarismo intelectual). Assim, acrescentamos nós, os sem-abrigo são uma prova da eficiência da economia de mercado e não o contrário. Igualmente não constituem uma questão de moral ou justiça social e uma vergonha para qualquer sociedade. A minha mulher-a-dias defende que esta tese nascida nos Estados Unidos visa justificar a pobreza deste país. A teoria anda ao sabor das conveniências. Existem teorias feitas à medida, que se escudam sob o álibi científico. Cada um escolhe a verdade que lhe interessa, nunca é demais frisar. Há verdades de conveniência. A verdade objetiva é muitas vezes algo secundário, anda a reboque dos interesses.
A desregulamentação do mercado laboral na era Reagan (anos 80) levou a que o número de trabalhadores pobres aumentasse até 18%, em 1990 (Robert Reich). Foi a "magia do mercado". Na prática esta magnífica "reforma estrutural" visa a diminuição do custo do trabalho. Nos anos 60, apesar de a Europa ter uma proteção social maior, a sua taxa de desemprego era menor do que a dos Estados Unidos. Ou seja, a precariedade não leva ao aumento do emprego, mas ao recuo do desenvolvimento. Em Portugal, depois de 1974, a "rigidez laboral" coincidiu com baixo desemprego.
Para a "ciência" económica as migalhas da caridade (assistencialismo) são a melhor forma de combater a pobreza, pois não interferem com a eficiência. Existe quem ache que a caridade é um bom substituto da justiça social. Ela também é usada pelas empresas para fazer publicidade. Há quem brinque à caridadezinha. A polémica da minha mulher-a-dias diz que muitas campanhas "solidárias" não são mais do que publicidade.
A vida não é para brincadeiras e para muitos, um verdadeiro calvário. Isso da dignificação do trabalho, "emprego decente", segundo a Organização Mundial do Trabalho, é uma balela e um luxo (mais vale um mau emprego do que nenhum, afiança o Nobel Krugman). Se o povo for ignorante (quem não sabe é como quem não vê), ou tiver um saber fragmentado (apesar da era da informação) ficaremos com a certeza de que tudo ficará na mesma. O passado resiste sempre, até ao fim.
Segundo a Teoria dos Jogos, uma pessoa pode ficar em situação pior se procurar apenas o seu interesse pessoal (atomismo social). Uma sociedade em que meio mundo tenta enganar o outro e há muitos interesses instalados não vai longe. É como um barco em que cada um rema para o seu lado. Alguém disse que não existe sociedade, mas indivíduos e famílias. Sejamos rigorosos, se fosse vontade de Deus (que é omnipotente) uma Terra sem miséria, tinha-a feito, óbvio. No entanto os seus desígnios são insondáveis. Quem vive na indigência deverá ter paciência e resignar-se. Na Europa a pobreza é legal e não é considerada uma questão de direitos humanos. Estes só se põem para os outros.
Para a minha mulher-a-dias há que criar o problema e a pretensa solução do mesmo. O Nobel Stiglitz afirma que a evidência empírica não mostra que as políticas de austeridade resolvem as crises económicas. Se isto é verdade por que se persiste nelas? Há uma agenda oculta?
Quem se lembra das políticas de ajustamento estrutural do "científico" FMI, cuja finalidade não declarada era servir os interesses dos devedores e que se lixassem as economias dos países intervencionados? Por curiosidade, no póquer procura-se vencer o adversário enganando-o acerca das nossas intenções.
A pobreza em Portugal é estrutural (por muito que aumente o PIB ela tenderá a não acabar). O nosso país é um dos mais desiguais da Europa, o que é um muito mau sinal.
Alguém perguntou se com a ciência e a técnica não haveria motivo para que haja quem vegete na indigência (uma questão de recursos mal alocados). Nada mais falso, apesar de existirem países (nórdicos) que remeteram a pobreza para níveis residuais, o que não é o caso dos EUA, que foi durante muito tempo o paradigma da economia de mercado. Se em algumas zonas a pobreza foi praticamente erradicada, isso é a prova inequívoca de que ela é um produto social, como já se disse. Mesmo assim existe quem culpe os pobres, as vítimas, da sua pobreza, por não serem capazes, ou responsáveis, ou por não pouparem o suficiente. Têm a sorte que merecem. Como é possível que uma potência económica mundial, os EUA, com a maior quantidade de Prémios Nobel da Economia per capita, não tenha conseguido acabar com a pobreza no seu território? Há quem não goste de questões pertinentes. Essa de as pessoas serem iguais como os dentes de um pente, no que se refere ao direito à qualidade de vida é uma falácia. Aliás muitos pentes não têm os dentes iguais.
O bem-estar é o único critério de validação e calibração de uma teoria económica ou sistema político. Qualquer teoria terá de superar a prova da realidade. A eficiência terá de ser em última instância humana (e não ter um carácter reducionista, tecnocrático). Isto vale tanto para os regimes comunistas, como para a economia de mercado (é mais fácil ver os defeitos nos outros do que em nós).
A minha mulher-a-dias defende que o conceito de economia de mercado é errado, pois o mercado é apenas uma parte da economia, mas ninguém se importa com isso. O insuspeito economista liberal Martin Wolf diz que grande parte da economia é dificilmente mercantilizável. Para quê raciocinar com rigor, com profundidade analítica? No entanto este erro não é inocente. Igualmente os conceitos de "ciência política" ou de "ciência jurídica" são erros grosseiros. O conhecimento para ser científico tem de ter determinadas características. Existe um verdadeiro jogo de máscaras.
O Nobel Samuelson disse que a matemática prova a superioridade da economia de mercado (que grande baboseira). Também o Nobel Krugman defende, no seu Manual, com uma visão estreita, que os impostos são um fator de ineficiência, pois tornam os produtos mais caros. Na verdade um país com impostos baixos é um estado subdesenvolvido. Avisa igualmente que quem atentar contra as supostas leis do mercado será castigado por ele.
Muitos economistas conseguem defender, sem se rirem, que a economia de mercado é eficiente, apesar de, por exemplo, os Estados Unidos terem cerca de 20/25% das crianças na pobreza (fracasso social). Já agora, que é isso de "mercados eficientes"? Os EUA são um mercado eficiente?
O meu amigo Teodoro defende que a economia de mercado trará um futuro esplendoroso para toda a humanidade e para todo o sempre. Uma questão de fé. Acredita na economia de mercado como as crianças no Pai Natal.
Insiste-se, mesmo vivendo no tempo da ciência e da técnica, a maior parte dos seres humanos do Planeta vive na indigência. Nunca na história da humanidade houve tantos esfomeados, mas ninguém parece notar tal. Isto foi um efeito paradoxal (e que é ignorado) da ciência e da técnica. Estas não levam automaticamente à qualidade de vida, contrariamente ao que se julga.
A minha amiga Ana de Albuquerque diz que o facto de os filhos dos outros morrerem devido à subnutrição (aos milhares, por dia, segundo a UNICEF) não a atormenta. A pobreza mata. Houve quem afirmasse que a estupidez da indiferença e a falta de humanismo são uma arma de destruição maciça (que exagero). A despropósito, a minha vizinha Leonor diz que gostaria que Portugal tivesse um futuro com muito glamour e só com gente bonita (racismo estético?). O meu amigo Alberto confidenciou-me, com alguma crueza, que também não gosta do cheiro a pobre.
Há quem defenda que se podem ignorar os problemas, pô-los para debaixo do tapete, mas não acredito. Portugal viveu um momento glorioso da sua história: chegou à falência em 2011, pois há anos que gastava mais do que produzia (desequilíbrio macroeconómico). Desde 1995 até 2010 a despesa corrente do Estado cresceu a uma taxa de 6% ao ano. Nesse período a economia cresceu um pouco acima de 1% ano. O endividamento em bola de neve arriscava-se a rebentar como um balão, não fora a intervenção externa. Boa governação? O que é isso?
Por um empréstimo de 78 milhares de milhões Portugal pagará, ou pagou 35 milhares de milhões em juros e comissões. A minha mulher-a-dias considera que devido a isso muitos deixaram de almoçar e mesmo jantar. É a banalização do sofrimento. A ajuda não pode ser negócio e vir acompanhada de imposiçōes políticas, como a privatização de setores estratégicos, como a energia. Tal constitui uma maldade, atrevemo-nos a dizer.
A dívida externa líquida portuguesa chegou aos cerca de 100% do PIB, em 2008. Houve uma falta de poupança interna para financiar o investimento e o consumo que foram buscar dinheiro ao exterior. Para piorar as coisas, mais de 70% do investimento perdeu-se para a construção civil, em detrimento do setor produtivo. O peso da indústria no PIB desceu. O sistema financeiro português começou a dar tiros nos pés quando se virou para o crédito à construção e ao consumo.
A ratoeira da baixa da taxa de juros levou ao aumento do consumo. Com uma produção nacional não eficiente (por exemplo, o setor dos bens transacionáveis era anémico, de baixo valor-acrescentado) houve o aumento das importações. Os governos não quiseram tomar medidas antipáticas (populismo). Seguiram uma política pró-ciclo económico, expansionista, quando não o deviam ter feito, e o cenário ficou preto. As regras prudenciais foram esquecidas. Estrondoso fracasso. Só a partir de 2001 e durante algum tempo houve contenção da despesa pública.
Para a sempre exagerada da minha mulher-a-dias estamos perante uma tramóia legal. Foi o caso das ruinosas e dificilmente sustentáveis parcerias públicas-privadas. Grandes interesses privados canibalizaram o interesse geral, conseguindo assim "rendas excessivas", para não dizer outra coisa. Há uns anos um evento de um partido político foi pago por uma construtora importante, para que se veja.
Portugal tem autoestradas inúteis. Em 2012 o Estado terá pago 800 milhões de euros só com os encargos das PPP rodoviárias. Existe uma captura do Estado pelo poder económico e não vai ser fácil descalçar a bota. É política dos interesses. Quando isto acontece o desenvolvimento estanca e um país arrisca-se a andar em marcha-atrás. Reina a plutocracia (um euro, um voto), coisa que acontece nos Estados Unidos de uma forma muito clara. O poder político segue a voz do dono, o poder económico. Este, por exemplo pode impedir a feitura ou a revogação de normas ambientais, mesmo que isso prejudique claramente as pessoas, como aconteceu nos EUA na era Reagan.
Em 2012 mais de metade dos desempregados estavam sem subsídio. A taxa real desemprego andava pelos cerca de 23%. Este valor nada tem que ver com a mistificação da taxa oficial. Uma tragédia grega.
Muitos sofreram uma "pobreza imerecida", frisou um ex-ministro. Os problemas sociais e as insónias floriram. Foi a falência do pensamento estratégico (que se dane o futuro). Alguém (a elite política) tramou o conhecido "Zé Povinho", que teve que pagar a fatura da incompetência e do absurdo de políticos disfuncionais. Muitos, que sabiam ou tinham a obrigação de saber, calaram-se. Talvez, nunca tão poucos lixaram tantos. "Má sina ter nascido em Portugal!" desabafou um meu vizinho. Se as coisas já são difíceis, ainda se conseguiu fazer pior. É obra. O impensável acontece. A minha mulher-a-dias aponta o dedo a certas elites supostamente esclarecidas e ainda por cima, por vezes, com renumerações celestiais. Um país pode ser refém e vítima durante longos anos das suas elites, notou. A mente humana tem razões que a razão desconhece. Tratou-se no mínimo de um caso de gestão danosa (a irresponsabilidade e a irracionalidade são possíveis), coisa que já aconteceu noutros países.
Na Grécia a insanidade chegou ao ponto de se maquilharem as contas públicas, com a ajuda de uma competente consultora internacional (Goldman Sachs).
Lúcia Santos diz que também em Portugal se fez contabilidade criativa. O Estado vendia a si próprio edifícios públicos acima do valor do mercado, gerando receitas fictícias.
Se não houver uma renovação dos quadros políticos, o nosso destino continuará nas mesmas mãos, notou alguém. Tal arrefece qualquer otimismo, pois não é de esperar que se emendem e eles continuam por aí, com o ar mais cândido do mundo, como se nada fosse com eles. É espantoso que nenhum político tenha assumido responsabilidades pelo sobreendividamento (existem verdades indizíveis). A culpa morre solteira, apesar do pesadelo que causou. Ninguém enfia a carapuça (tudo bons rapazes), nem será responsabilizado, tal como na crise mundial de 2007/8, provocada pela grande burla dos empréstimos subprime nos EUA (com a ajuda das honestas agências de rating, que deram como seguro o que era lixo), o que acelerou a crise portuguesa.
Nos EUA houve dinheiro para resgatar o sistema financeiro (o culpado da crise), mas não houve recursos para reestruturar as hipotecas das vítimas. Assim milhões de americanos das classes baixas perderam as suas casas e poupanças. Quem é pobre comete um crime sem querer. Não existem políticas económicas neutras. Nos Estados Unidos o resgate assumiu a forma de cheque em branco sem condições. As instituições financeiras não foram intervencionadas, os dirigentes não foram demitidos e muito menos levados a tribunal. Para além disso continuaram a receber bónus de desempenho com o dinheiro do resgate, que não foi aplicado para ceder crédito às empresas. Esta impunidade será a semente da próxima crise, para o meu cão. É o que se chama "risco moral". O setor financeiro deve servir a economia e não canibalizá-la, como aconteceu com os empréstimos predatórios subprime: não se empresta a quem não tem rendimentos para pagar as dívidas. A economia de casino só pode dar mau resultado. Rouba um limão é ladrão, rouba um milhão é barão. A lei não é igual para todos.
A dívida (soberana) dos Estados implodiu com as operações de salvação das instituições financeiras em 2009. Seguiram-se as políticas de austeridade.
Houve uma cegueira coletiva (absurdo comportamental), pois, apesar de desde há anos alguns economistas avisarem que estávamos a caminhar para a insolvência, Portugal só acordou para a realidade já à beira do precipício.
Para a minha mulher-a-dias o ser humano, por vezes, é como as ovelhas que vão pacificamente para o matadouro. Para ela o caso mais emblemático foi o dos alemães sob os nazis. Ideias erradas levam a situações más. Luther King dizia que quem levanta a espinha não se deixa montar.
Sousa Lemos pensa que as pessoas são frias e calculistas. Este é um mundo de safadeza. Dá como exemplo ele próprio, que burlou o sócio em largos milhares de euros e esteve metido num esquema de receitas médicas falsas, que lesou o Estado em muitos milhares. Não se pode confiar em ninguém. Para ela, uma curiosa da Economia, a "eficiência" pede que um assalariado deva ser descartável. Acha que essa ideia de um emprego para toda a vida, como no Japão, é obsoleta. Assim se uma pessoa com mais de 35 anos ficar desempregada, arrisca-se alegremente a não encontrar trabalho. Um destes dias sonhou que se a escravatura fosse legal, isto seria aproveitado por muito boa gente. Afirma que também teve a intuição genial que Portugal não será para todos.
O nosso leitor Jorge Sampaio, morador no Fundão, acha que a crise de 2007 indicou claramente o risco sistémico da atual arquitetura económica mundial: se uma peça do dominó cair pode arrastar as outras. Não existem diques. Aposta que muita água ainda vai correr debaixo da ponte. A crise de 2007 também mostrou que os mercados na sua infinita sabedoria, se os deixarem, conseguem levar a humanidade para o abismo, como também aconteceu em 1929. Na Irlanda os bancos cometeram suicídio, apesar dos seus competentes economistas. Foram à falência ao entrarem numa bolha imobiliária. Este país igualmente teve de pedir ajuda externa. Onde está a racionalidade económica?
Em Portugal e na Grécia a ação do Estado conduziu o país à falência. Na Irlanda e nos EUA o privado foi o mau da fita.
O meu vizinho Arnaldo pensa que não é por acaso que Portugal é uma das zonas mais desiguais da União Europeia e que se arrisca a ser o país mais latino-americano do Velho Continente. Falhar a distribuição da riqueza é falhar o desenvolvimento. Foi isso o que aconteceu, segundo ele, à América Latina. A riqueza e a pobreza são indicadores do subdesenvolvimento, como as duas faces de uma moeda.
Sociedades mais igualitárias como as do Norte da Europa e o Japão têm populações mais saudáveis (mesmo entre as classes altas) e menos problemas sociais, do que nações como EUA, Portugal e Reino Unido, que ocupam este triste pódio, no que aos países mais ricos se refere (Richard Wilkinson e Kate Pickett). Estas nações tendem a apresentar mais insucesso escolar, violência, doenças mentais, consumo de drogas, gravidezes na adolescência, etc. Curiosamente isto é independente de o nível do PIB ser alto. Estas disfunções sociais levam ao aumento das despesas negativas, que tratam os sintomas e não as causas. Anda-se sempre a apagar fogos, o que consome muitos recursos.
Para a minha mulher-a-dias o progresso social passará inevitavelmente pela unidade social dos humanos e o futuro, pela inovação ambiental.
A generalidade dos economistas não considera a variável da desigualdade, por ignorância e não só. Muita desigualdade mina a coesão social (sentimento de pertencer a uma comunidade). Trata-se de um problema político. Demasiada desigualdade tem um preço alto e com juros, neste sentido é obscena e não pode ser permitida. A desigualdade está a crescer a nível de país e entre países. Vamos ver onde este descontrolo vai parar.
O financeiro Warren Buffett acha, com exagero, que a "A guerra de classes existe, é certo, mas é a minha classe, a dos ricos, que conduz essa guerra e nós estamos a ganhar."
É consensual que a atividade económica por si não leva à equidade (justiça). Cabe ao poder político regular esta questão. Imagine-se o que acontecerá se a progressividade dos impostos perde velocidade e se surgirem os impostos regressivos.
A "Teoria da Oferta" diz que se os ricos forem menos taxados mais investem. O mal quando vem tem sempre uma desculpa. Assim, nos Estados Unidos uma pessoa pode pagar uma taxa de imposto menor do que a de alguém com menores rendimentos, o que é um absurdo (existem leis feitas à medida). O bolo do rendimento para a maior parte da população tem vindo a minguar, mesmo que aumente o PIB. Esta começa a viver em austeridade, tende a endividar-se e a trabalhar mais, apesar do aumento da produtividade. A corda é esticada ao máximo para muitos. Até 2007, nos EUA, por exemplo, 20% das pessoas comiam 85% do rendimento, as outras 80% contentavam-se com 15% (Robert Reich). Isto mostra que demasiada desigualdade leva necessariamente ao empobrecimento de parte da população. O padre António Viera notou que para engordar um peixe grande são necessários muitos pequenos.
Chegou a hora do ajuste de contas com a classe-média. Para um nosso leitor, com a derrota do comunismo a social-democracia deixou de ser útil e a economia de mercado não tem agora que provar o que quer que seja a ninguém. Para a minha mulher-a-dias partir a espinha à classe média é fazer o mesmo à economia. A produção necessita da procura, óbvio. Países desenvolvidos ou de médio desenvolvimento não deveriam permitir salários e pensões de pobreza (questão política).
A "ciência" económica jura que os salários são função da produtividade. Com isto procura-se renumerar com salários de pobreza, de mera sobrevivência, muitas profissões, mesmo que lidem com máquinas. É a exploração da pobreza. Nos EUA houve uma diminuição do salário mínimo e do poder de compra desde meados dos anos 70, apesar do aumento constante da produtividade (robótica, informática, etc.). A evidência empírica não mostra uma relação automática entre salário e produtividade e isto mesmo ao nível dos quadros superiores. Neste momento existem licenciados a ganhar migalhas. Há executivos que se renumeram astronomicamente, à revelia dos acionistas. Quem tem privilégios ilegítimos começa aos gritos quando tentam tocar-lhes. A moderação salarial é só para uns. Os outros têm de ser bem pagos pelo seu imenso mérito e por vezes o limite é o céu. Existem dois pesos e duas medidas. Enfim, tudo é passível de justificação.
Na Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX), apesar do aumento exponencial da produtividade, os salários e as condições de trabalho eram simplesmente horríveis. Mas muitos economistas parecem desconhecer isto. Cultura geral? O que é? Já agora, essa da exploração laboral é uma invenção?
O saber reformula-se constantemente. As verdades dominantes que se julgam eternas e absolutas sucedem-se umas às outras ao longo da história. Bastantes são idiotas aos olhos de hoje, como a ideia da origem divina do poder dos reis, a existência de raças inferiores e a ideia de a mulher ser menos inteligente do que o homem ou valer metade deste.
Para a minha mulher-a-dias muitos dos postulados do discurso económico dominante atual são de ordem cultural e não científicos. É o caso do conceito de "liberdade económica", é o caso do significado restrito e não inocente dado aos conceitos de "eficiência" e "racionalidade económica", ou a salganhada do conceito de "produção de riqueza" (por exemplo, a comida hipercalórica no longo prazo prejudica a saúde do consumidor). Nem tudo o que vem à rede é peixe. Isto do cálculo económico tem que se lhe diga.
A despropósito, fizemos este texto, pois acreditamos no valor das ideias, mesmo que sejam tolices. Esta prosa é igualmente dedicada às boas-consciências bem pensantes que, por exemplo, aceitam a pobreza para os outros (violência simbólica), para quem verdadeiramente o mundo começa e acaba no seu umbigo e dormem sempre o sono dos inocentes.
Disparámos em muitas direções (talvez tenhamos acertado em alguma coisa). Isto e o primarismo dos nossos argumentos permitiu testar a paciência de chinês dos leitores.
A apresentação foi simples, despojada, pois o importante é o ser e não o parecer. A forma e a erudição jamais devem passar à frente do conteúdo, como acontece tão frequentemente (formalismo intelectual). Por exemplo, a sofisticação e coerência interna não bastam para validar uma teoria, como a "Teoria do Equilíbrio Geral" em Economia. Toda a teoria tem de superar a prova da realidade, repete-se.
Só sei que nada sei, desabafava a minha avó. Temos de ser humildes. A realidade é extraordinariamente complexa, teimosa, não tenhamos ilusões. Se as coisas fossem simples já há muito a humanidade tinha resolvido os seus problemas. Temos tendência para conseguir ver apenas a árvore e não a floresta, para ter uma compreensão limitada da realidade. Por isso não somos donos da verdade. Além do mais estamos aqui para botar parvoíces, andamos noutra onda, como referimos. No fundo, não pretendemos contribuir para revolucionar o modo como vemos o mundo (lançar uma nova luz) e mudá-lo. Nada de desígnios elevados, a história não nos dará razão.
Pedimos desculpa por eventuais gralhas. O nosso revisor, tal como nós, possui parcas capacidades. Quem não tem cão caça com gato. Que isto não seja motivo de discriminação social. Qualquer um tem direito a fazer ouvir a sua voz, ou não? Por curiosidade, o Parlamento e os partidos tendem a fazer uma seleção social e de género. Por exemplo, tem havido poucas deputadas ou trabalhadores deputados. Outra achega, a maioria dos hóspedes das prisões pertence às classes baixas. Existe uma justiça de classe, segundo a minha mulher-a-dias.
Mas chega de verbosidade. Relendo o texto, vejo que não tem grande piada. Talvez as coisas um dia melhorem. A esperança é a última a morrer. Se sofre de atrite reumatóide e o seu tempo é precioso, não o devia ter desperdiçado com esta escrita atabalhoada, fruto de alguém com parcas capacidades intelectuais em declínio acentuado, nunca é demais repetir.
Só mais uma coisa, a minha mulher-a-dias, a propósito de tudo e de nada, afirma que em Cuba não existe democracia política e em Portugal, democracia económica. Também ela não compreende por que a democracia económica não há de ser tão importante como a democracia política. Há coisas que pisam a mais elementar lógica, insiste-se. Não é inocente que a palavra democracia subentenda apenas a democracia política. Defende igualmente que o ser humano tem uma racionalidade limitada e aponta-me como um bom exemplo disso.
A minha vizinha da frente, que é muçulmana, também acha que se somos espertos, então façamos uma Nação de sucesso, de excelência, onde se acabe com a pobreza e todos tenham qualidade de vida (ideia piedosa). Haja talento e sabedoria. Alguém disse que há que estar à altura da situação. Trata-se de uma questão de inteligência coletiva, de audácia e coragem intelectual.
Para o Nobel Samuelson o crescimento pelo crescimento é o das células cancerígenas, como se referiu. A minha mulher-a-dias também pensa que o paradigma do crescimento económico, do mais do mesmo (lógica linear) devia dar lugar ao de desenvolvimento, um paradigma que permite pensar para além da pura mecânica económica (lógica não-linear, com mudanças qualitativas). Acha que uma pessoa com qualidade de vida é mais produtiva do que uma que seja pobre, apesar de haver quem não ligue a isso, como referimos. O trabalho "escravo" é pouco eficiente, para que se saiba. O modelo dos salários baixos é uma porta direta para o subdesenvolvimento. Oxalá o País não faça esta escolha.
O Nobel da Economia Fogel apontava para a racionalidade económica do dono de escravos, para que a sua plantação possa ter lucro. Temos aqui uma falácia lógica. Não se pode separar a racionalidade económica do aspeto humano.
Do mesmo modo um modelo que assenta nos salários de pobreza não serve a pessoa, não é racional e eficiente, mesmo em termos económicos. É o que acontece com a atual globalização, que está a minar o Estado Social e só não vê isto quem não quer, segundo a minha mulher-a-dias.
A globalização é branqueada com a Teoria das Vantagens Comparativas: cada país especializa-se naquilo que sabe fazer melhor. O que acontece é que há países que se especializam a fazer produtos com mão-de-obra paga miseravelmente. A realidade não é tão idílica como a pintam. Na verdade, a globalização funciona como um offshore industrial, em que se faz aquilo que não devia ser permitido.
Como se disse, não existe sustentabilidade económica sem a ambiental e esta, sem se resolver a questão social da pobreza. O modelo de produção e consumo vai ter de sofrer uma reconversão, uma desalavancagem com destruição de valor. A minha mulher-a-dias acredita, como referimos, que a humanidade caminha para o suicídio com o aquecimento global, tal como os habitantes da Ilha de Páscoa, que esgotaram o seu ecossistema com o corte em massa de árvores. Os torpedos vêm a caminho.
Também para a minha mulher-a-dias, neste momento estamos a produzir PIB negativo à grande e à francesa, mas ninguém quer saber disso. É o domínio do virtual, da ficção que se substitui à realidade. Não sei se já se disse que o ser humano por vezes é como as ovelhas que vão pacificamente para o matadouro. Isto das elites tem muito, mas muito que se lhe diga. Muitas vezes elas tratam é de si e da saúde dos outros. Provavelmente não vão estar à altura. Uma humanidade dividida não vai longe, pois os problemas são globais. Estamos todos no mesmo barco furado.
O ser humano tem direito a um ambiente não contaminado. Por exemplo, na Europa, também todos os anos, a poluição do ar mata largas dezenas de milhares de pessoas, o que não provoca manifestações por esse Continente fora. Os fatores culturais explicam que se ignore o que é grave. A prazo a Terra vai tornar-se numa lixeira química. A acidez dos oceanos está a aumentar devido ao CO2.
Neste momento acontece uma extinção em massa de espécies vivas provocada... pelo homem, mas ninguém parece preocupado. A explosão demográfica não está controlada. Atualmente somos já 7 mil milhões de pessoas. A pressão sobre o ambiente e os recursos naturais é enorme. O preço das matérias-primas vai subir, com efeitos recessivos nos países compradores.
O Mundo vai de sucesso em sucesso até ao possível estouro final. Espanta que economistas inteligentes, não sejam capazes de uma mudança conceptual, não vejam esta evidência que entra pelos olhos (nem é preciso parar para pensar) e teimem em raciocinar segundo um modelo ineficiente e medíocre, que pode ser uma fuga para a frente suicida, no sentido literal do termo. É como acertar ao lado do alvo, deliberadamente. Há que ter um pensamento dialético e não fossilizado. O cérebro humano tem a obrigação de não cometer erros grosseiros e ter juízo.
Existem limites para o crescimento, insiste-se. Pode-se falar muito em crescimento económico e ainda assim não consegui-lo, pois há limites objetivos, que não só ambientais. O crescimento na Europa será pequeno nos anos mais próximos, senão mesmo negativo em termos reais.
O conceito de desenvolvimento obriga a avaliar qualitativamente o PIB. O que, como e para quem produzir (Samuelson). Não há maneira de fugir a isto. O PIB foi feito à custa de danos ambientais? De condições de trabalho deploráveis, que ninguém deseja para os seus filhos? O dinheiro sujo não tem cheiro. Existe uma imensa cegueira moral. Ética económica? Exploração do homem pelo homem? Rigor intelectual? O que é isso? Alguém disse que lá por um canibal usar garfo e faca não deixa de o ser. Isto da "produção de riqueza" tem muito que se lhe diga, insiste-se. A maximização do lucro, de que falam os teóricos, choca com a responsabilidade social. Um Nobel da Economia defendeu cinicamente que a responsabilidade social de uma empresa era dar lucro.
Economistas eminentes como Martin Wolf defendem o trabalho infantil da globalização dizendo que a alternativa à fábrica não é a escola. Também antigamente foram dadas mil uma razões para justificar a escravatura. A economia e a violência andaram sempre de mãos dadas ao longo dos séculos.
Como se referiu, hoje considera-se a pobreza tão natural como a água da chuva. O mesmo acontecia com a escravatura no passado.
A economia tem de estar ao serviço do ser humano e não o contrário. A economia sem direitos humanos não pode dar bom resultado. Pode um país ter plantações de banana, petróleo e outros recursos e essas riquezas passarem ao lado das populações, que vivem na indigência. O mundo do dinheiro e dos negócios voa por cima do mundo das pessoas. Existe quem confunda negócios com economia.
Não se deve meter à força a realidade dentro de uma teoria insuficiente, que se tornou obsoleta. Como já se referiu, o modelo do crescimento económico está esgotado, claríssimo como a água. No entanto este anacronismo, que goza com a inteligência de uma pessoa, é defendido na Europa. O rei vai nu. Não tenhamos ilusões, quando existem interesses em jogo a verdade objetiva e a análise técnica são facilmente ignoradas, mesmo por mentes brilhantes, que teimam só a enxergar o que a sua teoria lhes mostra. Já Einstein dizia que a teoria determina aquilo que se vai ver e fica-se cego para o resto, acrescentamos nós.
O saber tem de validar-se permanentemente. O saber económico não pode andar em circuito-fechado. Tem de abrir-se a outras áreas do conhecimento, a outras dimensões da realidade. A partir de certo ponto, acréscimos do PIB não levam ao aumento da qualidade de vida. Bastantes economistas desconhecem pura e simplesmente isto, nem estão interessados em sabê-lo, pois seria pôr em causa a sua teoria.
A minha mulher-a-dias, é de opinião que o paradigma "ingénuo" do crescimento económico (pensamento convencional e reducionismo claro) representa uma resposta disfuncional à questão da qualidade de vida. Vai ser como saltar da frigideira para o fogo, literalmente. Há que fazer uma análise mais fina da realidade, pese o facto de haver quem não goste de subtilezas. O desenvolvimento é uma questão política e não meramente económica. Um país pode ser vítima das suas ideias dominantes, da sua cultura. Precisará então de desatar o nó.
A economia não faz sentido se não produzir qualidade de vida, o que nem sempre acontece, e o liberalismo económico (capitalismo puro e duro) conduz ao recuo do desenvolvimento, a uma involução histórica, civilizacional, o que está a acontecer paulatinamente neste momento à frente dos olho, se é que estamos a ver bem.
O meu vizinho Boavida é a favor da insegurança social, do desmantelamento faseado do Estado Social, em geral e do Serviço Nacional de Saúde, em particular. Quem quer educação, justiça e saúde que as pague. Já agora, aproveito para lembrar aqueles cidadãos americanos que todos os anos se suicidam por não conseguirem pagar as despesas médicas. Paz às suas almas. Igualmente quero referir os milhões de sem-abrigos da Europa rica e civilizada.
Quando o dinheiro vem primeiro do que as pessoas, é a medida de todas as coisas, está tudo estragado. O meu cão achava que aquele que só vê o dinheiro é um ser unidimensional. Pensava que o vil metal é o grande corruptor. Veja-se a porta giratória entre os políticos e os grandes interesses económicos (promiscuidade e conflito de interesses). Existem políticos que são financiados pelo poder económico (corrupção indireta). Há uma captura do Estado por interesses particulares, o que subverte a democracia e prejudica claramente o interesse geral. Por isso em Portugal o futuro não se apresenta luminoso.
A desonestidade não tem problemas de consciência. A política é a continuação da economia por outros meios, dizem. Igualmente não é sustentável haver salários e reformas de luxo na função pública. Não há impostos que cheguem para demasiadas mordomias. Existem situações que não são mais do que um desfalque legal aos dinheiros do Estado, como as antigas pensões vitalícias dos políticos, ao fim de oito anos de atividade. Um conhecido meu colecionou várias pensões douradas.
A minha prima Alzira sonha com o dia em que os mercados estarão acima da democracia, como um deus. O poder económico baterá o pé ao poder político e não o contrário. Então a democracia e a soberania estarão esvaziadas, atadas. A política será quase como uma corrida de cavalos, em que se vê apenas quem ganha e quem perde. O meu cão Tobias defendia que não é aceitável que um país não tenha soberania, não possa escolher o seu futuro, tal como uma pessoa.
A qualidade do pensamento está ligada à qualidade dos conceitos culturais e tecnocientíficos que se usam. Por exemplo, se se aceitar a pobreza para os outros (violência simbólica, como se disse) ela jamais acabará, por obra do puro jogo económico. Se se usarem conceitos errados, como "competitividade fiscal e salarial" (corrida para o fundo) não se vai longe. Trata-se de uma falsa competitividade, óbvio. Há quem mande o rigor intelectual para o lixo. Certo dia a minha mulher-a-dias passou-se quando ouviu um doutorado em Economia falar em competitividade fiscal.
Também o conceito de "eficiência" tem muito que se lhe diga. Há que ter cuidado com os truques semânticos. Uma empresa de material eletrónico cujos trabalhadores ficam inválidos devido a tendinites e são despedidos não pode ser eficiente. Um Prémio Nobel chamou "tolo racional" ao conceito de "homem económico racional" necessariamente egoísta. Alguns economistas preferem virar a cabeça para o lado, vivem em estado de negação.
O nosso leitor Alípio Santos diz que a artilharia não deve visar um alvo demasiado alto. Assim essa de criar um Mundo sem pobreza e onde todos seremos felizes para sempre é uma palermice. É bom que nos concentremos em coisas palpáveis, em objetivos mais limitados, como a produtividade e a competitividade (postura tecnocrática), senão passaremos mal. Se os sem-abrigo, desempregados e reformados pobres não gostam do paraíso da economia de mercado, experimentem viver num paraíso comunista, como a Coreia do Norte ou Cuba. Acha que o nosso texto é um amontoado indigente de lugares-comuns, de generalidades, sem validade científica.
A minha mulher-a-dias também defende que os interesses funcionam como chaves cognitivas e que isto da validação e aceitação do saber não é cristalino. Desafia qualquer um a provar o contrário. As coisas não são tão claras como parecem, insiste-se. A mente humana é retorcida, capaz dos maiores malabarismos, em que o rigor e a honestidade intelectual são frequentemente enterrados e por vezes de uma forma muito subtil.
Ainda a despropósito, o nosso leitor João Semedo, que se afirma um reacionário incurável e ao mesmo tempo uma pessoa de mente aberta e espírito generoso, adora os paraísos fiscais. Reconhece que estes lugares de batota legal, que o poder político recusa acabar, são um local de refúgio para a evasão fiscal em larga escala e atividades criminosas. Houve ou há países e veneráveis instituições financeiras que lavam ou lavaram mais branco o dinheiro sujo. A economia legal e ilegal interpenetram-se. Uma mão tapa a outra. Defende que os trabalhadores devem ser carne-para-canhão. Dá como exemplo os mineiros do volfrâmio em Portugal, que durante anos foram mero gado de trabalho e morriam ao fim de alguns anos de atividade. Igualmente a vida não era risonha para os trabalhadores dos latifúndios alentejanos, é bom lembrar. É a favor de uma estratégia de tensão laboral (luta de classes ao contrário), mas sem chegar aos extremos do que aconteceu há poucos anos na France Telecom, em que vários trabalhadores se suicidaram. Lembra que a "ciência" económica considera os sindicatos uma fonte de concorrência imperfeita (Samuelson), como se houvesse economia pura. São tolerados porque se vive em democracia, senão outro galo cantaria, seriam tratados à martelada.
Para a minha mulher-a-dias essa da "concorrência perfeita" remete para a "Teoria do Equilíbrio Geral", o maior sexo dos anjos da "ciência" económica e que já valeu alguns Prémios Nobel da Economia. Alguém perguntou para que servia a "Teoria do Equilíbrio Geral". Já agora, houve um tempo em que a atribuição dos Prémios Nobel era fruto de pressões políticas. A batota vai até aos sítios mais insuspeitos. A ocasião faz o ladrão. Veja-se também o caso das traquinices da banca do Vaticano (falência do Banco Ambrosiano, ligado à lavagem de dinheiro). Quase que não dá para acreditar.
A leitora Maria Santos, que se considera uma egocêntrica pura, diz-nos que só se dá com pessoas interessantes. Não gosta de pobretanas. Também não sabe o que é isso de racismo social.
Só mais uma coisa, Portugal tem centenas de milhares de alcoólicos e bebedores excessivos e cerca de 3 milhões de diabéticos e pré-diabéticos, coisa pouca. 30% das crianças têm excesso de peso. Por que não se fala nisto e tal não faz parte da agenda política? Por que se deixou que as coisas chegassem a este ponto? Alguém já fez as contas aos custos económicos desta situação? Não há serviço nacional de saúde que resista se não houver uma política de prevenção da mesma.
Contrariamente ao que aconteceu com o tabaco, vai ser muito difícil acabar com a publicidade às bebidas alcoólicas, como sucede na Suécia. Existem muitos interesses e postos de trabalho em jogo. Igualmente nos Estados Unidos tem sido árduo implementar o controlo da venda de armas de fogo. Estas são ou foram a principal causa de morte entre os adolescentes americanos. Promover uma gastronomia não saudável é como dar um tiro no pé. Isso da "produção de riqueza" tem que se lhe diga, como já se referiu. Nem tudo o que dá lucro é ouro.
Última hora: O primeiro-ministro enviou-nos um email, onde se mostra sensibilizado com a nossa prosa. Diz que vai mandar fotocopiá-la imediatamente para a dar aos seus queridos ministros. Isto mostra que as nossas baboseiras não tropeçaram em saco roto. Já desesperávamos.
Outra última hora: O Presidente da República escreveu-nos a dizer que todos os dias, antes de se deitar, lê algumas páginas do nosso texto para buscar inspiração. Aqui não conseguimos impedir que a emoção pejasse os nossos olhos de lágrimas. Foi demais.
A minha mulher-a-dias, raciocinando em termos mais abstratos, defende que se o ser humano é incapaz de fazer um Planeta com qualidade de vida (apesar da ciência e da técnica), tal deve-se a uma deficiente qualidade da informação que usa, evidente. A informação relevante não é produzida ou tida em consideração. Ela, que gosta de usar palavras caras, defende que o direito à qualidade de vida é seminal e deverá constituir a base do paradigma social, coisa que até um parvo como eu entende.
E por aqui me fico, pois já estou exaurido.